Descaso educacional: até quando?


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No dia 13 de Junho de 2012 postei o seguinte desabafo em meu mural no Facebook: 


“Sabem o que eu acho? Que a presidente Dilma deveria revogar essa Lei do Piso Nacional do Magistério ( Lei Federal 11.978) e extingui-la de uma vez - quem é que se importa? Afinal vários governadores e prefeitos não cumprem a Lei alegando "restrições orçamentárias", então deixa lá, certamente há outras prioridades para esse povo. O importante é que esse país é a "6.a economia do planeta" e vai sediar uma p*** de Copa do Mundo com estádios novinhos e reformados.


Ah, e a Educação? Deixa pra lá, não faz falta mesmo. Que tal demolir as escolas e construir no lugar concessionárias de veículos? Ou espaços de shows? Isso gera "emprego e renda", certo? O Brasil não precisa de professores, Educação, escolas, faculdades, perda de tempo.”


Este desabafo, de minha autoria, foi motivado também por mais uma recusa do governador da Bahia, Jaques Wagner, em negociar com os professores em greve pelo cumprimento da Lei do Piso Nacional do Magistério em seu reajuste de 22,22%. A greve dos professores na Bahia, aliás, durou 115 dias com os docentes suportando todas as tiranias de um governador com passado sindicalista e de um partido (PT) que ganhou projeção através de greves e denunciando truculência de governos passados. Os professores enfrentaram o corte de salários, demissões, as ações na “justiça” decretando a ilegalidade da greve, a uma parte da imprensa baiana mais preocupada em não perder as generosas verbas da propaganda oficial do estado; a omissão de instâncias como Ministério Público Estadual e OAB, dos artistas da Bahia (que apareceram durante a greve da PM pedindo negociação entre governo e grevistas), de políticos e de boa parte da sociedade. Lutando sozinhos por um direito garantido em lei, os professores resistiram até o limite e saíram da greve sem ganhos reais – diferentemente do noticiado pelo Jornal Nacional em 03/08, os professores da Bahia recusaram a proposta salarial do governador Jaques Wagner, proposta esta que na verdade era um golpe contra o plano de carreira e a própria Lei do Piso. 


A falta de compromisso do governador da Bahia foi apenas um dos vários fatores que motivaram aquelas palavras duras e amargas sobre Educação. Acompanhar notícias sobre o tema e tomar conhecimento dos relatos de professores é em grande parte desalentador; é verdade que há boas notícias e boas práticas acontecendo em muitas escolas, mas estes se tornam exceções diante de tantos problemas. 



O Brasil investe atualmente 5,1% do PIB ( Produto Interno Bruto) na Educação. A comissão da Câmara do Plano Nacional de Educação (PNE) propôs o investimento de 10% do PIB no setor. Quase simultaneamente, o Ministro da Educação considerou tal meta “difícil de ser executada” e o Ministro da Fazenda considerou que tal investimento “quebraria o país”. Quando ministros de estado consideram que investimento em Educação é prejuízo, a coisa vai mal. 

A sabedoria popular diz que “dinheiro não traz felicidade, mas ajuda um bocado”. Evidente que precisamos mais do que recursos financeiros para a Educação: é preciso acontecer uma revolução no setor, com o resgate da função da escola, a valorização e formação (relevante) do professor, políticas públicas atreladas à Educação e cidadania e tantas outras realizações; mas sem dinheiro nada disso acontece. E os governantes insistem em repetir a ladainha da “restrição orçamentária” quando se trata de investimento em Educação, mas nunca falta dinheiro para reajuste salarial de deputados e nem para a construção e reforma de estádios para a Copa do Mundo de 2014, apenas para citar dois exemplos. 

O resultado da “restrição orçamentária” não poderia ser diferente: 38% dos estudantes do ensino superior não dominam habilidades básicas de leitura e escrita; apenas 2% dos jovens brasileiros querem estudar Pedagogia ou alguma outra licenciatura nas universidades – o “apagão” de professores, sobretudo no ensino médio, já é uma realidade; no ranking da UNESCO, o Brasil ocupa o 88º lugar dentre 127 países. E não é preciso citar outras consequências previsíveis como crescimento da violência (inclusive nas escolas) e baixa qualificação profissional.

