Amar ou depender? Sobre o amor e maturidade emocional.


Quem disse que para estabelecer uma relação de afeto devemos nos encarcerar? De onde vem esta ridícula ideia de que o amor implica estancamento? Por que algumas pessoas, ao se apaixonarem, perdem seus interesses vitais? O amor deve ser castrador? (...) Amar não é se anular, mas crescer a dois.” (p.68)

Escrever sobre o amor e as relações afetivas não é fácil e ao longo dos séculos estes temas já serviram como inspiração para escritores, músicos, dramaturgos, religiosos e até mesmo vários filósofos debruçaram sobre tais temáticas procurando entender aquilo que Freddie Mercury se referia como “crazy little called love” em uma de suas músicas. 

O dicionário Aurélio traz o significado para amor como “sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem”.  Não há dúvidas de que amar e querer o bem da pessoa amada é um sentimento belíssimo e todos apreciam; no entanto, existe o chamado “lado B do amor”, uma espécie de amor que leva ao sofrimento e abala a autoestima. Não é difícil encontrar histórias de casais onde a relação é doentia e até mesmo acontecem tragédias nos chamados crimes passionais.

É justamente sobre este “lado B” do amor que o psicólogo Walter Riso trata em seu livro “Amar ou depender? Como superar a dependência afetiva e fazer do amor uma experiência plena e saudável”, da editora L&PM pocket. Em pouco mais de 160 páginas de linguagem simples e leitura fluida, Riso enumera diversos comportamentos que levam ao quadro de dependência em atitudes nas quais “sob o disfarce de amor romântico, a pessoa dependente afetiva começa a sofrer uma despersonalização lenta e implacável até se transformar num anexo da pessoa ‘amada’, um simples apêndice”.

À primeira vista o livro parece ser destinado apenas para casais com problemas de relacionamento, mas na verdade o que se discute em suas páginas são conceitos ligados à inteligência emocional, bem-estar e autonomia – ou seja, assuntos que são válidos para todos, até porque mantemos relações afetivas com pais, filhos e demais parentes, por exemplo.  Obviamente ninguém vive sem afeto, mas quando há insistência em relações que envolvam medos, castrações e humilhações apenas por “estar com alguém para não ficar sozinho (a)”, há problemas.  Para o psicólogo, a origem desta dependência “parece estar na superproteção dos pais durante a infância e na crença de que o mundo é perigoso e hostil.” A autonomia e a liberdade são tolhidas e isso irá se refletir na vida adulta e nos relacionamentos amorosos destas pessoas, o que resultará em dificuldades ao lidar com frustrações, sofrimentos e incertezas.  Impossível não lembrar o educador Paulo Freire em sua “Pedagogia da Autonomia”, onde ele clama pelo “respeito à autonomia e à dignidade de cada um”.

Muitas pessoas podem estranhar uma relação onde não há cenas de ciúmes (sobre este tema, leiam “Otelo”, de Shakespeare) e a liberdade afetiva é encarada como se fosse frieza, egoísmo e mesmo libertina ou “promíscua”, mas o que o autor defende, além do amor que se regozija e compartilha a alegria do outro, também é uma linha de pensamento que muitos filósofos e mesmo guias espirituais já disseram há séculos:  Pitágoras (“Acima de tudo, respeita a ti mesmo”), Aristóteles (“O homem virtuoso tem o dever de amar a si mesmo”) e Jesus (“Ama o teu próximo como a ti mesmo”) são alguns exemplos de que o amor deve começar primeiro por nós mesmos. O filósofo e escritor Frédéric Lenoir, em seu (ótimo) “Pequeno tratado de vida interior”, deixa tudo muito claro: “a qualidade de nossa relação com os outros depende intrinsecamente da relação que temos com nós mesmos”. Quando estamos seguros sobre quem somos e sobre o que queremos, lidamos melhor com os problemas que surgem, inclusive de ordem afetiva.

