Retrospectiva reflexiva

Sempre que um ano termina no calendário acalentamos a esperança de dias  melhores no futuro, afinal estamos às portas de um ano-novo. O novo é uma oportunidade para  recomeços e mudanças, de fazer as  coisas  diferentes. 

Pensar assim é positivo e é bom que tenhamos isso em mente, embora a mudança precise sair do plano das ideias e desejos para a prática. Acho que todos, ou quase todos, conhecemos a receita. E por que é tão difícil assim alcançarmos todos aqueles votos de paz e harmonia nos durante os cumprimentos de fim de ano, com roupas brancas e simpáticas crendices típicas  do período?

Nos últimos anos passamos por momentos extremamente difíceis. Uma pandemia que ceifou a vida e a saúde de milhares de pessoas deveria ser um evento transformador de atitudes, mas isso não aconteceu – queríamos urgentemente voltar “ao normal”, sendo que a “normalidade” de viver em uma sociedade doente é um sinal de que vamos muito mal. O mundo assiste com profunda passividade a duas guerras televisionadas, com imagens transmitidas em tempo real de escolas e hospitais sendo bombardeados e as terríveis fotos de cadáveres exibidas  na internet.  

Estamos doentes, entorpecidos por uma “normalidade” que é na verdade uma anomalia. 

A fuga para tudo isso está na internet. Mas, ao contrário do que se esperava no início do século XXI, embora a grande rede tenha proporcionado a democratização da informação até certo ponto, não nos tornamos seres humanos melhores  através do conhecimento e todas as possibilidades que a internet pode proporcionar; a fuga se dá através de redes sociais repletas de filtros e cenários que emulam um mundo perfeito e ideal, onde a felicidade plena existe. Hoje, todos são protagonistas, editam seus vídeos e alguns conseguem até mesmo se tornar influenciadores. Não há amigos: há seguidores. A métrica de sucesso é definida por algoritmos e eles regulam a vida dessas pessoas, que não  medem  esforços para produzir vídeos e conteúdos por engajamento. Vivem uma vida “instagramável” e artificial, individualista e as Big Techs ganham  muito dinheiro com isso – não  importa se há racismo,  misoginia, apologia ao ódio: bussiness is bussiness. 

Uma das definições para “humanidade” que o dicionário apresenta é “sensibilidade para com o humano, piedade na relação com os semelhantes”. Acho que isso está cada vez mais distante de nós. O que acontecerá quando a Inteligência Artificial dominar de vez até mesmo nossas consciências? Leiam “Fábrica robôs”, do tcheco Karel Capek. Acertamos no avanço tecnológico, nas ciências que promoveram a cura de muitas doenças e a longevidade da  vida, mas falhamos no que realmente nos torna humanos em  questões éticas, coletivas e claro,  ambientais. “O clima está louco,  que calor!”. Não é o clima  que está insano…   

Eu gostaria muito que o próximo ano realmente fosse muito melhor para que caminhássemos em direção ao que é desejado em cada comemoração das festividades de fim de ano. 

Seria o ideal. Talvez algum dia, ainda distante, colocaremos em prática todos os ideaisais avançados de harmonia. Mas nunca sabemos o que há realmente nos corações e mentes humanas. 

Coisas da vida. 

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4 comentários:

  1. Acho que devemos nos agarrar ao que é importante, ao que nos faz bem, ao que faz diferença em nossas vidas. Ainda me agarro ao blog não só pela oportunidade de conversar sobre assuntos que eu gosto (ou que me incomodam), mas também para manter contato com pessoas que no dia a dia eu não tenho como manter contato. Se a gente se deixar levar pelas redes, nossa saúde mental vai pro beléleu.

    Esse comentário também é pra dizer que eu agradeço demais sua amizade, sua companhia nas redes e sua presença no blog. Que 2024 tenha muito mais consideração com a gente do que teve 2023. 💗

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    1. Verdade, capitã. É "peneirar" o que realmente nos faz bem. Muito obrigado também pela companhia e amizade, que 2024 traga inúmeras realizações para você. 😊

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  2. Olá, Jaime!
    Te acompanho desde 2011, se não me engano, quando nosso espaço era chamado de "blogosfera" e ainda nos maravilhávamos com o que de bom a internet trazia: debates respeitosos, interação, conhecer pessoas e lugares diferentes.
    Lamento tanto pelo que a interação entre seres humanos na internet se tornou, com "cancelamentos" , "hates" gratuitos e tantas vozes diferentes querendo falar, ter razão e pouco ouvir. Renato Russo dizia em uma de suas canções famosas quando era vocalista do Legião Urbana, que " a humanidade é desumana, mas ainda temos chance".
    Ano após ano vemos chances sendo desperdiçadas. Resta a esperança depositada nos seres humanos que ainda tem atitudes verdadeiramente humanas.
    Também espero que um dia possamos ver um renascimento da humanidade.
    Passo aqui também, Jaime, para agradecer a companhia, a interação nesta atmosfera "blogueira",a amizade mantida durante mais este ano. E, claro, desejar um 2024 com muitas bênçãos e realizações!
    Abraços e até logo!

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    1. Bons tempos, Marina, da blogosfera. É lamentável que tenhamos substituído as interações humanas orgânicas por algoritmos enviesados pelas Big Techs. Mas façamos o nosso melhor. Eu também agradeço demais o vínculo e a amizade ao longo de todos esses anos. Um feliz 2024 para você!

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