A idade apodera-se de nós de surpresa

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Clássico adj.Relativo à antiguidade greco-latina; modelo em belas-letras; correto, habitual; famoso.

Este termo – clássico – sempre me remeteu a fatos e obras relacionadas à antiguidade e que, de alguma forma, atravessaram gerações sobrevivendo intactos aos modismos e tentativas de “adaptações para os tempos modernos”.Justificar
Talvez por isso sempre me recordo justamente dos clássicos da literatura, de títulos como “Othelo”, “Dom Quixote”, “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e tantos outros; até no futebol temos a denominação “clássico” para jogos como Flamengo x Fluminense - o famoso “Fla-Flu” -, Santos x Palmeiras, Bahia x Vitória – Ba-Vi” e etc.

E na música, quando se fala em “clássico” logo me lembro de Mozart, Wagner, Vivaldi...e no caso do rock, é Rolling Stones, Doors, Pink Floyd, Led Zepellin e cia bela.

Dia desses eu estava em um curso de cretinice avançado frequentando o sofá com um controle remoto de TV em mãos. Estou com o firme propósito de me tornar um estúpido – conforme relatado no texto "escrita automática", mas as férias ainda não chegaram* - então a TV aberta é uma das formas mais práticas de se chegar a esse status tão em voga (palavra simpática, não?) hoje em dia. Acredito que uma carga horária de 4 horas diárias de TV me dará uma boa base cretina.

Mas voltando à nossa programação normal, zapeando pela educativa gama de canais abertos e seus programas, cheguei finalmente à emissora que outrora era chamada de “Music Television”, mas hoje o M da MTV significa outra coisa que não ouso falar porque tenho lá um pouco de educação e também não comprei um livro fundamental para as minhas pretensões chamado “Sobre falar merda” – embora eu faça isso neste blog. Mas parei no canal da MTV e estava passando um programa de vídeo clipes com um selinho “Clássicos”.

E que clássico: Ozzy Osbourne ainda inteiro berrando “Paranoid” num vídeo bem tosco, mas safa-se, afinal Black Sabbath é da década de 70 - coisas piores fariam as “bandas coloridas” no final da primeira década do século XXI, mas essa é outra história. E o programa emenda outra pauleira: “London Calling”, do Clash. Uma beleza! Quem diria, algo interessante na TV aberta.

Logo depois do Clash apareceu um clipe que me deixou assustado: “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana. Quando o álbum Nevermind foi lançado? Em 1991, 1992, por aí. Praticamente 20 anos!

Senti o peso da idade: eu era um adolescente quando ouvi os primeiros acordes do grunge. E tentei até usar camisa flanelada, cabelo comprido, vesti camiseta do Pearl Jam, Soundgarden e, claro, o álbum (ainda estamos falando do vinil) do Nirvana tocava direto em toda festa roqueira. E que alegria quando conseguíamos tirar o F# Bb A# D (era assim?) direitinho na guitarra, aquela barulheira tosca! E tudo isso se tornou clássico.

Quase 20 anos se passaram desde “Nevermind”, torno a repetir perplexo. E falando de clássicos, evoco Shakespeare e a expressão “dentes do tempo”. Como tudo foi devorado pelo tempo implacável, a expressão “não faz muito tempo” - no meu caso e de uma geração - se torna... clássica. De repente eu não consigo mais entender certas linguagens e comportamentos de uma geração. Estou fora da cena: Lady Gaga, Restart, emos, tudo passa muito rápido, não consigo acompanhar – mesmo se eu quisesse, até porque eu confesso não ter interesse no que vem acontecendo no mundo (pop) atual.

Dentes do tempo: se 20 minutos hoje é considerado “uma eternidade”, o que dirá 20 anos. Ou será que tentei – tentamos – me enganar ao procurar minimizar ou mesmo ignorar a passagem do tempo? Li em algum lugar que a adolescência vem sendo “prolongada”. As cirurgias plásticas e tratamentos para rejuvenescimento são comuns, se tornaram procedimentos banais. Congelar o tempo é o desejo de muitos. E minha concepção de “clássico” talvez estivesse –está – equivocada. Ou vem se modificando e sendo “adaptada para os tempos modernos”. Eu creio que isso seria um tema interessante para se debater um pouco mais. Quem sabe Fiuk, daqui a 20 anos, não seja considerado um clássico? Para as adolescentes de hoje e digníssimas senhoritas de amanhã...vejam o caso dos Menudos.