Em anos eleitoreiros, a Educação sempre é destaque nos discursos e propostas demagógicas dos candidatos aos cargos públicos – e a proposta revolucionária da vez é a “Educação em Tempo Integral” e sempre que ouço essa historinha tenho vontade de questionar estes candidatos sobre o modelo de escola onde isso seria adotado. A Educação precisa sair do palanque eleitoreiro e ser tratada como fundamental e prioridade por governos e pela sociedade. Ou será que a “6ª economia do planeta” continuará alegando falta de dinheiro e outras desculpas não convincentes para tamanho descaso com o setor? 

32 comentários:

  1. Jaiminho, meu amigo!
    Confesso que pouco li sobre esta greve em específico, e também em outros meios de comunicação, e quase tudo que sei foi através de ti.

    É fato, mais um grande descaso com a educação, 115 dias!!!!!! Nossa! E ainda para este desfecho...
    Além disso, achei interessante que justamente por ser ano eleitoral, um desfecho destes, não?

    Cresci ouvindo essa mesma história, devido a minha mãe que foi professora primária aqui do estado. Depois de aposentada, passou a frequentar as passeatas e etc... dos professores. Um dos gritos de guerra:"... porque foi que te ensinei".
    E é bem isso, porque os professores quando ensinaram essa gente com certeza não foi com o intuito que fossem desvalorizados mais tarde... e isso é além de bandeira partidária, é fato, o cara chega no poder e...

    Sem mais comentários, caro amigo.
    Apenas te desejo força nessa caminhada com mais pedras que asfalto nas rotas.

    Beijos e te cuida!

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    1. Cissinha, obrigado. De fato não houve a repercussão nacional desta greve e tampouco da motivação dos professores em provocá-la. Prejuízo aos alunos, aos professores e até ao próprio governo que viu sua aprovação despencar.

      Porém, entre lutar por um direito garantido em lei e permanecer calado ou omisso diante de tamanha injustiça, a opção é óbvia. Há quem prefira aceitar tudo passivamente. Mas a caminhada continua. :)

      Bjs!

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  2. Oi Jaiminho,

    Tudo bem?

    Quando estive aí essa semana, verifiquei que não existia muita atenção a greve, em nenhuma das categoria, inclusive, a das universidades estaduais. Nem sei o que falar, pois sou professora e, embora, quando algo falha, a educação é responsável, não se valoriza o segmento, que só conta em proposta de governo e nunca como rubrica de PPA. Assisti o JN e observei mais uma inserção mercadológica da greve.

    Embora tantos países sejam referências na educação, pela valorização a profissão, o Brasil continua fora dos trilhos e sem nada a esperar. Nas olimpíadas mundiais de matemática, a Veja dessa semana apresenta alguns brasileiros, mas que só chegaram lá por esforço individual ou em estudo em grupo e nunca como política pública.

    Quanto a estado da Bahia, cidade sem gestão e agora o PT virou direita, não sei se a volta ao Carlismo com ACM Neto seria um retrocesso ou uma tentativa para organizar a cidade.

    No mais, amigo, força aí, estou contigo na luta e no desejo por um mundo que possar oferecer um olhar com maior dignidade.

    Beijos e boa semana!

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    1. Luluzinha, obrigado pelo seu comentário. Estamos na luta justamente por essa dignidade. É preocupante o cenário da Educação aqui no Brasil, mas vamos tentando.

      Beijo!

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  3. Olá Jaime, boa tarde!

    Muito bom o teu texto, sobre o descaso do poder púbico a respeito da Educação. Sabemos que nenhum governo, seja de que partido for, tomará a educação como prioridade, pois sabem bem que a mesma liberta e transforma. Todos os governos, seja de esquerda ou de direita não deram e nem darão a importância que a Educação merece, pois que não é do interesse de nenhum governante ter o seu povo esclarecido,pois que essa nova consciência colaria fim ao eterno ir e vir aos postos que desfrutam no Poder.

    Excelente domingo pra ti e sua família, Jaime, e que a nova semana, seja pelo menos, cheia de alegrias pra todos nós!

    BJos da Lu...

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    1. Obrigado, Lu. De fato, um povo consciente não é facilmente manipulável.

      Beijos!

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  4. Poxa Jaime... assim como vc, tbem ando muito descrente! Foi bem como falamos, no face. Chega uma hora que o cansaço toma conta. Inevitável... é como lutar contra a corrente mesmo. Do tipo, nadar, nadar para morrer na praia!

