O futebol brasileiro ainda tem jeito?

 

O futebol brasileiro ainda tem jeito?

Em 08 de julho de 2014 a seleçãobrasileira de futebol sofria a sua mais humilhante derrota da história: o famoso 7 x 1 para a Alemanha, na Copa do Mundo disputada no Brasil. A seleção alemã sagrou-se campeã do torneio, sendo a Argentina vice e a Holanda em terceiro lugar após aplicar 3 x 0 em uma seleção brasileira destroçada.

Dez anos se passaram. Na Copa América de 2024, disputada nos EUA, a seleção brasileira é eliminada pelo Uruguai após apresentações pífias e que em nada lembram o futebol que consagrou a camisa amarelinha no mundo todo. Nas redes sociais, mesas redondas nas emissoras de TV e canais de vídeo, além de rádios e podcasts, todos se perguntam o que aconteceu com o futebol brasileiro.

Inúmeras opiniões surgem, desde as apocalípticas que tratam do fim do futebol brasileiro às mais ponderadas falando sobre a crise de organização e estrutura da entidade que comanda o esporte mais adorado e praticado no país, a CBF. Neste balaio de achismos e análises, temos algumas pistas e respostas.

Mudou o futebol ou ficamos na mesma?  

Quando a seleção brasileira tomou o 7 x 1 da Alemanha, havia um coro uníssono no país de que as coisas deveriam mudar no futebol brasileiro. Inúmeras reportagens na imprensa esportiva destacavam a seriedade, organização e eficiência alemã desde suas categorias de base até os treinamentos e isso, segundo os especialistas, deveria ser tomado como modelo para o Brasil.

A verdade é que 10 anos se passaram e o futebol brasileiro continua em sua mesmice. As novidades neste período se resumem à adoção por alguns clubes ao modelo SAF (Sociedades Anônimas do Futebol, uma espécie de “clube empresa” com investidores fortes e endinheirados) e também aos técnicos estrangeiros que foram muito bem-sucedidos nos clubes, como os portugueses Jorge Jesus (Flamengo), Abel Ferreira (Palmeiras), os argentinos Jorge Sampaoli (Santos) e Juan Pablo Vojvoda (Fortaleza). Por isso, há um clamor de muita gente para que o novo técnico da seleção brasileira seja um estrangeiro.

Será que um treinador de fora traria mudanças significativas para a seleção? Os nomes citados anteriormente tiveram sucesso em clubes com gestão organizada, com exceção do Santos que é uma bagunça administrativa e pagou o preço por isso. O nome sondado pela CBF para assumir a seleção brasileira era o do multi-campeão pelo Real Madrid, Carlo Ancelotti, mas este nunca demonstrou grande entusiasmo para deixar seu trabalho consolidado num clube forte, eficiente e com recursos. Não é fácil trabalhar na árdua reconstrução de uma seleção pressionada por não conquistar uma Copa do Mundo há mais de 20 anos, está com o prestígio abalado e a entidade que comanda o esporte no país simplesmente não se importa com o presente e o futuro da modalidade.

O atual jogador brasileiro e o distanciamento da torcida

Muito se fala da crise de geração dos jogadores brasileiros. Há quem crie um neologismo baseado no jogador Neymar, a chamada “neymarização”. De fato, fora de campo o craque é uma estrela midiática de comportamento imaturo, narcisista e mimado. Isso, contudo, é muito mais o reflexo de uma geração que cresceu sob a lógica individualista e egocêntrica das redes sociais e não é difícil encontrar pessoas com 30 e poucos anos com a mesma personalidade de Neymar.

Dentro de campo, no entanto, Neymar é o último jogador brasileiro fora de série, que remete a craques como Ronaldinho Gaúcho, Djalminha, Dener e Garrincha: dribles, gols, lances mágicos e provocação aos zagueiros brucutus cintura dura. Essa é a essência do futebol brasileiro que está sendo podada para que os jogadores sejam “disciplinados” rumo ao mercado europeu. Mal criam vínculo com os clubes brasileiros e suas torcidas, pois saem muito cedo daqui. As duas maiores promessas do futebol brasileiro nesta década, os jovens Endrick e Estevão, de 18 e 17 anos, já estão de malas prontas para a Europa.  

Além disso, o futebol brasileiro passa pela elitização do esporte. As modernas “arenas” em que os estádios foram transformados elevaram os preços dos ingressos e quem quiser assistir aos jogos do seu time do coração precisa recorrer à assinatura de canais pagos, com exceção de dois ou três times com partidas constantemente exibidas pela TV aberta. Aliás, qualquer camisa oficial de time brasileiro da série A custa uma verdadeira fábula em um país cujo salário mínimo é pouco mais de R$ 1.400,00.

Todos esses fatores contribuem para afastar o povão dos estádios, distanciar a relação com os jogadores e com a seleção brasileira. A CBF, que deveria cuidar dessas questões, está mais preocupada com seus lucros: ano passado a entidade faturou mais de R$ 1 bilhão, um recorde na história da confederação. Ou seja, está tudo correndo muito bem na CBF e não teremos mudanças à vista.

E assim ao torcedor brasileiro só resta relembrar o passado glorioso e esperar que algum jovem jogador encarne o ideal de “salvador da pátria de chuteiras”, tal como um dia tentaram fazer com Neymar e agora a bola da vez cairá sobre os ombros e pés de Vini Júnior e Endrick.  É muito pouco para um país que já foi conhecido e louvado como “o país do futebol”.

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Um comentário:

  1. Uma análise muito certeira, Jaime!
    Eu até iria acrescentar algo, mas colocastes muito bem as causas do futebol que um dia nos trouxe tanta alegria e encantamento estar como está.
    Boa semana!!!

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