Para finalizar, evoco outro clássico, desta vez do escritor alemão Goethe, autor de “Fausto” e “Os sofrimentos do jovem Werther”: “A idade apodera-se de nós de surpresa”. Eis aí o resumo da ópera e de todas as conjecturas feitas sobre a passagem do tempo.

*texto escrito em Dezembro/2010

8 comentários:

  1. O Clássico de um dia já foi a maior coisa popularzinha!! É complicado. O bom se torna clássico.

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  2. =(

    É, meu "velho"... Eu sou um saudosista de mão cheia e, confesso, adoro o Clássicos MTV. E como é público e notório o meu problema com a idade, toda vez que vejo que tal música estorou ontem, quando eu tinha 15 anos e... peraí, mas eu já tô com... Ah, porra, aí fodeu tudo e eu, inconformado, saio berrando pela casa, falando que envelhecer é uma merda e que nem fodendo eu fico velho. Tenso. Desculpa os palavrões, mas é extamente esse é o meu vocabulário quando falo sobre o assunto. Velhinho é a vó, porra, porque eu sou extremamente jovem. E não toco mais no assunto!

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  3. Garanto que nossos pais achavam nossas músicas grandes bobagens... Assim como hoje achamos bobagens as músicas atuais (mas pera lá! É mal gosto demais,né? Ou eu que estou ficando velha?)Enfim...

    É como já foi dito: O sucesso de hoje é o clássico de amanhã... E assim caminha a humanidade...

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  4. Oi, Jaime!
    Eu comecei a escrever uma série de crônicas, cuja temática"desmerecimento humano" é sobre esse rebaixamento social, cultural, histórico e afetivo no nosso meio. Já falei sobre os novos namoros (tá pegando quem?), sobre abandono, sobre intolerância, e falta falar sobre esse lado "cult" da moçada. De uma certa forma eu me sinto bastante contamplado pelas suas ótimas considerações e afirmativas.

    Sabe o que me doi ainda mais? outro dia eu ouvi da minha própria filha de 13 anos me responder quando eu a criticava pelos programas de TV que via: "pai, desse jeito você não vai ter cultura nunca." Eu ponderei que a minha alegria era que ela ainda é muito nova e terá tempo para arranjar um antídoto contra esse envenenamento mental. Queira Deus que seja apenas uma provocação de adolescente rebelde e sem causa. rsrs.

    Grande abraço. Paz e bem.

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  5. Grande Jaime...o tempo éimplacável para quem se sente velho, brow !!!

    Vc jamais será velho !!!!

    Pode botar sua camisa flanelada e tocar Nirvana !!!

    Te acompanho nessa jornada !!!

    Huahauhauahuahauhauahu !!!!

    Major Tom to Ground Control

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  6. Fiuk clássico? JESUS ME CHICOTEIA! E eu sou "do tempo" do blues dos anos 10 a 40! Já nasci velha :) bjos!

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  7. Na época de Elvis, os pais dos que ouviam e dançavam Elvis ficavam horrorizados.
    Idem aos Beatles. Eternizados por músicas quase inocentes e acordes comportados cheios de ié ié ié.
    J. Joplis e Hendrix até hoje barbarizam, então, não entram na lista.
    A lista é enorme, Jaiminho, e você entende de música mais do que eu. Sabemos disso... ;)
    Ou estamos ficando velhos e conservadores, ou estamos ficamos velhos e chatos.
    ;)

    Beijo no nariz.

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  8. Jaime, estou em plena crise e tenho a mesma sensação que vc descreve no post... acabei de chegar de um churrasco onde fiquei ouvindo Queen (bom demaaaaais!!!) com meus amigos de 40 anos, e meu bebê logo estará saindo de casa para fazer faculdade...
    Há algum tempo publiquei uma crônica no blog falando sobre minha adolescência nos anos 80 e 90, e comentei que meu pai achava as músicas do Legião Urbana imorais... imagine se ele ouvisse as que meu filho canta debaixo do chuveiro!
    Mas não me sinto velha, acho que com o passar do tempo a gente se torna melhor sob muitos aspectos.
    Beijos...

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