    Não há apoio... não há sequer respeito pela nossa luta, por parte de ninguém. Aliás, já discutimos sobre isso, né!?

    Eu já disse e repito, vcs, colegas da Bahia, foram guerreiros durante essa luta. Infelizmente a resposta não veio positivamente, mas foram grandes guerreiros! O que o governo fez com vcs foi uma vergonha!!! Depois perguntam pq os professores estão desistindo da profissão... enfim, assim caminha, peeeessimamente(diga-se de passagem), a humanidade.

    bjks JoicySorciere => CLIQUE => Blog Umas e outras...

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    1. Joicy, conversamos bastante sobre isso e é realmente desalentador. Ando muito preocupado com os rumos que tamanho descaso à questão educacional vêm tomando no Brasil.

      Bjs!

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  5. Boa tarde, Jaime.
    É triste, repugnante e lamentável o descaso do Governo com a Educação; criam uma lei garantindo uma renda (em muitos sentidos) mínima e depois dizem que não dá para cumpri-la, alegando falta de verba.
    Acontece que, para votar aumentos abusivos para si mesmos na calada da noite, aí há disposição e interesse.
    E o pior de tudo é se ver todo esse descaso com a conivência da maioria dos meios de comunicação, que passam qualquer fofoca de famoso no lugar de mostrar a verdade.
    O mínimo que qualquer cidadão de bem pode fazer é ficar indignado com isso, e procurar lembrar disso na hora de votar.
    Sem Educação, não há futuro, e se não se tem nenhuma esperança no futuro, o presente se perde.
    Abraço, Jaime.

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    1. Jacques ( que não é o Wagner, felizmente!) as empresas de comunicação recebem verbas e por isso a "informação" atende certos interesses. E o fracasso educacional brasileiro não raramente é atribuído apenas aos professores.

      Um abraço.

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  6. A mídia, infelizmente tem grande responsabilidade nisso, é ela quem vilaniza os grevistas e diminui o impacto que suas ações provocariam naqueles que não estão diretamente envolvidos. O mesmo sempre acontece com manifestações de diversas outras categorias, como a dos bancários, que vivem um abismo salarial dentro das próprias empresas onde trabalham, com cobranças absurdas de metas e constante achatamento salarial. A grande mídia pouco fala sobre o assunto e quando fala é sempre de uma forma prejudicial à manifestação...

    http://sublimeirrealidade.blogspot.com.br/2012/07/o-segredo-dos-seus-olhos.html

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    1. Pois é, Bruno, como se apenas a greve fosse "prejudicial" a alunos e à sociedade em geral. Abs e obrigado!

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  7. Ei Jaime, concordo com você, a coisa vai mal. Como assim não há verba para a educação? É tanto 'desenvolvimento' nesse país que estamos regredindo. Vejo muitos professores hoje descrentes com a profissão, e não é para menos. É realmente vergonhoso...
    Grande abraço

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    1. Não é, Mateus? A 6.a ou 7.a economia do planeta não é capaz de pagar salários dignos aos professores e investir nas escolas e no sistema educacional? Estranho...

      Abraço e obrigado.

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  8. Amigo Jaime,
    Estou acompanhado há tempo este drama educacional.
    Essa situação somente muda de endereço e tem algumas peculiaridades, mas a história é a mesma: demagogia, anfiguri, descaso, desvalorização docente, hipocrisia....
    No entanto, ninguém entende, tampouco defende a classe.
    Somente nos resta rezar, paralisar e protestar para sermos notados.

    Amigo, as charges e o texto, como sempre, estão espetaculares.

    Abraços.

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    1. Bento, é o que digo: se mandar cartinha e assinar abaixo-assinado resolvesse, não seria necessário greve, manifestação, etc.

      Obrigado! Abraço!

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  9. Oi! Eu não sou da Bahia,mas acompanhei a situação pelo seu blog e twitter, além de comunidades no orkut desde o ano passado, Li o que você escreveu no facebook na sexta-feira, e não muitas horas depois uma conhecida emissora de tv divulgou o fim da greve, dando a entender que houve acordo: só faltou dizerem "foram felizes para sempre".. escrevi sobre isso no meu blog também:
    http://devaneiosedesvarios.blogspot.com.br/2012/08/ate-quando-esperar.html

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    1. Isso, Marina. E eu - e outros professores - enviamos protestos para a Rede Globo, JN, canais de comunicação da Globo e nada. Lamentável!

