Mineiros Chilenos e o resgate: uma breve e tola reflexão

E depois, o que farão com a mina San José, no Chile?
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A menos que você também estivesse debaixo da terra em um deserto não saberia do já famoso resgate de 33 homens soterrados em uma mina que desabou no Chile. Foram 69 dias de angústia, medo e sem mulher, cerveja e futebol ( como eles conseguiram?) até que uma cápsula percorresse um túnel cavado até alcançar os mineiros, em uma profundidade de 700 metros.

E teve de tudo no resgate, até mesmo políticos louquinhos por uns holofotes – e que tal o sorriso colgate do presidente do Chile, Sebástian Piñera, ao anunciar que cumpriu a promessa de trazer os mineiros à superfície “sãos e salvos”? Ainda bem que no Chile não tem IBOPE e DATAFOLHA: “ As chances dos mineiros saírem vivos é de 50%, com margem de erro de 5% pra mais ou pra menos”. Dizem por aí que os presidentes do Atlético-MG, Goiás e Atlético Goianiense já entraram em contato com o colega chileno. O Flamengo saiu na frente e quer contratar...a cápsula!

A imprensa esteve cobrindo tudo, absolutamente tudo o que acontecia em Copiapó. Só faltou mesmo aparecer por lá a Dilma e o Serra. Mas em seu ágil trabalho de coleta de informações, os jornalistas conseguiram histórias curiosas. Alguns mineiros ouviam Elvis Presley e Bob Marley para aliviar a tensão. Ao menos não escolheram Rolling Stones, não podiam correr o risco de ouvir “Under my Tumb”.

E que tal a esposa que descobriu que o marido mineiro tem uma amante? E descobriu lá mesmo, em Copiapó, durante o resgate. A esposa “oficial” já afirmou: ou ela, ou eu. Não se surpreendam se daqui a alguns dias esse mineiro voltar pro buraco e não querer sair mais de lá.

Falando sério agora, realmente foi de impressionar a capacidade de adaptação e sobrevivência destes homens em um ambiente tão inóspito por mais de 2 meses. Mesmo com o fato de serem pessoas já acostumadas a trabalhar neste ramo perigoso que é a mineração a grandes profundidades, isso demonstra o quanto o corpo humano ainda é capaz de surpreender.

O que me deixou impressionado também, afora a complexa operação de resgate e a resistência destes homens, foi algo banal: a necessidade dos mineiros usarem óculos escuros quando apontassem na superfície. Nada mais óbvio, afinal depois de 69 dias com luz artificial e fraca, as pupilas estavam muito dilatadas e sem proteção poderiam sofrer danos terríveis às retinas.

Ao tomar conhecimento deste dado, filósofo de meia-tigela que sou, lembrei-me do mito da caverna de Platão. Homens que não saíam da caverna e só enxergavam as sombras, as imagens projetadas na parede: quando um destes homens saiu e descobriu que havia mais no mundo e na vida do que sombras, foi ignorado e acabou sendo morto pelos demais ocupantes na caverna, que preferiram ficar nas sombras.

Interessante que a luz cega, por alguns momentos. Sair das trevas depois de tanto tempo e encontrar a luz causa um impacto, seja ele físico ou psicológico. E por conta deste impacto, uma mudança na concepção de como enxergamos ( sim, um trocadilho) a vida, muitas pessoas preferem permanecer na caverna. Ou no fundo de uma mina. Alguns querem ser resgatados para ver a luz do sol; outros tantos se acomodam com uma situação nas profundezas e não querem saber de resgate, luzes, impactos ou mudanças. Adaptar-se à luz e tudo aquilo que ela pode oferecer em contraposição a sua ausência parece uma escolha simples, mas tente relacionar esta “luz” com o cotidiano e verá muitos que a desejam, mas a maioria prefere continuar verdadeiramente como está: soterrada, apesar de certo padrão de discurso em tom "otimista" - convidados a embarcarem na cápsula, recuam.

Não foi uma grande filosofia, na verdade essa pataquada toda nem pode ser chamada como tal. Peço desculpas aos verdadeiros pais da matéria, mas se até apresentador de Big Brother já foi chamado de “filósofo”, eu posso arriscar umas bobagens de vez em quando. Não precisam me atirar na mina San José por causa disso, não represento nenhum risco!

Ae, mina, me segue ae, num é fundo do poço naum: www.twitter.com/jaimeguimaraess

12 comentários:

  1. Se o Sebastian Piñera estivesse concorrendo a presidência do Brasil, ele não levaria meu voto.

    Pelo que eu fiquei sabendo devido a essas informações da mídia, a mineração é responsável por 50% do PIB do Chile... e olha só como esses mineiros são tratados. Há várias minas ilegais e nessa aí, que é legalizada pelo governo, já houve um acidente recente que resultou em 6 mortes.

    Se as condições de trabalho nesta mina de San José já era ruim e a segurança no trabalho não era levada a sério pela empresa (era para haver uma saída de emergência... e não tinha), imagine nas outras!

    Por causa deste descaso que o presidente Piñera demonstrou com aqueles que movem a economia de seu país, ele não levaria meu voto.

    Mas ignorando a parte política do caso, fico interessado em saber agora as histórias de eles têm para contar. Provavelmente vai virar um livro, um filme, documentário, etc. E como sou interessado em comportamento humano, certamente será algo que eu irei querer saber mais a respeito.

