O elixir da juventude.



Forever young,
I want to be
Forever young.


Demorou, mas finalmente encontraram a fórmula do “elixir da juventude eterna”: estava escondida em Praga, na República Tcheca, uma receita com 77 tipos de ervas que deveriam ser imersas em álcool e ópio, bastando ao “paciente” uma colherada todos os dias pela manhã para que se realizasse a promessa ser jovem para sempre. 

Ficaram famosas as histórias de alquimistas durante a idade média que procuravam pela pedra filosofal e o “toque de Midas”, mas muito antes a humanidade já buscava pelo elixir da longa vida. Os gregos, mesmo reconhecendo que Cronos (o tempo) destrói tudo o que ele próprio cria, acreditavam que o “manjar dos deuses” concederia a imortalidade aos felizardos que o consumissem; o poeta romano Ovídio, por volta do ano 8 d.C., já recomendava às mulheres que retirassem a palha e as cascas da cevada, acrescentando órobo ( uma espécie de planta) e dez ovos, triturando chifre de cervo, bulbo de narciso e acrescentando farinha de trigo ( da Toscana) e mel: “toda mulher que untar seu rosto com esse cosmético ficará com a pele mais brilhante, mais lisa do que seu espelho”. 

Tudo isso pode parecer estranho, mas ainda hoje, em pleno século XXI, encontramos muitas “receitas” exóticas usadas pelas pessoas na tentativa de amenizar os efeitos do tempo na aparência física - desde dietas malucas passando por tratamentos de pele envolvendo sanguessugas, fezes de rouxinol e até mesmo baratas. E as clínicas de estética oferecem um arsenal de serviços para quem quiser rejuvenescer: lipoaspiração, prótese de silicone nos seios e nas nádegas, rejuvenescimento facial, remoção de bolsas nas pálpebras e até mesmo rejuvenescimento vaginal. (ou estreitamento da vagina) 

O “medo de envelhecer” encontra razões que vão além da simples vaidade. Quando se fala em “velhice”, a lembrança que vem à mente é de declínio físico, impotência, insignificância – ser velho em uma sociedade hedonista e ávida por novidades é praticamente o mesmo que ser descartado, rejeitado. Lembre-se, por exemplo, dos idosos que são abandonados por seus familiares em casas de acolhimento ou mesmo submetidos a maus tratos. Aquela imagem da vovó como uma velhinha solitária bordando crochê aos poucos vai ficando para trás: hoje a chamada terceira idade viaja, estuda, namora, acessa a internet, enfim, procura ser ativa. 

Outra razão é a tese do corpo como capital, discutida pela antropóloga Miriam Goldenberg. O “culto ao corpo”, na verdade, trata-se de investimento em uma sociedade que valoriza, em maioria, corpos jovens, malhados, definidos e esculpidos em horas de academia e sessões de procedimentos estéticos – “modele o seu corpo e arrase no verão”, os anúncios são comuns no período que antecede a estação mais quente do ano.  E dentro deste modelo do corpo jovem e perfeito tão cultuado (e imposto) pela sociedade e pelo marketing midiático, homens e mulheres buscam retardar a passagem do tempo – embora as mulheres sejam mais cobradas para a manutenção de um “ideal de beleza”. Elas se preocupam com as rugas, com as celulites, com os quilos a mais na balança, com os fios grisalhos dos cabelos; eles se preocupam principalmente com a virilidade, com o desempenho sexual e a jovialidade. O mercado sabe e se aproveita disso: o Brasil já é o terceiro maior consumidor de cosméticos no mundo e está atrás apenas dos Estados Unidos nos números de cirurgias plásticas e estéticas realizadas.


É inegável que os avanços da medicina e da ciência em muitos centros já possibilitam maior expectativa de vida e saúde para as pessoas, elevando a autoestima e prometendo até mesmo a tão sonhada felicidade – a felicidade de ser jovem durante toda a vida. É exatamente essa a sedutora promessa dos modernos elixires da juventude e consequentemente muitas pessoas encontram dificuldades em aceitar o avanço dos anos, mas é preciso lembrar que “ninguém te devolverá aquele tempo”, nas palavras de Sêneca. 

