Tá todo mundo louco ou só eu?

Eu já comentei há algum tempo sobre o meu desejo de ser uma espécie de alienado, do tipo que não se importa com o que acontece na política, na sociedade, no mundo. Ou apenas dar atenção às chamadas futilidades dos programas de fofoca, celebridades e programas de auditório na TV e demais mídias.

Como cantou Caetano Veloso, a impressão que tenho é que alguma coisa está fora da ordem. Ou talvez eu esteja deslocado e parado no tempo. Quando vejo que um professor universitário iniciante no Estado da Bahia recebe pouco mais de R$ 700 de salário ( sem as chamadas “gratificações”) e um bombeiro no Estado do Rio Janeiro recebe algo em torno de R$ 950 fico pensando no que é essencial para a sociedade, sobretudo quando comparo a relevância do trabalho de professores e bombeiros em relação a deputados, vereadores e senadores – e sem falar de governador que trata com desdém absurdo a educação ou chama bombeiros grevistas de “vândalos”.

Agora faça um pequeno exercício de imaginação: você é o técnico da seleção brasileira de futebol e tem à disposição para o ataque do time o Ronaldo Fenômeno no auge da forma física e técnica, 100% inteiro e motivado para vestir a camisa da seleção; mas aí você surpreende a todos e resolve convocar o esforçado e simpático perna de pau Obina. Loucura, não? Pois é mais ou menos isso que aconteceu na eleição do jornalista Merval Pereira para a Academia Brasileira de Letras: de um lado o escritor baiano Antônio Torres, autor de vasta e elogiada obra e ao menos um grande clássico, “Essa Terra”; de outro um jornalista que é mais notado por suas ferozes opiniões sobre o ex-presidente Lula – o que rendeu um livro, totalizando duas obras literárias em sua carreira até aqui. Não se trata de partidarismo ou oposição/situação: deveria ser literatura. E a ABL demonstra, com essa escolha, que a literatura é somente um mero detalhe a ser observado.

Continuando com o que há de mais bizarro no Brasil, dou razão ao velho clichê dos apresentadores sensacionalistas de TV: “bandido tá solto e gente de bem tá presa em casa”. Do jeito que as coisas vão é melhor deixar assim. O sujeito vai até o supermercado da esquina para sacar uns trocados do caixa eletrônico e descobre que na madrugada alguns bandidos resolveram explodir o equipamento para sacarem muito mais do que uns trocados; assustado, o sujeito resolve ir à padaria para tomar um cafezinho e senta-se ao lado de um distinto e simpático senhor. Mais tarde, no telejornal, o sujeito descobre que os bandidos responsáveis pela explosão de terminais eletrônicos de bancos são da polícia e o distinto senhor que tomava cafezinho na padaria é um assassino confesso da namorada e que nunca cumpriu a pena graças aos inúmeros habeas corpus e recursos legais.

Eu sei que as coisas estão mudando e que há novos padrões de comportamento na sociedade. Bob Dylan também mandou seu recado: the times, they are changing. Apesar disso já afirmei que não sou saudosista, apenas sigo lógicas que hoje parecem estranhas: Academia Brasileira de Letras = literatura. Polícia = segurança. Bandido = cadeia. Professor = respeito. Bombeiro = herói. Simples, não é? Por isso encerro estas ingênuas reflexões citando outro gênio da lógica simples, o grande filósofo Falcão:

Porque homem é homem

Menino é menino

Político é político

E baitola é baitola.

13 comentários:

  1. Ah, esse povinho antiquado! rsrs
    Nas últimas eleições, um candidato a governador aqui no RJ, desses que se candidatam só pra fazer barulho, levantou uma questão importante. Usava os poucos segundos de propaganda eleitoral que tinha pra dizer uma única frase: "quem joga bomba em professor, não pode ser governador". Quer dizer... a questão não foi considerada tão importante assim pq Cabralzinho foi reeleito no primeiro turno com quase 70% dos votos.
    De sábado pra domingo ele repetiu o que fez com os professores, só que dessa vez com os bombeiros e, a meu ver, de forma mais grave. Não sei quem serão os próximos.
    Não posso me esquecer também, que em tom de deboche, o governador disse que os bombeiros deveriam ter feito outro tipo de manifestação, “deviam ter feito uma passeata porque caminhar faz bem”.
    Aí eu me lembro das vezes em que os bombeiros choram de felicidade após um resgate e de tristeza por não conseguirem salvar uma vida numa tragédia e do outro lado o governador que não chora nossas tragédias, exceto a perda de uma bela soma dos royalties.
    Eu não sei se isso é bizarro, se isso é loucura ou se a louca sou eu, mas não tenho dúvidas que esses acontecimentos me envergonham.
    Mas, pra tbm citar Falcão, amanhã será tomorrow e talvez mais pessoas percebam que estamos aceitando certos absurdos como se fossem normais. Idealista, eu? Que nada...