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  2. Jaime, meu grande: nesse terreno eu posso falar com um pouco de propriedade, afinal passei vinte anos de minha vida trabalhando em minas (além das Gerais, nas de minério também). Posso lhe assegurar que junto com a construção civil e o trânsito é o lugar onde mais se morre de acidentes, se mutila e se endoida pessoas(literalmente). A clandestinidade de muitas e a subnotificação das legalizadas, escamoteiam mais de 80% do que é a dura realidade de uma mina. Quem vê a VALE fazer estas maravilhosas propagandas que mais parecem que ela inventou a natureza, não sabe meia missa do que se passa lá dentro.

    De qualquer forma, você filosofou, sim e com grande competência como lhe soi sempre. As luzes cegam aos que se recusam por ignorância ou conservadorismo a sair das cavernas.

    Meu grande abraço. paz e bem.

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  3. Como você está profundo hoje, Jaime.
    Sim, foi uma história linda que vai encher os bolsos dos produtores de cinema.
    E quanto a sua analogia ao mito da caverna, todos nós temos um momento na vida em que é preferível permanecer na caverna a enfrentar o desconhecido, a isso damos o nome de COVARDIA.

    Um beijão e um ótimo dia pra você.

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  4. Fala Jaimão!

    Cara, nem o mais louco publicitario poderia conceber um reality show quase tão perfeito!

    Sim, faltou somente mulheres e cerveja, o que obviamente por processo de ebulição dos animos resultaria em avalanches de sexo!

    Talvez o cara que tenha arquitetado essa parada toda da Mina seja gay...

    ai a Dilma Rossbife e os direitos humanos! não posso falar de minorias...

    falar em minoria lembrei do Marceleza, alma grande! p...p.

    ahuahueehe sacanagem com o Marcelo...

    opa, sacanagem com o marcelo não!

    bom bom deixa pra lá, essa historia esta indo cada vez mais para o fundo do poço! rs

    que profunda reflexão.

    ok, chega de trocadilhos ja foram todas exploradas ate sobrar só o buraco!


    hahahah, parei, parei, parei.

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  5. Piñera é um safado. Ficou alí, do ladinho do buraco (ui) para passar imagem de bom moço, ser visto durante um momento de glória/comoção na esperança de que o povo não se lembre de cobrar medidas de segurança e questionar pq o governo não fiscalizou isso antes.
    Os mineiros, quero dizer, os mineradores, sempre foram explorados: ao entrar no buraco e, saindo dele, não será diferente, fato.
    Sobre as suas percepções, concordo.
    Sobre o mito, eu sairia correndo antes que os homens da caverna dessem cabo deste corpitcho desejável, rs...
    Sobre as sombras... bem, não há nada melhor do que estar na luz e encher-se dela.

    Kisoj =*

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  6. Antes de tudo, seu suspeito amigo te mandar mais essa: Excelente artigo!!!
    -Acho que o bagulho lá no Atacama transcendeu algumas coisas do que se dizia um resgate;
    -Se fosse a Michelet, era coisa de Pinichet voltar para destravar Allende;
    -Os caras saiam de lá tirando onda com aqueles óculos;
    -no facebbok já falei pro pessola dar uma lida em Emile Zola e em Jules Verne;
    - A música anterior ao acidente não sei qual foi (Mai in the Box?), mas a do durante foi Highway to Hell!!!!!!!

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  7. Se fosse no Brasil, certamente haveria (ao menos um) q preferiria ficar lá em baixo a ter q escolher um presidente no próximo dia das bruxas. E teríamos o discurso do Lula, "um país capaz de perfurar não-sei-quantos-mil-metros no fundo do mar, tem q ser capaz de retirar os mano da mina".
    Como não sou uma pessoa tão intectualizada, não remeti o ocorrido ao mito da caverna, o q mais me chamou atenção foi o renatogauchísmo daqueles óculos e o sorriso no rosto de cada mineiro q saía (mentira, só vi até o terceiro).
    Das sugestões, a mais interessante q vi até agora foi jogar a dupla Serra e Dilma lá dentro. Não sei se alguém teria interesse em resgata-los.
    Mas, fora a comoção quase que geral, acho q a maioria das pessoas buscou alguma lição com essa história. Talvez a sociedade q chegou ao fundo do poço esteja começando a ter esperança de sair do buraco.

    tt!

    bjohnny

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  8. Caramba Jaime! Ando meio desligada, jurava que já tinha comentado esse post! Enfim...
    Excelente! Divertido, sério e filosófico!Rsrsrs... Sua percepção e comparação com o Mito da caverna de Platão foi ótima! Garanto que poucos fizeram tal comparação. Eu me coloquei nas suas palavras e acabei descobrindo que tenho me encontrado na caverna, sem vontade nenhuma de ser resgatada...

    Beijos

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  9. Caramba Jaime! Ando meio desligada, jurava que já tinha comentado esse post! Enfim...
    Excelente! Divertido, sério e filosófico!Rsrsrs... Sua percepção e comparação com o Mito da caverna de Platão foi ótima! Garanto que poucos fizeram tal comparação. Eu me coloquei nas suas palavras e acabei descobrindo que tenho me encontrado na caverna, sem vontade nenhuma de ser resgatada...

    Beijos

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  10. Lendo sobre os que preferem ficar na escuridão, lembrei de tanta gente... é triste!

    Gostei do mito, eu não conhecia.

    Boa semana pra você!

    Um beijo!!

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  11. É justamente disso que trata a filosofia, a vida cotidiana...

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  12. O Mito da Caverna de Platão se aplica, corazón.
    Na mosca.

    Beijo, beijo.

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