O próprio Ovídio, que tanto escreveu sobre o amor e também se preocupava com a beleza física, aconselha: “Que sua primeira preocupação, jovens, seja a de zelar pelo seu caráter: as qualidades da alma se somam aos atrativos do rosto. O amor baseado no caráter é durável; a beleza será devastada pela idade e rugas sulcarão seu rosto sedutor”. 

9 comentários:

  1. Faz muito tempo que não comento em blogs, perdão. Lembro dos nossos debates sobre jornalismo e literatura há alguns anos. Os comentários em blogs, tornaram-se mais ágeis no Facebook, mas isso é um debate para mais tarde, em outra ocasião. Eu sou o típico jovem de cidade em que, quando se conhece alguém logo perguntamos: Nome, profissão, idade, academia onde malha, livro que lê, jogo que está jogando e qual é o perfil no Facebook. Lembro que quando conhecia alguém na infância, perguntava só o nome e perguntava se ele ou ela poderia ser meu amiguinho. O tempo passa e esses questionários ficam mais complexos. Confesso, que no ambiente em que eu estou inserido, manter o corpo com músculos tonificados e o corpo desenhado é normal, é uma certa obrigação. Eu adoro ir à academia, me ajudou muito e hoje me sinto bem comigo mesmo. Gosto do meu corpo e de mim. Além, é claro, de ter encontrado uma namorada que pensa que nem eu. Acho que isso ajuda a nos amarmos mais. Para mim isso é natural. A minha namorada se dividia em mil entre academia, clínicas de estética... Mas embora pareça que seja apenas um cuidado com o lado de fora, com nossa casca, ela também estuda, trabalha e faz estágio. Ela pensa no futuro, lê bastante e estuda pra caramba. Volta e meia discutimos sobre psicanálise, jornalismo, comunicação em geral, economia, política, literatura... Ou seja, não deixamos de procurar manter o cérebro atualizado. Usamos apenas a juventude para podermos aproveitá-la de forma bacana, aproveitarmos nossos corpos no auge. E por isso, conjugamos essa ode ao corpo, com a ode ao cérebro, porque quando estivermos velhos, sem o bumbum duro, sem o braço musculoso, teremos ainda a mesma dinâmica para conversar e debater as mesmas coisas que debatemos hoje, de forma atualizada. E se pudermos continuar agindo de forma saudável, por que não sermos felizes com os nossos corpos também, não é? Mas o problema mora quando há uma super expectativa ao redor do "belo", um conceito muito relativo e a tentativa criminosa de padronizá-lo é o que caracteriza o absurdo. A frustração das pessoas em relação a isso é a frustração em função da própria vida, pois não terem ideia do quão belo se torna uma pessoa inteligente.

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  2. Jaiminho, querido amigo!
    Neste momento, antes de entrar e ler novamente teu texto para comentar, estava assistindo ao desenho do Popeye, lembra desse cara né? Super tri! Como era bom esses desenhos e tantos outros..., mas o Popeye que foi criado para estimular o consumo de espinafre, até onde eu sei, se observarmos também tem um lance de culto ao corpo.

    Penso que tudo que é em excesso é que se torna um problema, embora o que disse é um clichê, não deixa de ser verdade. Exercícios físicos são recomendados inclusive como anti-depressivos. A questão é o que envolve de fato o culto do corpo, a ditadura do corpo, etc. Mas o ser humano, todos nós, parece que temos intrínsecos um desejo de Dorian Gray no íntimo, e não é atoa que esse livro, único romance do Wilde se eternizou.

    O fato é que ninguém quer envelhecer, e o inevitável de tudo isso, é que sentimos mesmo com o passar do tempo um certo "peso da idade", já não temos o mesmo fôlego dos 20 anos, nem a mesma paciência, como se tudo fosse se tornando óbvio demais, você percebe isso também?

    Para além disso,creio que tenhamos que cultivar, sim, os afetos verdadeiros, os amigos, e tudo aquilo que nos completa. Já que a ação da gravidade é inevitável, então a usemos a nosso favor dormindo todas as noite de barriga para cima :) e olha... acho que funciona... sei lá. Eu faço isso hehe

    Beijão, Jaime!

