Água em Marte para abastecer nossa fantasia




A recente notícia que pesquisadores italianos encontraram indícios de água líquida em Marte encantou a todos em nosso simpático planetinha e ainda levantou a hipótese sobre a existência de vida no planeta vermelho. E é claro que atiçou a fantasia de muita gente.

Marte sempre exerceu grande fascínio ao ser humano. Inúmeros filmes, livros, histórias em quadrinhos e desenhos animados foram produzidos com temas relacionados ao planeta e aos seus hipotéticos habitantes, os marcianos. Um dos episódios mais marcantes de nossa relação com Marte aconteceu em 1938, com a leitura dramática de notícias sobre uma invasão extraterrestre inspirada no livro “A guerra dos mundos”, de H.G. Wells.  Esta leitura, feita pelo cineasta Orson Welles e transmitida via rádio, foi tão convincente que espalhou terror nos Estados Unidos: as pessoas realmente acreditaram que a Terra estava sendo invadida pelos marcianos e entraram em pânico, congestionando ruas e estradas ao tentarem fugir da invasão fictícia. 

Hoje já sabemos muitas coisas sobre o nosso vizinho vermelho e até reunimos fotografias da paisagem marciana – temos um jipe rodando à vontade pelo planeta. Ainda assim a nossa imaginação continua fértil e há “excursões” previstas para Marte nos próximos anos. Teve gente do mundo todo que se inscreveu para uma viagem apenas “de ida” para o planeta aparentemente inóspito para seres humanos. A proposta não é apenas turismo, claro: é também para a colonização do planeta.

Sempre que falam sobre Marte e temas relacionados a ele como formas de vida e colonização, lembro do ótimo livro “As crônicas marcianas”, do norte-americano Ray Bradbury. É ficção científica das boas e, apesar de publicado em 1954 (bem antes de sondas espaciais e jipes explorarem Marte), ainda consegue encantar e levantar ótimas reflexões sobre o desejo da humanidade em conquistar outros planetas e audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve. Um dos trechos mais interessantes deste livro é o diálogo, em solo marciano, entre o astronauta Spender e o capitão da nave terrestre que levou exploradores a Marte:

- E depois haverá mais interesses em jogo. Os homens que trabalham com minérios e os que trabalham com turismo. O senhor se lembra do que aconteceu com o México quando Cortez e os seus belos amigos chegaram da Espanha? Toda uma civilização foi destruída por pessoas preconceituosas, gananciosas e donas da verdade. A história jamais perdoará Cortez. 

- Mas você próprio não agiu com ética hoje – observou o capitão. 
- O que eu podia fazer? Argumentar com vocês? Sou apenas um contra toda a ganância distorcida e faminta da Terra. Eles vão fabricar suas bombas atômicas imundas aqui, brigando por bases para travar guerras. Não basta terem estragado nosso planeta, precisam mesmo estragar outro?


As viagens tripuladas e com humanos para Marte acontecerão algum dia. Eu adoraria estar vivo para presenciar este momento. Na verdade eu gostaria de estar vivo para presenciar as fascinantes e incríveis descobertas que serão feitas sobre o Universo. Particularmente acho improvável não existir outras formas de vida pelo cosmos - e nem estou falando de homenzinhos verdes e civilizações avançadíssimas, especificamente. As futuras gerações poderão conferir tudo isso e também cuidar para que, durante os processos de colonização de outros planetas, as suspeitas e temores de Spender não se tornem realidade. 

Que as futuras gerações aprendam algo sobre a história e não estraguem outro planeta como estamos fazendo com o nosso pálido ponto azul. Se houver vida inteligente em Marte, os seres que vivem lá certamente estão torcendo para que as expedições tripuladas demorem muito para chegar. Tolerar um jipezinho andando aqui e ali, tudo bem; aguentar turistas, exploradores e gente folgada, nem os marcianos merecem.

Referência e dica de leitura: 

AS CRÔNICAS MARCIANAS, de Ray Bradbury. 
Bradbury, Ray. As crônicas marcianas. São Paulo: Globo, 2006.


2 comentários:

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