É maravilhosa a dimensão lírica do amor (lembrem-se dos poemas, dos romances e das cartas apaixonadas) e as idealizações românticas das quais todos passamos quando o Cupido nos acerta em cheio em suas flechas – e até por isso teorizar ou racionalizar demais sobre o amor é algo complexo; mas todos nós desejamos uma relação equilibrada, harmoniosa, madura e alegre.

“Amar somente se justifica quando podemos fazê-lo de forma limpa, com honestidade e liberdade.”, afirma Riso. Eis a busca para efetivamente se amar e ser amado (a), e não depender. 


“Amar ou depender? Como superar a dependência afetiva e fazer do amor uma experiência plena e saudável”
Walter Riso
Editora L&PM coleção Pocket
166 páginas
De R$ 11,35 até R$ 17,90

20 comentários:

  1. Recém vi tua atualização, Jaime! :)
    Retorno com toda a calma, tá bom?

    Beijos!

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  2. Ei Jaime, que beleza de postagem. Estou curiosa para ler a sua sugestão. Tenho um pouco de dificuldades de confiar no amor. Sabe aquela coisa da entrega? Ainda estou na fase do aprendizado, mas acredito que estou em uma nova fase e vou superar todos meus traumas rs. Amar, realmente, é divino. Por isso, apesar dos pesares, vou sempre apostar no verdadeiro amor. E viva o amor!

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    1. Oi, Adriana! Obrigado! Como você diz que está em nova fase, vai superar sim e vai apostar novamente no amor e acreditar nele. :) Como cantaram os Beatles, "all you need is love!"

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  3. Jaiminho, voltei...
    excelente texto. O livro parece mesmo ser muito interessante e colocar essa coisa que chamamos de amor, de forma mais compreensível :) se é que isso é possível, mas quando estamos apaixonados, até as coisas mais óbvias não são tão óbvias assim... Decepções, ciúmes, a questão do gênero também..., o convívio, é tudo complicado. Mas como dizia Oscar Wilde, algo do tipo:
    "as mulheres devem ser amadas, e não explicadas..", mais ou menos isso pode se dizer sobre o amor, até porque existem variantes e variáveis, cada pessoa é uma só, mas... talvez a gente tenha somente que amar mesmo, e deixar a 'explicação' aos livros :)

    Beijos e ótimos dias, amigo!

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    1. Muitíssimo obrigado, querida Cissa! De fato é mesmo complicado tentar escrever ou teorizar algo sobre o amor e a paixão (esta, então, é avassaladora).. mas como o próprio Riso escreveu, "uma coisa é entregar o coração, outra é entregar o cérebro". :) Beijos e ótimos dias para vc também!

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  4. Obrigado, Marcos. É o tema mais importante e também o mais difícil para se escrever. Um abraço!

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  5. Pois é,Jaime,que ama sofre,e sabe por quê?Porque nunca sabemos o que está se passando com o outro.Meu professor de filosofia dizia:'Nunca devemos deixar o coração do outro sossegado.'E concordo plenamente!Amar é muito mais doloroso do que aquela paixão,que vem e passa.
    O amor tem esse paradoxo:nos levar ao céu e ao inferno quase que simultaneamente.
    Somos muito egoístas!Se o outro está nos conferindo vantagens,nos fazendo feliz,tá ótimo!'Nossa,como eu amo!'Agora,quando deixamos de ser interessante para o outro,'ah,eu o odeio!''Que dane-se!'Que amor é esse?Amamos o fato de alguém nos amar.Resumindo:amamos a nós mesmos!
    O AMOR em sua plenitude,no sentido literal da palavra,é outra coisa,não menos dolorida,mas que liberta o outro.É amarmos o fato do outro estar feliz,mesmo sem nós.E isso é algo muito difícil de assimilarmos.Por isso sofremos tanto...

    Esse é meu singelo ponto de vista sobre o amor,o amar.

    Um belíssimo texto para uma produtiva reflexão!
    Beijão!Dani.

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    1. Dani, duas boas observações: amor é diferente de paixão ( esta é avassaladora e tem "prazo determinado"); e o descarte nas relações, o que Bauman cita em "Amor líquido". E como o desapego é difícil, não é? Obrigado por suas sempre ótimas palavras, Dani! Beijo!

