Indicações literárias I

Vocês já sabem como é: final de ano é tempo de listas e retrospectivas. Lista de presentes, lista pro Papai Noel, lista de amigo secreto, lista de confraternização, programas chatos de TV, a “retrospectiva 2011” e assim por diante.

Para desgosto e apreensão dos meus 5 ou 6 leitores – aumentou este ano, oba! - eu também farei uma lista e retrospectiva por aqui, mas de alguns livros que eu li ao longo deste ano. Não esperem resenhas elaboradas como os críticos literários fazem – eu tenho a maior inveja de quem consegue escrever poeticamente ou trechos como “o autor destila em sua obra gotas agridoces que reverberam em nosso interior fluindo a cada página magistralmente escrita” - e sim apenas algumas rápidas considerações de quem é apaixonado por literatura.

Histórias Apócrifas – Karel Capek
Pensem assim: o que teria acontecido se Romeu e Julieta realmente casassem e vivessem “felizes para sempre”? E que tal o desabafo de um padeiro de Jerusalém sobre um “certo nazareno” que multiplica pães e os distribui gratuitamente para as pessoas? E Don Juan no leito de morte fazendo uma confissão? E tudo isso e muito mais com um senso de humor agudo e inteligente? Senhoras e senhores, este é o fantástico escritor tcheco Karel Capek. É um livro sensacional que indico entusiasticamente.

A Fábrica de Robôs – Karel Capek
Capek é muito pouco conhecido no Brasil. Quando se fala em literatura tcheca lembramos imediatamente de seu representante mais famoso: Franz Kafka. E de Milan Kundera, principalmente por “A Insustentável Leveza do Ser”. Mas lembre-se de Capek ( ou Tchápek) ao deparar com a palavra “robô”: foi o responsável por universalizar este termo – que tem raízes etimológicas no eslavo e no tcheco, no sentido de “escravo” e “trabalho forçado”. O que Capek traz nesta obra, escrita em 1920, é um alerta sobre os avanços indiscriminados da ciência e da tecnologia, quando robôs assumem as atividades humanas. Capek também escreveu “A Guerra das Salamandras” e este já está aqui na minha prateleira para a leitura em 2012 – se o mundo não acabar, é claro.

Cartas na Rua – Charles Bukowski
A editora L&PM detém os direitos para a publicação da obra do velho safado aqui no Brasil. E fez um belo trabalho este ano: “Pedaços de um caderno manchado de vinho” ( que traz o primeiro conto de Bukowski publicado), “Mulheres” e este “Cartas na Rua”. E recomendo este livro para quem deseja iniciar no universo do escritor porque está tudo ali: as mulheres, as bebedeiras, os pretensiosos, os empregos imbecis – Bukowski trabalhou 11 anos nos Correios de Los Angeles e em mais uma série de empregos e subempregos antes de viver apenas da literatura, coisa que só foi acontecer muito mais tarde – e, claro, a literatura. Os marinheiros de primeira viagem podem assustar com o estilo desbocado, obsceno e confessional do autor, mas identifiquem o senso de humor e as críticas ao “american way of life” de um jeito que só Bukowski sabe fazer.

A arte de viajar – Alain de Botton
Eis um livro que engana em sua introdução, um tanto enfadonha. O primeiro impulso é conferir o número de páginas: 272 nesta lenga-lenga descrevendo um plano de viagem, impressões sobre um hotel no Caribe e aeroporto? Não é muito estimulante. No entanto, superadas as primeiras páginas, chegamos à página 272 com aquele gostinho de “quero mais”. Alain de Botton é filósofo suíço e traz nesta obra considerações sobre o ato de viajar – não as viagens dos pacotes, guias e turistas apressados em “curtir” brevemente 6 países da Europa e tirar fotos e mais fotos, mas como as viagens podem e devem ser apreciadas fora de roteiros pré-estabelecidos, além de serem inspiradoras. E o autor tece suas considerações em companhia de gente ilustre: Baudelaire, Van Gogh, Flaubert, Ruskin, dentre outros grandes artistas. Uma agradável e deliciosa surpresa a leitura deste livro. Boa viagem!

A vida humana – André Comte-Sponville
Do filósofo francês eu poderia indicar o extraordinário “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes” e o incrível “Bom dia, Angústia”, mas indico este pequeno “A Vida Humana” porque é um livro que trata com muita sensibilidade e inteligência fases da vida humana ( infância, adolescência, trabalho, morte, etc). Tal como “A arte de viajar”, também este livro inicia de forma enfadonha – e o próprio Sponville pede desculpas ao leitor por iniciar com as “abstrações”. Um belíssimo livro que mesmo em momentos mais duros – nunca tire conclusões de uma frase deste filósofo materialista: aguarde até ele concluir todo o raciocínio – traz uma mensagem inteligente e mesmo confortadora.

