E a volta às aulas em 2022, como vai?



Tema recorrente em inúmeros e acalorados debates nas mídias ao longo da pandemia, a volta às aulas presenciais acontece em sua plenitude no ano de 2022 graças ao avanço da vacinação para a comunidade escolar e a consequente queda na transmissão do coronavírus. Com os professores e alunos nas escolas em "aulas normais", o tema foi deixado de lado. 

No entanto, no chão da escola, quem vivencia a realidade cotidiana sabe que este retorno está longe de ser considerado “normal”. Alunos e professores reencontraram escolas tal como as deixaram em março de 2020: a mesma infraestrutura, o mesmo sistema, os mesmos problemas. No segundo semestre de 2021 ensaiamos um retorno semi-presencial em meio a polêmicas e debates ferozes com variações que partiam desde os prejuízos para a aprendizagem dos alunos até acusações absurdas aos professores, revelando um nível baixíssimo ao se tratar sobre o tema e que prestavam, na verdade, um desserviço à população. Hoje não se toca mais no assunto e, pra variar, os professores e gestores estão sozinhos diante dos desafios exigidos em um cenário que muitos chamam de “pós-pandemia”, embora a OMS (Organização Mundial de Saúde) e especialistas em virologia se mantenham cautelosos e ainda em estado de alerta por conta da desigualdade vacinal no mundo. 

E os desafios são inúmeros. Basta conversar por alguns minutos com professores e professoras da rede básica de ensino para que uma queixa comum seja ouvida: o cansaço, em boa parte proveniente do esgotamento emocional acumulado durante a crise sanitária. Ao contrário do senso comum mais rasteiro e superficial que predomina nas redes sociais e entre autoridades públicas, os profissionais de ensino trabalharam muito para carregarem nas costas o ensino remoto e demais atividades pedagógicas para que o direito à educação fosse assegurado aos alunos — coisa que o Ministério da Educação, mais interessado em negociatas corruptas entre pastores neopentecostais, desprezou. Tal desprezo também ocorreu nas esferas estaduais e municipais pelo país, com raras exceções. Não houve nenhum tipo se suporte, físico e emocional, para que o retorno às aulas acontecesse de forma mais acolhedora e harmoniosa para todos.

As consequências são sentidas durante as aulas presenciais neste começo de 2022: os casos de violência no ambiente escolar aumentaram consideravelmente, bem como o desinteresse dos alunos nas aulas. Se os profissionais da educação não tiveram suporte necessário, o que dirá os alunos. Indisciplina crescente, crises de ansiedade, atos violentos e desinteresse nas aulas são relatados pelos professores que também estão fragilizados emocionalmente. Há vários fatores que pioram o cenário nas escolas:

- Praticamente 02 anos diante das telas e sem mediação presencial da família elevaram os níveis de ansiedade e irritabilidade nas crianças e adolescentes, que ainda não possuem autonomia e gestão do tempo dedicado a celulares, tablets e notebooks;

- Salas de aula superlotadas com mais de 40 alunos geram situações de conflitos nestes espaços que se estendem para as demais dependências do prédio escolar, além de problemas no relacionamento com os próprios colegas e professores;

- A aprovação automática em que alunos foram promovidos do 7º ou 8º ano do Ensino Fundamental II para o 1º ano do Ensino Médio pulou etapas de amadurecimento que ocorrem paulatinamente durante os anos de convivência diária na comunidade escolar;

- O novo Ensino Médio, desastroso no papel e catastrófico na prática, foi implementado nas escolas de forma confusa, sem estrutura física e pessoal e com horas a mais de permanência dos alunos dentro de um sistema em que o educador português José Pacheco chama de “ensino em tédio integral”, fazendo um trocadilho com a expressão “ensino em tempo integral”.

Há outros fatores que incluem aumento da pobreza e desigualdade, crise econômica, falta de perspectiva, medidas de austeridade e ausência de políticas sociais e culturais para os jovens. Tudo isso reflete nas famílias e nas escolas.  Reparem que nem todos os elementos citados envolvem diretamente a pandemia. Virou lugar comum ultimamente atribuir à Covid-19, Guerra na Ucrânia e aos fenômenos naturais a responsabilidade para o abismo social causado por políticas equivocadas e que favorecem apenas a uma parcela muito pequena da população, justamente a mais rica. A crise sanitária, ao contrário do que dizem, não escancarou os problemas na educação, mas sim acentuou as dificuldades que já estavam em curso e que os profissionais da educação há anos chamam a atenção. Infelizmente quem decide as políticas educacionais não é gente do ramo, ou seja, não conhece o cotidiano de uma escola e as relações que nela acontecem.

Durante as piores fases da pandemia, diversos membros da sociedade civil foram chamados aos meios de comunicação para opinarem sobre a volta às aulas e é salutar que a sociedade se envolva e discuta educação, mas deixar os professores de lado, considerá-los invisíveis e desprezar o que eles têm a dizer revela muito bem como a desvalorização docente não é prática apenas de governos.

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