Uma das cenas mais surreais e fascinantes da história do
cinema pode ser vista no filme Super-Homem, com Christopher Reeve no final dos
anos 70: inconformado ao ver Lois Lane soterrada após um terremoto, o homem de
aço voa ao redor da Terra em sentido anti-horário e simplesmente muda a rotação do planeta (!). Com isso, o
tempo “voltou para trás” e assim ele conseguiu salvar sua amada.
Às vezes penso que estamos neste movimento “de volta ao
passado” quando deparo com algumas teorias que caberiam bem à Idade Média ou tempos anteriores. É até engraçado
ler as teorias conspiratórias sobre a chegada (ou não) do homem à Lua, mas
quando leio em pleno ano de 2017 algumas teses (sic) sobre “a Terra é plana” defendidas
e compartilhadas por muita gente (entenda que é muita gente MESMO: joguem no
Google o termo “flat Earth” ou “Terra plana” e vejam a quantidade de
resultados), a coisa perde a graça.
Perde a graça porque se há quem acredite em uma teoria
refutada há séculos e com todo embasamento científico, o que impede que grupos e
pessoas acreditem também em outras ideias ultrapassadas, absurdas e
inverossímeis? Ainda hoje encontramos por aí quem utilize como "argumentação" conceitos oriundos do racismo científico que eram muito comuns no século XIX e parte do século
XX. E o que dizer do “movimento antivacina”? Outrora sustentado por adeptos de teorias conspiratórias
envolvendo a indústria farmacêutica, hoje encontra apoio de muitos pais que
recusam vacinar seus filhos por medo de efeitos colaterais nas crianças – experimentem
uma pesquisa rápida no Google sobre “autismo e vacinação” e vejam os
resultados. Vocês encontrarão de tudo, até uma celebração (!) chamada “Festa da
catapora”. Impossível não lembrar da Revolta da Vacina ocorrida em 1904 no Rio
de Janeiro.
E isso é só um pequenino exemplo do que encontramos por aí.
O que preocupa é que tais ideias são compartilhadas e ostentadas com orgulho
pela internet, sobretudo nas redes sociais.
Neste ponto Umberto Eco estava correto quando falou em “idiotas da aldeia” que ganharam voz, embora Aldous Huxley também chamasse a atenção lá nos
longínquos anos 1930 para os esnobismos (crescentes) da ignorância. Não é algo novo, no entanto é mais rápido e tem maior
alcance: algumas dessas teorias espalham com velocidade impressionante (tão
rápidas quanto o Superman) e encontram adeptos dispostos a darem créditos a
elas, mesmo com toda a informação científica e acadêmica disponível na palma da
mão, literalmente.
Fica a sensação de que se o Super-Homem fosse real talvez
ele desprezasse a ordem de seu pai Jor-El (“é proibido interferir na História humana”) e faria voltas com maior tempo de duração ao redor do planeta,
voltando uns 4 milhões de anos. A humanidade poderia recomeçar e assim fazer as
coisas direito.
O tempo evoluiu, a sociedade em boa parte também evoluiu em termos de tecnologia e ciência (entre outros aspectos) mas isso não significa que nós evoluímos na mesma proporção. É muito comum a gente lê textos antigos e pensar: "isso ainda se aplica atualmente", não é mesmo? O ser humano e seu apego às imperfeições. Belo texto! Beijos e um ótimo feriado.
ResponderExcluirParece mesmo inacreditável, não é, Aline? Certas mentalidades permanecem iguais independente que estejamos no século XXI ou de alguém no século XV. Muito grato! Bjs!
ExcluirConcordo com a Aline, parece que nossa espécie não é capaz de acompanhar a rapidez com que a ciência evolui.
ResponderExcluirE nem é tão difícil, Mari, ao menos em tese...
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