As crônicas marcianas – Ray Bradbury
O livro mais conhecido do autor norte-americano é “Fahrenheit 451”, que é realmente muito bom e recomendo também este livro que narra o drama do "bombeiro" Montag. Já “As Crônicas Marcianas” constitui-se em pequenos contos ou crônicas sobre a tentativa do homem em colonizar o planeta Marte. Escrito em 1951, alguns criticam Bradbury por ter sido “mau profeta” – no livro a 1ª expedição tripulada para o planeta vermelho acontece em 1999 – mas o que importa aqui não é o exercício de futurologia, e sim a literatura, a ficção: como o ser humano lidaria com um planeta novinho em folha, prontinho para explorar? Prestem atenção ao personagem chamado Spencer, mas não torçam (muito) por ele...

O Melhor de Stanislaw Ponte Preta
É sempre muito bom ler e reler o velho Stanislaw, pseudônimo do jornalista e escritor carioca Sérgio Porto. O criador de personagens tão hilários quanto sagazes do naipe de Tia Zulmira e Primo Altamirando brinda os seus leitores nesta coletânea com um humor leve, criativo e inteligente. Foi também o inventor do termo “FEBEAPÁ – Festival de Besteiras que Assola o País”. Em plena ditadura o velho Stanislaw usava o humor para demonstrar as peripécias políticas no Brasil – se estivesse vivo hoje o escritor teria farto material para continuar o FEBEAPÁ.

Eles eram muitos cavalos – Luiz Ruffato
Meu, esse livro é São Paulo em seu estado mais bruto e bagunçado, tá ligado, mano? É tudo misturado em uma única trama: nordestino, mineiros, paulistanos, judeus, chamadas publicitárias, prosa, poesia, conto, classificados de jornais, passagens bíblicas, cartas, enfim, uma zona, tá ligado? Lembra até o clássico “Zero”, de Ignácio Loyola Brandão em determinados momentos. Trata-se de um livro que é igualzinho São Paulo: caótica, plural e surpreendente.


Estes foram alguns livros no ano de 2011 que indico a leitura. Em breve espero trazer a segunda parte desta lista e com um bônus não muito agradável: os livros que não agradaram. Como diria um famoso literato, “faz parte”.

17 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Todas as dicas parecem ótimas.Mas fiquei curiosa pela primeira:Histórias Apócrifas – Karel Capek
    Vc fala em senso de humor inteligente e eu adoro esse tipo de leitura.Preciso de textos leves,e ando tão sem paciência pra ler.Pode ser que eu encontre o prazer nesse livro.Vou tratar de achá-lo.
    Obrigada pelo apoio Jaime.Legal ter conhecido vc.
    Bom fds,bjcas

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  3. Querido Jaime,

    A leitura é algo que me fascina e você está de parabéns por postar algo tão produtivo (como sempre!)...

    Fiquei muito curiosa com o Histórias Apócrifas. Já coloquei ele na minha lista de pedidos pro Noel...

    Abração da Vivi

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  4. É, fessô...

    Sempre boas dicas. Fui procurar o Histórias Apócrifas e o prazo de entrega é de 32 dias.

    bjohnny!

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  5. Oioioiiii, querido Jaime! Tudo bem? Correria diminuindo, né!? Acredita que minha semana foi tão cansativa que hoje nem acreditei que era sexta feira!? Isso mesmo! Chegou o final do meu turno e eu já estava pensando em como seria difícil levantar amanhã... foi então que deu um clique "Eiiii, hoje é sexta feira!!!"... Ufa! Quero descansar bastante!

    Então, vamos ao seu post... adorei as dicas! Mas, sabe qual delas fez meus olhinhos brilhar!? Dou um doce se adivinhar! hahhahahhahahaha... o velho safadooone, claro! Adoro o jeito "desbocado, obsceno e confessional" do véio Buk.
    Grande beijo

    JoicySorciere - Blog Umas e outras...

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  6. Jaiminho,
    Um comentarinho para te avisar que depois vem o comentariãoooo,
    sabe que gosto muito do Groo, por isso tenho que voltar com a calma que teu trabalho merece!

    Beijinhos e te cuida :)

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  7. Com essa forma de sinopse, quem não vai se interessar pelos livros? Você fez um chamado difícil de não se atender. Já anotei.

    Bjs.

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  8. Olá Jaime tudo bem?
    Rapaz alguns livros aí parecem bons mesmo. Legal um blog ainda ligar pra literatura, eu vejo muitos blogs bobos por aí mas a gente nunca perde a esperança né?

    Parabens véio.

    Passa lá no meu pra conhecer depois.

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  9. Olá Jaime!!

    Bacana suas dicas de leitura.
    Este ano eu não fiz a lição de casa direito..rs

    Estava tão entusiasmada com meu trabalho que me diddiquei mais a livros relacionados a artes, deixando outras leituras de lado.

    Um beijo..final de semana de paz a vc!!

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  10. Oi Jaime!!

    Ótimas dicas, estava precisando de umas dicas assim...

    Sabe que estava lendo esse do Bukowski, Cartas na rua, impressionante como gostei do velho safado!!! Rsrsrs...

    Beijocas, aguardo a segunda lista...hehehe...