    Tenho tanto ainda a dizer, mas não sei se concatenei bem as ideias, pode ser problema da idade, ou a falta de exercício físico *-*

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  3. Eu tenho é muita pena dessas pessoas que se utilizam desses besteiróis em busca da falsa fonte da juventude. Infelizmente, em tempos atuais, a beleza passou a ser quase que obrigação. A estética vem em primeiro lugar, tornando-se mais importante que a própria vida.
    Temos vários exemplos na mídia de mulheres que se tornaram escravas da eterna fonte da juventude das ilusões. E vamos esticar a cara até virar o monstro do pântano, e vamos tomar 1783773899489 vitaminas por dia, e vamos tomar remédios inibidores de apetite até começarmos a ver E.Ts, e vamos fazer lipo até morrer, enfim, e vamos fazer uma sandice atrás da outra.
    Lógico que a velhice assusta! Imagina, ver tudo ‘despencando’, as doenças aparecendo e, consequentemente, a dependência do outro. Não é nada lindo! Mas, não podemos deixar que isso torne-se um pânico; algo que venha atrapalhar o curso normal do seu viver. É o ciclo natural da vida. Aceite isso!
    O que devemos fazer é termos hábitos saudáveis tanto para o corpo, como máquina, quanto para mente, nossas ações cognitivas.
    Devemos sublimar a velhice da melhor maneira possível. O corpo envelhece, não tem jeito! O que não pode envelhecer é a mente. O que não pode envelhecer é o caráter. O que não pode envelhecer é o bom senso.
    A alquimia deve estar dentro de nós mesmos.

    Beijão, Jaime! Dani.

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  4. Ei Jaime, você tem uma facilidade de escrever, incrível. Adorei o texto. Achei interessante a questão do corpo como capital. Veja bem, não é um assunto só para mulheres. Os homens também são ávidos para encontrar o elixir da juventude, em especial no meio executivo. Para muitos, parecer jovem é mais importante do que ser jovem. Por isso, cada vez mais, os procedimentos estéticos são feitos por pessoas jovens. Envelhecer é politicamente incorreto, então tudo é permitido em nome da beleza. A busca pela juventude é social é cultural. Alguns exageros, em nome da beleza eterna, são realizados sem a menor cerimônia. Alguns parecem bonecos. Vivemos na sociedade líquida, né? Um forte abraço!

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  5. Nossa, e como as pessoas estão loucas pela juventude hj em dia! Todos morrem de medo de ficar velho. Onde vamos parar?! Iremos virar pessoas de plástico e metal daqui uns dias. Tirando seios e implantando membros mecânicos com medo de adoecer e perder a beleza!
    Que coisa né?!

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  6. Jaime Guimarãres lindo amigo da blogosfera, bom dia!!

    Estive aí, afastada um tempo , mas eis-me de retorno, pra interagir feliz da vida na blogosfera"

    Gosto muito dos teus textos que focam temas da atualidade, pois, são escritos com clareza e objetividade. Esse é um deles.
    De fato, desde que existe mundo, a preocupação com a beleza e a juventude, o manter-se jovem e manter-se assim, ainda em avançada idade, se constitui uma das prioridades do ser humano.
    Mas, quem não a quer? A beleza enche os olhos com suas cores e forma atrai olhares, desejos. A juventude emana força, exuberância e dá uma idéia de vida plena. Mas, o que muitos não têm em mente é que beleza e juventude passam, acabam com o tempo.

    Penso que tudo é uma questão de maturidade e ter bem claro pra si mesmo, o conceito da verdadeira beleza. Pras mentes imaturas é um tormento a velhice chegando e a beleza se extinguindo. Para os que já compreenderam e aceitaram a temporalidade de tudo, não perdem tempo com lamentações inúteis, pois nem sempre se tem às mãos recursos da estética e grana pra ir alongando a tal beleza, e, então, cultivam outros atributos tão fascinantes e sedutores quanto uma beleza física transitória da pouca idade, tais como a alegria e o bom humor, estar de mente aberta para o novo, a novos aprendizados, cuidar da saúde com naturalidade, participar da vida social e familiar não como uma obrigação, mas como algo prazeroso, a despeito de todos os problemas e dificuldades do mundo atual. É aquela jovialidade maravilhosa que encontramos em muitos idosos, e que encanta.
    Buscam o elixir tão longe das mãos, e na verdade, o verdaeiro elixir da juventude e beleza , se encontra dentro de cada um de nós!

