Sobre a felicidade

(a infeliz charge acima, pra variar, é de minha autoria)

Gurus da auto-ajuda, tremei! Finalmente conseguiram descobrir o que é preciso para que as pessoas sejam felizes: uma renda mensal maior que R$ 6.800, essa mixaria, mas o ideal é mesmo R$ 11 mil. Assim nos conta uma pesquisa feita nos EUA – claro, onde mais? – sobre fatores mais influentes para se alcançar a meta mais desejada pelo ser humano, a felicidade.

E o que vem ser “felicidade”, afinal? Etimologicamente, o latim nos legou a palavra “Felix”, que além de ser nome de personagem de desenho animado, significa “fértil”, “frutuoso”. No entanto os gregos, sempre eles, nos deixaram algo que se aproxima daquilo que pensamos sobre felicidade hoje: a eudaimonia. A palavra daimon significa “poder divino”, pois os gregos acreditavam que o conceito da felicidade estaria relacionado ao fato de ser agraciado por um bom poder divino – ou a chamada benção, que possui praticamente o mesmo sentido.

Os títulos que mais encontramos nas livrarias são de obras que prometem desvendar os segredos e ensinar truques para se alcançar a felicidade. Muitos livros de auto-ajuda falam exatamente do aspecto “divino” para diversas denominações: cristãos, espíritas, adeptos do new age, religiões orientais, ateus; por outro lado há o aspecto material, com a felicidade atrelada aos padrões de consumo atuais, a promoções no emprego, riquezas e “fórmulas para relacionamentos perfeitos”.

Voltando à referida pesquisa, podemos notar como esses aspectos – divino e material – se revezam entre os fatores apontados para ser feliz. Na relação destes fatores o primeiro lugar na condição para a felicidade indica “ser religioso”; logo depois, em segundo lugar, ter uma boa renda mensal – no caso, mais de R$ 6.800. A lista continua intercalando o que podemos chamar de bênçãos como filhos, maturidade e casamento - sim, o casamento! Ora, quem não busca uma boa união? Estão aí as marias-chuteiras que não me deixam mentir - com as conquistas materiais como planos de saúde e curso superior.

No entanto, não seja obeso, fumante, divorciado e não seja solitário ou tenha que sustentar alguém. Esses fatores indicariam aquilo que ninguém deseja: a infelicidade. Dores de cabeça também fazem parte desta lista que podemos realmente chamar de infeliz. Se quiser acrescentar os itens “sogra”, “chefe” ou “seu time”, fique à vontade.

Tarefa mais difícil é definir a felicidade. A pesquisa feita pelos estadunidenses tentou seguir um padrão de atividades mais comuns que tornam felizes as pessoas de um determinado local. Outra pesquisa realizada em 2008 aponta que os brasileiros são os mais otimistas quanto à felicidade dentre vários povos no mundo. Também neste caso o aumento da renda da população nos últimos anos – e o poder de consumo, consequentemente – estaria atrelado ao fator que leva à felicidade.

Será que o dinheiro realmente traz felicidade? Eis outra pergunta complicada para se responder. Em uma sociedade voltada para o consumo parece impossível desvencilhar o fator material do fator divino. Sêneca, filósofo latino, afirmou que “feliz é aquele que, satisfeito com sua condição, desfruta dela”; Jesus Cristo, em seu sermão da montanha, exortou as pessoas a não juntarem tesouros na Terra, e sim no Céu; Sidarta Gautama, o Buda, prega o desapego aos desejos: “vivamos felizes, nós que nada possuímos!”. Alguém estaria disposto a tanto desprendimento e até certo conformismo?

Clichês sobre a felicidade existem aos montes por aí, então me valho deste: a felicidade depende de cada um, com suas preferências e desejos realizados. Provavelmente seja este o melhor caminho, pequeno gafanhoto. O Tio Patinhas e Eike Batista encontram a felicidade ganhando (muito) dinheiro; o Rubens Barrichelo é feliz quando termina uma corrida; o seu Zé, dono do boteco, digo, mercadinho da esquina, fica feliz da vida quando pago meus fiados.

Quanto a mim, não tenho lá muitos motivos para ser feliz. Mas confesso que a leitura de um excelente livro com a trilha sonora divina do Pink Floyd – ou Beatles ou os porra loucas dos Stones até 1974 - me faz entrar em contato com o daimon e controlar os demos que costumam me atormentar. Talvez seja um bom começo.

Tenha a feliz ideia de me seguir no twitter: www.twitter.com/jaimeguimaraess

16 comentários:

  1. Ei Jaime, tive a feliz ideia de te add no twitter... rs

    Mas falando sério, felicidade é um tema t~áo complexo, que n sei se sou feliz ao falar disso... embora acho muito interessante. Não sei se sou feliz, mas uma coisa é certa, momentos felizes, ah, isso eu tenho!