    Bjohnny!

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  2. Bem assim é aqui em Sergipe, o governo não quer pagar o piso nacional dos professores aos mais antigos e como eles estão em greve faz propaganda na TV falando: Professores voltem às aulas para não prejudicar ainda mais os alunos.

    Michelle Passos

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  3. Moça cabofriense, pra mim esse é o pior problema: as pessoas - ou a maioria - estão aceitando certas situações de forma muito passiva. Esses "políticos" fazem o que bem querem e bem entendem durante sua estada no poder e fica tudo por isso mesmo. "Ah, mas o que fazer?" Creio que estamos perdendo a capacidade de nos indignarmos com bombeiros em estado de greve sendo presos como perigosos bandidos ( no Congresso Nacional tem um monte!) e aqui pelos lados da Bahia um governador que é ex-sindicalista trata professores universitários grevistas com absoluto desdém e corta seus salários.

    Mas tá tudo normal...

    Bjk!

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  4. Michele, essa é a tática dos governos e a imprensa embarca: "A greve prejudica os alunos". Como se dar aula em escolas ruins, sem segurança, infra-estrutura e com professores desmotivados com carga horária pesada e um salário que parece mais com ajuda de custo não prejudicassem os alunos.

    É muita hipocrisia, eu acho.

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  5. Merval Pereira... ABL... foi a piada de mau gosto mais sinsitra que já ouvi. Hoje não basta mais a piada, é feita a coisa mesmo! Eu não quero nem procurar a opinião dos escritores sobre isso. Não estou a fim de me aborrecer nos próximos dias

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  6. Nobre Quintella: é piada de mau gosto e desconfio que ao menos os imortais da ABL não estavam preocupados com a opinião dos demais coleguinhas ditos "mortais". Mas como todo contentamento mortal é mortal ( dá-lhe Montaigne!), esse povo todo passa...e a história - e os leitores - é que farão justiça.

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  7. Oi Jaime!

    Saudade de estar por aqui e refletir junto com suas palavras...

    Penso: Não será melhor me alienar disso tudo e fingir que nada acontece? Pensar em fofocas,na novela e no querido e pequeno mundo chamado "MEU umbigo"?
    Seria mais feliz? Estaria me tornando uma louca, achando tudo isso absurdo?
    Mas sabe Jaime, acho que as coisas chegaram onde chegaram justamente pelo grande numero de pessoas alienadas, que não querem se envolver, por achar que é mais fácil não falar e não se meter. O mundo precisa de pessoas como você, que escreve, questiona, sofre e tenta mudar algumas cabecinhas...

    Não desista! Rs...

    Beijos!!!

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  8. "Joaquim José / Que também é
    Da Silva Xavier / Queria ser dono do mundo
    E se elegeu Pedro II
    Das estradas de Minas / Seguiu pra São Paulo
    E falou com Anchieta / O vigário dos índios
    Aliou-se a Dom Pedro / E acabou com a falseta
    Da união deles dois / Ficou resolvida a questão
    E foi proclamada a escravidão/ E foi proclamada a escravidão
    Assim se conta essa história/ Que é dos dois a maior glória
    Da.Leopoldina virou trem / E D.Pedro é uma estação também
    O, ô, ô, ô, ô, ô / O trem tá atrasado ou já passou" (Samba do Crioulo Doido)

    O seu brilhante texto me lembra esta lógica aí de cima, Jaime. Estamos vivendo sem nenhuma lógica digna de um contrato social.E o povo continua feliz nas compras diárias; parece-me que isso tem bastado para a maioria .

    Um abraço, meu amigo e OBRIGADO pela solidariedade para comigo nesse momento tão doído. Paz e bem

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  9. Fabi, não desisto não, sou teimoso...hahaha! Há situações em que devemos refletir, provocar o debate. Há quem pense que isso seja pouco, mas daí podemos mobilizar algo. Acredito nisso.

    Beijo e volte logo! :)

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  10. Cacá, como sempre, você traz um brilho todo especial para este humilde e tosco espaço. Bom você ter citado o contrato social, parece que é quase por aí mesmo.

    Imagine...nessas horas me faltam palavras, então resta mesmo é a solidariedade.

    Um abraço!

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  11. Cabeça Feminina, eu agradeço a sua visita e comentário. Não tem que pedir desculpas, imagine! :)

    Ótima semana pra vc também! Bj!

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  12. Com todo respeito, nem gostei do seu post, é do tipo que fala, fala, e não diz nada.

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  13. Bom, Elvis ( from Graceland or Las Vegas?)neste post eu falei sobre Educação, Literatura, impunidade, violência e de como tais assuntos vem sendo tratados na sociedade. Alguma coisa está dita :) Obrigado pela visita

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