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Coronavirus: a pandemia e a peste
Dos que morrem, mesmo dos velhinhos, só 10 a 15% morre. Se pegarmos o vírus, o que seria bom, a gente pegaria anticorpos e ele já morreria de uma vez (...)12 mil mortes em sete bilhões de habitantes é muito pouco pra criar essa histeria coletiva que foi criada no mundo.
Roberto Justus, empresário e apresentador de TV
Não podemos [parar] por conta de cinco ou sete mil pessoas que vão morrer. Isso é grave, mas as consequências que vamos ter economicamente no futuro vão ser muito maiores do que as pessoas que vão morrer agora com o coronavírus.
Junior Durski, empresário e dono da rede de restaurantes MADERO
Pessoal, o que nós estamos vendo nesse país hoje é uma histeria que não deveria estar acontecendo. (...)Eu falei para o meu pessoal aqui, nós vamos pegar a gripe e não vai ter problema.
Luciano Hang, empresário, dono da HAVAN
Meu amigo e minha amiga, não se preocupe com o coronavírus. Porque essa é a tática, ou mais uma tática, de Satanás. Satanás trabalha com o medo, o pavor. (...) E quando as pessoas ficam apavoradas, com medo, em dúvida, as pessoas ficam fracas, débeis e suscetíveis. Qualquer ventinho que tiver é uma pneumonia para elas.
Edir Macedo, empresário
Vão morrer alguns. Sim, vão morrer. (...) Mas não podemos deixar esse clima todo que está aí. Prejudica a economia.
Jair Bolsonaro, “presidente” do Brasil
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Estou relendo “A Peste”, livro de Albert Camus publicado em 1947. O enredo da obra apresenta uma epidemia causada por ratos que se alastra pela fictícia cidade de Oran, levando as autoridades a promoverem medidas como fechamento das fronteiras e isolamento social. O protagonista do livro, o médico Bernard Rieux, acredita em seu trabalho e na solidariedade no combate à peste, que mata muitas pessoas e promove, ao menos no período de 10 meses, mudanças na cidade e no espírito das pessoas.
Durante epidemias (ou, em nosso caso corrente, uma pandemia) emergem alguns dos melhores valores dos seres humanos – enfermeiros e enfermeiras que estão na linha de frente junto aos médicos e pesquisadores, por exemplo; mas também emergem os piores sentimentos como os expostos na coletânea de afirmações sobre a pandemia do novo coronavirus (covid19) no Brasil. Essas pessoas, que passarão à história como “empresários de sucesso” e “líderes” em seu tempo demonstram o profundo desprezo pela vida dos demais. Não estão preocupadas com o desemprego e muito menos sobre as condições de vida e saúde das pessoas - principalmente dos idosos mais vulneráveis a um vírus para o qual ainda não há vacina ou cura e pode matar: quando falam em “economia” estão falando de suas próprias economias e a preocupação é somente com os lucros de suas lojas, restaurantes, igrejas e demais negócios.
Para estes “homens de sucesso”, a pandemia que infectou mais de 370 mil pessoas no mundo e ceifou mais de 16 mil vidas (até o dia 24/03) é apenas “histeria” ou “coisa do diabo”; para estes “exemplos de vencedores”, a palavra dos médicos, enfermeiros, infectologistas e pesquisadores não vale: é só uma “gripezinha” que se cura com um ou dois dias tomando vitamina C efervescente. É um bom momento para questionarmos se essas pessoas e tantas outras com a mesma linha de pensamento são dignas da admiração e confiança.
A Peste da ignorância
E o mais importante: é essa gente sem apreço e respeito à vida das pessoas que deseja conduzir os rumos do país neste cenário? Nas páginas de "A peste" Camus nos apresenta o personagem Tarrou, que faz uma reflexão sobre certas escolhas: "Pensei que estava lutando contra a peste. Eu me dei conta que, indiretamente, tinha apoiado a morte de milhares de homens, de que tinha causado suas mortes ao aprovar ações e princípios que inevitavelmente levaram a elas". Por mais absurdo que possa parecer, em uma pandemia podemos escolher entre a ciência e os conhecimentos de pesquisadores e profissionais da área da saúde ou podemos optar por charlatões e oportunistas com infundadas e mirabolantes teorias conspiratórias que colocam em risco a vida das pessoas.A escolha neste caso é óbvia, mas são tempos em que a ignorância é ostentada de forma orgulhosa, arrogante e sem pudores através de vídeos, redes sociais e aplicativos para comunicação pelo celular. Alastra-se como uma verdadeira peste e precisamos combatê-la antes que infecte o maior número de pessoas. E retomando a leitura do livro, Camus cita a ignorância como o vício mais desesperado “que julga saber tudo e se autoriza, então, a matar”. Ao menos tal transparência, se assim podemos nos referir, ajuda a filtrar (ou selecionar) com quem queremos realmente estar ao lado.
Tratar seres humanos como meros números em planilhas de empresas é uma atitude repugnante. Por trás de números e estatísticas, há histórias de vida, conhecimentos, olhares, subjetividades, contribuições para a sociedade. E o mais importante: há relações de afeto, vínculos fortes, principalmente com nossos velhinhos e velhinhas. Seres humanos não são máquinas ou objetos descartáveis, é sempre bom lembrar.
O mundo será bastante diferente quando essa pandemia terminar, inclusive na própria economia: para o professor Maurice Obstfeld, da universidade de Berkeley, “se os países caírem em recriminações e abordagens egoístas, corremos o risco de fragmentar ainda mais a economia mundial, o que pode persistir muito além da crise”. Será preciso repensar todas as estruturas nas quais nossa sociedade têm se sustentado – das políticas de saúde pública e sanitária, passando pela Economia, Educação, Meio Ambiente e sobretudo do nosso comportamento e da relação que temos uns para com os outros.
Uma coisa já sabemos (ou talvez redescobrimos) neste período de isolamento social ou quarentena: abraçar e estar junto às pessoas que mais amamos é a parte mais fundamental da celebração da vida. E é assim que reconstruiremos, espera-se, um novo mundo.
Nooooossa!Cada frase dessas chega a dar um colapso,rs Que tristeza! E tenho certeza que teremos aprendizados ao final disso tudo! TOMARA! Adorei tua ilustração! abraços, chica
ResponderExcluirQue texto maravilhoso, Jaime!
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