(charge feita às pressas: não me excomunguem ou digam que estou "possuído")
Houve um tempo que minha caixa de entrada do e-mail era inundada por slides de power point com lindas mensagens otimistas com um fundo musical do Kenny G, fotos de mulé pelada fazendo coisas que nem vendo se acredita e diversas piadas politicamente incorretas. Hoje, no entanto, tenho até medo de acessar o e-mail e deparar com a baixaria do segundo turno das eleições em nosso Brasil de amor eterno e paz no futuro.
Faço até um apelo aos meus amigos e spammers que voltem a enviar piadas, mulheres nuas em poses ginecológicas, mensagens de Chico Xavier, o que for, mas chega desses e-mails com “Dilma satanista”, “Mônica Serra fez aborto”, “Dilma assassina”, “Serra Nazista” e outros tantos com o mesmo teor. Esse tipo de “verdade” não vai determinar meu voto em A, B ou N de “nulo”. O que iria determinar a minha escolha, isso sim, seriam as propostas sérias e plenamente realizáveis para o país. E são estas que fazem falta neste pleito eleitoral.
Em um de seus raros momentos felizes, a colunista Eliane Cantânhede, da Folha de S.Paulo, referiu-se a estas eleições como uma espécie de Fla x Flu. E olha que isso foi escrito ainda no primeiro turno, porque agora, no segundo turno, a coisa toda chegou aos altares, aos templos, aos padres e pastores que pelo visto tem saudades da idade média. Sim, a eleição para presidente do Brasil pode ser decidida graças à religião. E você aí achando que só o Irã e aqueles países do Oriente Médio são intolerantes e fanáticos que pautam suas ações em um livro sagrado.
Já havia um direcionamento. Na propaganda política era muito comum ouvir candidatos a deputado estadual e federal utilizarem o “eu sou cristão” para angariar votos. O segundo turno começou com a questão do aborto sob o viés religioso e a partir daí entraram na parada padres, pastores e fiéis de várias denominações com panfletagem, espaço na TV, missas, cultos e etc. Até mesmo setores da direita radical e ligados à religião (mais propriamente à Igreja Católica) reapareceram de forma até surpreendente para quem prefere ficar nos "bastidores".
Muitos padres deveriam se preocupar mais com o que acontece nas sacristias, nos seminários e conventos católicos, enquanto vários pastores deveriam explicar melhor de que forma conseguem juntar tantos tesouros na terra. Dois assuntos bons para discutirem: fim do celibato e fim da imunidade de qualquer imposto sobre a renda e patrimônio das igrejas – o que inclui aí os dízimos e ofertas.
A história está aí para mostrar: igreja se metendo em negócios do Estado nunca deu muito certo. Dizem até que o Estado é laico, mas peguei uma nota de dé real ( a que restou para passar o mês) e lá pode-se ler "Deus seja louvado". Eu trocaria para "Que Deus nos ajude".
O PAPEL DA IMPRENSADia desses o (considerado) novo guru, filósofo e analista político da internet, Marcelo Tas, publicou em seu twitter:
“candidato a presidente que reclama da mídia é como jogador da seleção que reclama da bola, né não?” 
Considero Marcelo Tas um excelente comunicador, muito inteligente e criativo, mas foi bastante infeliz nesta afirmação – e vejam que se trata de uma pessoa que vira e mexe está em alguma palestra falando do papel das novas tecnologias da informação e comunicação também no jornalismo.
Só mesmo muito ingênuo (ou achar que os outros são ingênuos) para não acreditar que a imprensa – e mídia neste novo cenário tecnológico – não influencia de alguma forma os resultados de uma eleição. A própria veiculação das famosas “pesquisas eleitorais” nas TV, jornais e revistas é um bom exemplo: como o brasileiro, em boa parte, vale-se muito pela emoção em tudo o que faz, o pleito eleitoral é tratado como uma partida de futebol. “Não voto no candidato X porque ele vai perder, tá mal nas pesquisas. Vou perder meu voto”. Certamente você já ouviu algo parecido.
Poderia citar aqui tantos outros exemplos de como a imprensa e esta nova mídia interferiram no resultado de uma eleição e nos rumos políticos do Brasil, mas não vem ao caso neste momento. A questão que fica é a seguinte: imprensa e jornalistas podem tomar partido e usar seus poderosos veículos de difusão da informação em prol de um grupo político ou candidato(a)?