      Obrigado!

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  10. Tenho um pensamento perturbardor aqui comigo que criei lendo seu post. Seria a única salvação dá educação desse país uma melhor educação? Me explico.

    Para uma pessoa ter conciencia de suas péssimas escolhas políticas no caso ela precisa entender o mínimo sobre constituição federal ou ao menos ler jornal...Oo que exige da pessoa o mínimo de educação.

    Me corrija se eu estiver errada, mas a educação depende da melhoria da educação... nossa, estamos lascados!

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    1. Camila, é mais ou menos o que eu citei: é preciso que parte da sociedade tenha a consciência de a Educação, sozinha, não muda o mundo, mas sem ela nada pode ser mudado. (parafraseando Paulo Freire rs)

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  11. Jaiminho, caro amigo!
    Acabei de postar a nossa terceira parceria, de uma série, assim espero, infinita! :)
    Muito obrigada por tudo, pelo respeito, pela elaboração em conjunto que sempre é uma experiência muito enriquecedora para mim, já sabe.
    Grande beijo e que venha mais e mais!

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  12. Grande amigo Jaime,
    Vim lhe parabenizar pelo belo trabalho que fez juntamente com nossa amicíssima Cissa.
    Da charge ao conto está admirável.

    Abraços do amigo!

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  13. Jaime....amei a paeceria com a Cissa...demais....
    A charge..perfeita..
    bjiusss

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  14. Jaime em relacao a sua cronica.. perfeita..
    Este PT esta se mostrando que nao e diferente de nehum outro partido.
    O que se paga ao professor hoje em dia e uma vergonha nacional..... hoje em dia nao..hoje em sempre...
    Eu fiz pedagogia, na epoca a intensao era ser educadora, mas confesso,
    fui pra outras bandas porque precisava sobreviver e ajudar a minha famila.
    Fui ser vendedora de carro.. pois e...
    Enfim...espero sinceramente que um dia a ducacao neste pais seja colocada como prioridade
    e nao da pra falar em educacao de qualidade sem a valorizacao do professor.

    Um bj...

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    1. Ma, ainda bem que Paulo Freire não está vivo para ver o que se tornou o PT. Pois é, você "caiu fora" do magistério. Muitas pessoas estão fazendo isso também. :(

      bj

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  15. Olá Jaime! Eu sou amiga da Cissa, e acabei de ler a sua parceria com ela, e resolvi dar uma espiadinha por aqui, e devo admitir que gostei muito, de tudo, da parceria e do blog!
    Já que estamos aqui... falar de política não?! Essas verbas que "fingimos" não saber onde vão parar né?! Gastam com tantas coisas desnecessárias...e os cidadãos,estados, profissionais todos com dificuldades, e eles preocupados com tantas outras coisas, só lembram do povo na época de eleição!!!!

    P.S: É você quem faz as charges??? São muitos bons!

    P.S.2: Seguindo (:

    Beijos

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    1. Obrigado, Letícia! Seja bem-vinda! :) Sim, as charges são de minha autoria. Vez em quando eu acerto a mão rs E é isso mesmo: esses políticos, na hora das eleições, aparecem como "redentores". bjs!

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  16. Olá Jaime,
    Olha, eu lembro quando você escreveu tais palavras de desabafo no facebook e por incrível que pareça (sou o mestre em fazer isso) fiquei refletindo sobre suas considerações e acho que nem escrevi nada. De qualquer forma somos solidários quanto a esse descaso na educação do nosso país, que prefere entupir o bolso das empreiteiras de dinheiro enquanto escolas e professores ficam com o pires na mão. De fato agindo assim eles matam dois coelhos com uma cajadada só, pois tais eventos facilitam o desvio de dinheiro e o enriquecimento ilícito de determinadas pessoas, e o povo, coitado, sem educação, alienado, e totalmente sem condições de iniciar qualquer tipo de movimento pela mudança. É muito triste isso meu caro!

    No mais só posso te elogiar pelo texto e pela charge, no mais nem sei se ainda podemos ter esperança.

    Abraços, Flávio.
    --> Blog Telinha Crítica <--

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    1. Flavio, assino embaixo! E o gostinho de "desesperança" é cada vez mais forte, ácido... sei não. :( Abs!

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