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  11. Oi, eu também estava precisando de umas dicas; nada como um bom livro, me sinto acompanhada*, é verdade que, com a internet estou lendo menos, isso não é bom, eu devorava livros, em tempo de férias, eu lia direto...agora estou mais lenta.
    Também amo cinema e adoro ver bons filmes, que tal uma lista com bons filmes, indicas?
    Beijos, fica com Deus; ótimo fim de semana.
    Mery*))

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  12. Jaiminho,
    querido amigo!

    Primeiro quero te dar os parabéns, por quê?
    Porque você postou essas dicas literárias, e acho, pelo que tenho visto, falta um pouco isso na blogosfera, não só resenhas literárias, dicas, enfim..., mas mais literatura mesmo!

    Confesso-te que não li nenhum livro que citaste, mas por isso mesmo se torna mais interessante ainda.
    Sempre li mais livros didáticos que qualquer outro, e atualmente não tenho tempo nem concentração para ler literatura e escrever, opto então por escrever.

    Destes que citaste, o da viagem - A rate de viajar - foi o creio mais interessante para mim, até porque comunga com o que penso, pelo menos a partir de tua resenha, que é o fato de explorar também outros pontos, fugir dos roteiros turísticos, fazê-los sim, mas num primeiro momento. O ideal é poder se misturar ao povo, como fiz na República Tcheca, peguei ônibus e fui ao interior, tentando falar (um parco inglês cat-dog), mas deu, e minha surpresa, entrei numa loja e o pessoal estava ouvindo "Xica da Silva", pode? Pode.. é a tal da globalização, tchê!

    Excelente!
    Beijinhos, te cuida :)

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  13. Jaime, tô aqui de novo! Óóóóótima escolha de musica, para esse momento final! Hahahaha... Alice Cooper!!!! Yeahhhhh... Escutei aqui e já me senti de férias! Hahahahahha

    Ah, vc foi muito esperto em notar esse “problema” com o papai Noel, devido aos seus vizinhos que não ganhavam nada(que triste, né!?? Realidade!!!! Então seu vizinho se parece com o garoto da carta!? Papai noel que se cuide...)!
    É um grande problema com esse “bom” velhinho que só traz presentes... acho que por isso tentamos não inculcar no Gustavo esse senhor que só vem para presentear com “coisas materiais”... houve um natal em que ele trouxe uma cartinha com letras verdes e vermelhas (a tal carta, da qual meu filho questionou, quando descobriu que o véio não existia!)... o brilho no olhar do Tavinho, ao ler a cartinha(isso foi ha dois anos) trouxe algo tão mágico para aquele dia... acho que o sinhô barbudo(que na verdade era a mãe “impostora” que aqui vos escreve... kkkkk) conseguiu trazer algo de bom, naquele final de ano! Sei que é difícil apresentar um papai Noel que não seja capitalista, para nossas crianças... mas, acho que tudo depende de como fazemos isso. Gustavo sempre ganhava presentes sim, em todos os natais(de nós), mas, não era do gordinho que escalava o prédio e foi confundido, pelo meu filho, com o Homem Aranha. Esse senhor, era apenas um símbolo especial, que aguçava a curiosidade dele. :) ...

    Ah, com certeza hoje em dia as crianças, com “gúgol” e mil e uma formas de informações, acabam descobrindo de forma diferentes a não existência do senhor que mora no Pólo Norte.

    Tbem gosto das duas versões(Ratos de Porão e Garotos Podres), da música “Papai Noel FDP”... apesar que garotos podres, na maioria dos vídeos que encontrei no youtube cantou “papai Noel velho batuta”(penso eu que seja para ser aceito nos programas televisivos em que ele apresentou)... esse foi um dos motivos que escolhi(por sugestão do marido) a versão Ratos de Porão. Precisava de algo mais “agressivo” para combinar com a postagem! Hahahahahhahaah

    Escutei a musica na versão do Reverend Horton Heat(não tinha visto ainda)... gostei!!!! Eu ri do “nada de Simone assassinando...” kkkkkkkk
    Enfim, continuo aqui, com a contagem regressiva! Acredita que só trabalharei até terça!? Bommmm demais!!!!

    Bjks JoicySorciere - Blog Umas e outras...

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  14. Oi Jaime, Gostei muito do seu post, e essas dicas são preciosa, porque adoro ler, e fiquei curiosa com alguns aqui citados. Obrigada pelas dicas.
    Ótima semana pra ti!
    Ja deixo meu desejo de um Feliz Natal e um Ano recheado de sonhos e desejos realizados pra você e toda sua família. Obrigada por estar caminhado comigo ... Que no próximo Ano estejamos juntos novamente... Beijos grande!

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  15. Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, eu li, mas não li mais nada do que vc citou. vou correr atras e aproveitar que de férias, posso ler algumas coisas que não sejam trabalhos acadêmicos !

    Abraço Jaime !

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  16. Eu também já quero conhecer os livros citados!! Karel Capek, eu não conheço e já vou procurar saber mais, também, por ser tcheco como Kafka (que penso em escrever meu tcc sobre ele). Gostei do blog, Jaime! Eu também costumava fazer listas de livros, músicas e filmes no fim do ano!!

    Abraço!

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