    Felicidades, meu querido Jaime!
    Bjos da Lu...

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  7. Boa tarde parceiro.
    Seu post me lembrou de imediato uma entrevista que li de um (a) blogueiro (a) que ao responder a pergunta do (a) entrevistador (a) de qual seria o seu maior medo, ele (a) respondeu: Envelhecer.
    Envelhecer. Resumiu assim simplesmente.
    Eu acredito que todos tenhamos um certo medo do passar do tempo, ao passo que a maioria de nós almejamos uma vida longa, não temos muita noção do que ela signifique.
    Ao imaginar vida longa, parece que nos remetemos à velha imagem do vampiro (os de verdade, não as fadas que brilham ao sol) com todo a vitalidade. Contanto, não é assim.
    A vida longa não traz apenas benefícios e mais tempo e oportunidades.
    Ela traz consigo o preconceito tão bem explanado em seu texto de quem inevitavelmente não estará mais nos padrões de "perfeição" estabelecidos pela sociedade, a experiência de ver pessoas que se ama partindo (óbvio que isso pode acontecer antes, já tive perdas, porém, com o passar do tempo sei que isso é inevitável e esta seria a minha resposta se fosse eu o entrevistado, pois este medo é constante), as limitações físicas provocadas pelas diversas e inevitáveis doenças que vem com a idade e, por fim, não sejamos hipócritas, a luta também contra a perda da juventude em si. Todos temos um pouco de Dorian Gray.
    Eu não sou contra cirurgias plásticas, embora ache um preço bem alto a se pagar, talvez por ser muito cagão com tudo o que é relacionado a hospitais e bisturis.
    Não sei se pagaria este preço por vaidade. Até em caso de saúde costumo sempre "empurrar com a barriga", só de pensar que posso vir a precisar extrair um siso, fico com medo, (falei que sou cagão, rs) e cirurgias por mais "simples" que sejam, possuem muitos riscos. Conheci duas (sim, duas) mulheres que eram próximas de minha mãe que morreram por complicações na lipoaspiração e eram pessoas com boas condições financeiras, que puderam pagar por um cirurgião renomado. Pode acontecer a qualquer um.
    Pessoa deve se perguntar se vale tanto o risco, se aquilo é tão importante assim, se não for tão importante ao ponto de afetar gravemente seu estado psicológico e consequentemente, a sua vida normal, acredito que o melhor seja desistir.
    Academia eu vejo como um círculo meio vicioso e tenho casos na família de pessoas que entraram com a ideia de ter uma vida saudável e hoje são o que chamam de "vigoréxicas". O ambiente em si propicia este transtorno pouco divulgado, acredito eu. Uma delas, que teve que deixar de treinar por causa de um problema de saúde, acabou por me confessar que sentia-se aliviada de "tamanha pressão".
    Poderia falar aqui que o correto seria o equilíbrio e é, porém, o complicado é saber quando e como parar. Penso que tanto cirurgias quanto treinos de academia viciem e tornem a pessoa meio obcecada pela aparência, independente se descuida ou não do interior.
    É isso, sempre escrevo um post em cima de um post que gosto.
    Abraço e boa quinta.

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  8. Olá !Obrigada pela sua visita ao meu blog e ,principalmente, por ter tido paciência ao ler uma de minhas estorinhas.Fiquei muito feliz!Bem, vc escreve mais profundamente, ou seja, temas mais "sérios'" e necessitados de uma reflexão maior.Escreve bem, argumenta bem tbm.Partilha o que pensa e o que acha nos deixando mais "cultos".Foi um prazer o contato, até breve!

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  9. Olá! Obrigada pela sua visita e leitura.Que bom que gostou da minha estorinha.Seu blog é bem interessante, vc discorre sobre vários temas da vida adulta rs, gostei :).Espero mantermos contato.Até breve!

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