As enchentes em SP, tragédia no Rio:Deus, natureza, descaso ou tudo junto?

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O cenario é apocalíptico e eu custaria a crer se não acompanhasse as imagens que chegam através da TV e da internet. Palavras não conseguem descrever a tragédia que se abateu sobre a região serrana do Rio de Janeiro, principalmente nas cidades de Nova Friburgo e Teresópolis.

Em São Paulo, pra variar sempre nesta época do ano, enchentes e alagamentos fazem vítimas e causam transtornos à população na capital e cidades próximas, como Franco da Rocha e Caieiras. Como é de praxe, tanto no caso do RJ, SP e MG, procuramos apontar as causas e os culpados por tantas tragédias.

Apontamos quase uníssonos os políticos que pouco ou nada fazem diante da destruição anunciada todos os anos neste mesmo período de chuvas de verão, mas esquecemos daquele vizinho que joga uma latinha de cerveja ou garrafa PET na rua. E da latinha ao sofá boiando nos córregos encontramos, em parte, o porquê de tantas enchentes em níveis diluvianos – e isso não é um exagero.

No entanto os governantes têm a sua culpa no cartório. O discurso atribuindo à natureza e a Deus as causas da tragédia não é novo e nem exclusividade dos políticos brasileiros. No livro “Planeta Favela”, o autor Mike Davis traz um interessante relato que encontra semelhanças com o que vemos e ouvimos aqui no Brasil:

“Em Novembro de 2001, os bairros pobres de Bab el-Oued, Frais Vallon e Beaux Fraisier, em Argel, foram atingidos por cheias e enxurradas de lama devastadoras. Durante 36 horas uma chuva torrencial arrastou das encostas os barracos frágeis e inundou os bairros de cortiços das áreas baixas e pelo menos novecentas pessoas morreram. Diante da lenta reação oficial, as iniciativas de salvamento foram tomadas pela população local, principalmente os jovens. Três dias depois, quando o presidente Abdelaziz Bouteflika finalmente surgiu, os moradores, irritados, gritaram palavras de ordem contra o governo. Bouteflika disse às vítimas que ‘o desastre foi simplesmente a vontade de Deus. Nada poderia ter sido feito para evitá-lo’. “

Acho que concordamos ser muito difícil para o homem tentar domar as forças naturais e a vontade divina que regem este planeta, mas se temos criatividade – e arrogância – para mesmo assim persistir e tentar modificar os rumos da natureza ( e de Deus, quem sabe?), temos também criatividade para minimizar os estragos causados pelas enchentes. O problema é vontade. Enquanto nossos deputados compareciam em peso para a votação do polpudo aumento em seus salários, 30 projetos de prevenção às enchentes estão parados no Congresso aguardando votação.

Enchentes ocasionadas por grandes volumes de chuvas e deslizamentos de terras acontecem desde sempre, são fenômenos naturais - e aí é com a Geografia e Geologia. E tais fenômenos continuarão a acontecer e causarão inúmeros estragos, sejam em países pobres ou ricos (como a Austrália). E no ritmo que a humanidade vem crescendo em nível populacional e consequente falta de infra-estrutura nos grandes centros urbanos, estas cenas que vemos no RJ, SP, MG e Brisbane se repetirão muitas vezes. Mas algumas cidades procuram minimizar os estragos com grandes obras. Novamente recorro a Davis:

“As cidades ricas que estão em locais perigosos, como Los Angeles ou Tóquio, podem reduzir o risco geológico ou meteorológico por meio de grandes obras públicas e ‘ engenharia pesada’ : estabilização de encostas com redes geotêxteis, concreto injetado e parafusos para fixar as rochas; terraceamento e redução da declividade de encostas muito íngremes; abertura de poços profundos de drenagem e bombeamento da água de solos saturados; interceptação dos fluxos de detritos com pequenas represas e açudes; e canalização das águas pluviais para vastos sistemas de canais e esgotos de concreto”.

Neste exemplo Davis citou “cidades ricas” e como elas procuraram minimzar os problemas causados pela “a vontade de Deus e a força da natureza” - que atinge a ricos e pobres, mas sabemos que "a pobreza amplia os riscos geológicos e climáticos locais" (Davis) No entanto, em um país onde a carga tributária é absurda e em dois estados localizados na região mais rica em termos econômicos, será que não há espaço para o velho ditado “prevenir é melhor do que remediar”?

SAIBA COMO AJUDAR AS VÍTIMAS DAS ENCHENTES NO RIO DE JANEIRO

Acompanhamos pela TV as diversas manifestações de solidariedade de todos os brasileiros que não permanecem impassíveis diante da terrível tragédia nas cidades da região serrana do RJ.

Até o momento a maioria das ações está concentrada no próprio estado do Rio de Janeiro, inclusive a Cruz Vermelha. Provavelmente a Defesa Civil de seu estado ou cidade disponibilizará equipes para receber as doações de remédios, roupas, alimentos para os desabrigados no Rio.

Se você está no Rio de Janeiro e quer saber mais como ajudar, acesse o link do portal de notícias G1.

5 comentários:

  1. Me impressiono. Me impressiono ao ver as tomadas aéreas do que restou de Itaipava (distrito de Petrópolis, agora totalmente isolado humanamente). Me impressiono com o oportunismo do governador (dar declarações sobre deslizamentos antes do período de chuvas e depois dizer "eu avisei" é nojento). Me impressiono com a _______ (preencha com algo revoltante) dos políticos q nada fazem para evitar esse tipo de tragédia, mais uma vez anunciada, por saberem q mais tarde "aluguéis sociais" serão convertidos em votos. Me impressiono com muita coisa. Me assusto por saber q o q está acontecendo em Friburgo e Teresópolis é maior do q a TV consegue cobrir, por saber q não foram atingidos somente os q moravam nas chamadas áreas de risco.
    Mas algo me impressiona positivamente: a solidariedade espontânea. Ver filas para doação de sangue, ver caminhões partindo com donativos a todo momento, ver a mobilizações das pessoas (aqui em todas as esferas) para ajudar o pessoal da Região Serrana, me dá a esperança de q o mundo ainda tem jeito.

    Daqui, faço o q posso e fico na torcida. Aliás, ficamos todos.

    bjohnny!

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  2. O governo do Rio pediu ajuda a geólogos suíços (que tem tecnologia mais avançada de construções em encostas) e eles disseram que vão dar suporte técnico mas nenhuma ajuda em dinheiro aos governos municipais e estaduais por não acreditarem na seriedade dos políticos brasileiros. Vergonhoso, né?

    Nossa melhor definição (brasileira)
    POLÍTICO: "sujeito que pega dinheiro dos ricos e o votos dos pobres para manter um distante do outro depois de eleito" (do sério anedotário popular)

    Abraçõs, Jaime! Paz e bem.

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  3. Ainda há no Brasil o raciocínio dos colonos e dos administradores portugueses. Os problemas não são resolvidos, logo, vai-se para outras áreas. Tem muita terra por aí. Não se preservam as terras e muito menos previnem contra a tragédia. A culpa, sempre, exclusiva, do povo.

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  4. necessita di verificare:)

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  5. leggere l'intero blog, pretty good

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