Neste caso me lembro das conversas que tive com o amigo e jornalista
Renan Barreto. Essas publicações e canais que fazem parte da “grande imprensa” são empresas também. E como toda empresa, tem seus interesses. Uma editora que publica revista semana também fornece livros paradidáticos para escolas públicas, apenas para exemplificar. Logo, estes jornalistas e colunistas são empregados da empresa, que traça uma linha de conduta e deve ser seguida. É falta de ética e vai contra os princípios de suposta imparcialidade que deveria existir na imprensa? Tudo isso e muito mais, só que é como a molecada diz: “o sistema é bruto e injusto, mano”.
E quem deveria resgatar e questionar todo esse sistema? Eu, você, todos os usuários da internet, que rompeu com velhos modelos, padrões e paradigmas de informação. Quem esperava que o twitter, apenas para citar esta ferramenta, desempenhasse o mesmo papel visto nas eleições dos EUA pode ter caído do cavalo, ou da baleia. Sim, aqui no Brasil o uso é bem maior - o brasileiro é fanático por redes sociais - mas para qual finalidade? Pelo o que se vê, quem acessa o microblog já tem suas posições políticas bem definidas. Sim, houve a “Onda Verde”, mas não conseguiu levar sua candidata ao segundo turno e nem superar o impressionante número de abstenções (mais de
24 milhões de eleitores) no primeiro turno. Lá, nos EUA, é bom lembrar, o voto não é obrigatório e o papel decisivo do twitter foi justamente mobilizar sobretudo jovens ao comparecimento às urnas. Deu certo. E aqui, no feriadão que cai justamente no dia da eleição, dará certo? Qual o papel do twitter e da internet nestas eleições brasileiras? Lembrando que a internet é a ferramenta, quem a utiliza é um ser humano. A não ser que o seu papagaio...
Continuamos como Star Wars: RT em quem é “do bem”, unfollow em quem é “do mal”. Confesso que não é fácil, diante do turbilhão de informações, não se deixar levar por momentos de empolgação no twitter quanto às preferências por candidato A ou B – e eu mesmo me deixei levar por alguns destes momentos, faço aqui o mea culpa.
O fato positivo, se é que podemos chamá-lo assim, é que finalmente muitos colunistas e jornalistas “mostraram a cara” para valer. Esses não enganam mais, independente de seguirem a "ordens da empresa" ou não - mas a julgar o empenho em defender A ou B, nem precisavam da ordem.
MEU POSICIONAMENTO E UM OU DOIS PITACOS
Há dois anos escrevi isso sobre José Serra:
“Serra pode ser uma liderança regional mas falta muito para se tornar relevante a nível nacional”. E continuo achando a mesma coisa, apesar do segundo turno. Não gosto do modo que ele governa (vide SP) e tampouco das ideias que defende e do modelo de governo que ele propõe (vide PSDB/DEM).
Também tenho sérias, seriíssimas restrições ao PT. E isso piorou ao sentir na pele o péssimo desempenho do governador Jacques Wagner aqui na Bahia em relação à área da educação. E Dilma Rousseff está muito, muito distante de ser a candidata dos meus sonhos.
Mas Serra, definitivamente, não tem meu voto. Além de suas propostas que eu julgo demagógicas ( 400 km de metrô por todo o Brasil e dois professores em sala de aula, dentre outras), duas afirmações do candidato me chamaram a atenção: 1) quer construir
um governo acima dos partidos – e Aécio Neves teve que “apagar o foco de incêndio” e 2)
paz no campo sem o MST.
Se estamos em um país - ao menos no papel - democrático e que elege seus representantes através do voto direto, um presidente deve respeitar isso, como deve respeitar também a existência do MST. Que tenhamos nossas divergências com os métodos utilizados pelo movimento dos sem-terra, mas deixar nas entrelinhas que basta exterminar o MST para se chegar à paz no campo é tão ingênuo quanto mentiroso. Ou será que o candidato esqueceu dos inúmeros casos de conflitos envolvendo grilagem de terra, pistolagem, trabalho escravo, extermínio de índios e reservas ambientais pelos campos do Brasil e do papel da
bancada ruralista ao defender certos interesses que vão contra a reforma agrária?
Isso não significa, entretanto, que meu voto já é da candidata Dilma. Ainda tenho a opção – legítima – do nulo/branco. Ainda estou decidindo e não gostaria que meu voto fosse algo do tipo “de todos os males, o menor”.
A verdade é que, parafraseando o presidente Lula ( nele eu votaria, por mais contraditório e estranho que possa parecer, mas é assunto para outra ocasião), “nunca na história deste país” tivemos uma eleição presidencial com candidatos tão inexpressivos e com tanta sujeira e baixo nível como esta.
Siga-me no twitter:
www.twitter.com/jaimeguimaraess