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  6. Caramba, Jaiminho, gostei demais!... li esse trecho: "Amar não é se anular, mas crescer a dois." e vi meu relacionamento com o Ricardo. Acho que estamos no caminho certo. É isso que defendemos... mas, nem tudo foram flores... e ainda não são. MAs é um caminho que deve ser percorrido juntos. Porém, respeitando principalmente as individualidades. Hoje, na fila do consultório, uma moça começou a desabafar comigo. Descobriu que sou professora e disse que está há anos tentando trabalhar, mas há sete deixou de viver sua vida por causa do marido. O mesmo é ciumento demais e não permite que ela trabalhe. Ela deve viver em função dele e da filha. Resumindo? Ela está com depressão e não aguenta mais. Isso não é vida... não mesmo!

    Penso que Ricardo e eu estamos no caminho certo... desejo que seja para sempre, nem que o sempre termine daqui alguns anos(nosso para sempre está completando 15 anos... que venham os próximos, então!)... pelo menos enquanto houver uma relação de real cumplicidade e respeito. É o que fazemos valer.

    Terminou maravilhosamente: “Amar somente se justifica quando podemos fazê-lo de forma limpa, com honestidade e liberdade.”

    bjks :*

    JoicySorciere => CLIQUE => Blog Umas e outras...

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    1. Que depoimento bonito, Joicy! Que você e o Ricardo continuem crescendo a dois por muitos e muitos anos. E quantas mulheres não estão na mesma situação em que essa moça que você conversou no consultório?É terrível, não é vida mesmo. Bjks! :*

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  7. Olá Jaime, boa tarde!
    Vim conhecer o belo trabalho que aqui desenvolve e também retribuir a simpática visita que fez ao meu espaço! Fiquei encantada com a sua narrativa ! Obrigada pela brilhante contribuição ao artigo!

    E não poderia deixar de ser um bom escritor, pois notei, ao chegar aqui, que é um amante dos livros e das letras! :)))
    É por isso que escreve tão bem, em uma narrativa leve e muito suave que nos prende a atenção sobremaneira!

    Sabe, inclusive fiquei interessadíssima em ler a obra do psicólogo Walter Riso “Amar ou depender? Afinal, sobre o amor e a sua dependência é sempre importante conhecer todas a facetas, apesar de já compreender, com certa antecipação, de como é difícil escrever e também saber sobre o amor não é mesmo?

    Enfim, agradeço pela dica de leitura! Também adoro ler para poder viajar em todos os lugares possíveis e conhecer , um pouquinho que seja, sobre nós mesmos e nossa própria história!

    Tenha um excelente início de semana!
    Até mais e um grande e caloroso abraço!


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    1. Olá, Adriana! Muito obrigado pela visita e suas gentis palavras. Gostei muito de seu blog, está no blogroll de alguns amigos e dei uma passadinha para conhecê-lo. É verdade, adoro literatura e quanto à escrita procuro fazê-la de modo que seja agradável ao leitor. :) Um abraço e tenha uma excelente semana!

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  8. Olá, Jaime.
    Grande dica; esta coleção L&Pm Pocket é realmente excelente, já que reúne uma grande quantidade de títulos e temas diversos a preços vantajosos.
    Creio que Walter Riso tenha colocado neste livro tudo o que o amor deveria ser para muitas pessoas e não o é, talvez por fraqueza ou egoísmo.
    Se o amor não soma nada, então não é amor, é outra coisa.
    Abraço, Jaime.

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    1. Obrigado, Jaques! De fato, a coleção apresenta ótimos títulos e é uma opção para ler ( e reler) alguns clássicos. Este livro de Walter Riso é ótimo! Um abraço!

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  9. Te admiro, muito bom me ajudou bastante , você é super inteligente , quando eu crescer quero ser que nem você . Beijos

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  10. Um dos melhores livros que li. Pena que ainda tá difícil aplicar na minha vidinha. :(

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