    Grande abraço.
    =)

    ResponderExcluir
  2. Ah! A felicidade... Essa palavra lembra minha infância e adolescência. Sempre que fazia um pedido, eu pedia: - Quero ser feliz! *_*

    Hoje minha visão da felicidade é completamente diferente. Acabamos não sendo felizes, por achar que essa talzinha é um estado infinito. É não é. Felicidade são momentos! Não são eternos justamente para valorizarmos momentos unicos em nossas vidas. Ninguém é feliz o tempo todo! NINGUÉM!
    Não confunda felicidade com falta de problemas. O dinheiro pode resolver muita coisa e nos tornar pessoas sem problemas financeiros e com grande chance de resolver tudo. Mas ser feliz e saber lidar com a rotina de nossas vidas sem graça, alternando estado de felicidade, amor, depressão, ansiedade,tristeza, alegria, etc... Sentimentalidades são difíceis de se lidar. Até por que somos seres muito instáveis.
    Deixa eu parar de escrever, senão não paro!

    Beijinhos e seja feliz!

    ResponderExcluir
  3. 'Anônimo disse:
    Legal'
    Nossa, que 'anônimo legal', isso foi tudo que ele conseguiu abstrair do texto? HUAHAUAHUAH não tô sendo legal comentando isso, mas é que eu me enervo quando recebo coisas assim, rs. Mas, voltando ao texto: por mais que saibamos o quanto o conceito de felicidade é individual, sempre aparece alguém pra jogar algum padrão. E o voltado para o consumismo ganha em disparada! Afinal, 'a violência travestida faz seu trottoir em anúncios luminosos', já diria meu ídolo (minha aproximação do daimon, UHAUAHAUH, brincadeira!), que estou sempre citando! rs O status é sempre algo atrativo, tentador, reforçado pela mídia, porque 'no nosso peito bate um alvo muito fácil' (foi ele quem disse também-Humberto Gessinger ♥, rs!). Livros de auto-ajuda são como matar dois coelhos com uma cajadada só, assim como as pequenas igrejas (grandes negócios!), porque você tá comprando a sua receita da felicidade (no caso dos livros) ou a felicidade já pronta (no caso das igrejas). Bom, diante de tantas conclusões às quais se pode chegar, eu penso que felicidade é uma coisa momentânea, assim como todos os outros sentimentos/ sensações/ necessidades...além de ser individual, como eu já disse, e o que traz felicidade num dado momento, pode não proporcionar num oputro, enfim. Agora se os nossos coleguinhas norte-americanos estiverem próximos do padrão ideal do conceito de felicidade, meu amigo...preciso estudar mais e tratar de ter uma segunda profissão onde eu possa ser melhor paga, viu! AHUAHAUHA

    Ps.: não me conformo com o que sempre diz das suas charges ¬¬' são ótimas! xD
    Beijos!

    ResponderExcluir
  4. 'Anônimo disse:
    Legal'
    Nossa, que 'anônimo legal', isso foi tudo que ele conseguiu abstrair do texto? HUAHAUAHUAH não tô sendo legal comentando isso, mas é que eu me enervo quando recebo coisas assim, rs. Mas, voltando ao texto: por mais que saibamos o quanto o conceito de felicidade é individual, sempre aparece alguém pra jogar algum padrão. E o voltado para o consumismo ganha em disparada! Afinal, 'a violência travestida faz seu trottoir em anúncios luminosos', já diria meu ídolo (minha aproximação do daimon, UHAUAHAUH, brincadeira!), que estou sempre citando! rs O status é sempre algo atrativo, tentador, reforçado pela mídia, porque 'no nosso peito bate um alvo muito fácil' (foi ele quem disse também-Humberto Gessinger ♥, rs!). Livros de auto-ajuda são como matar dois coelhos com uma cajadada só, assim como as pequenas igrejas (grandes negócios!), porque você tá comprando a sua receita da felicidade (no caso dos livros) ou a felicidade já pronta (no caso das igrejas). Bom, diante de tantas conclusões às quais se pode chegar, eu penso que felicidade é uma coisa momentânea, assim como todos os outros sentimentos/ sensações/ necessidades...além de ser individual, como eu já disse, e o que traz felicidade num dado momento, pode não proporcionar num oputro, enfim. Agora se os nossos coleguinhas norte-americanos estiverem próximos do padrão ideal do conceito de felicidade, meu amigo...preciso estudar mais e tratar de ter uma segunda profissão onde eu possa ser melhor paga, viu! AHUAHAUHA

    Ps.: não me conformo com o que sempre diz das suas charges ¬¬' são ótimas! xD
    Beijos!

    ResponderExcluir
  5. Adoro conversar sobre esse assunto, e acho que você falou tudo: a felicidade é algo muito pessoal!

    MAS também acredito que uma condição financeira pelo menos mediana ajude muito, afinal, como você poderá fazer as coisas, por mais simples que sejam, sem dindin?

    Você já viu no meu blog os perrengues financeiros que passei né,rs, isso porque não entrei em muitos detalhes que entrarei mais pra frente em algum momento de inspiração.

    Mas pra mim, a felicidade, é amar e ser amada, poder ver o mar, como vc também ouvir um bom rock,comer bem, beber bem, coisas bem sensoriais!

    Boa semana pra você!

    Bjs!

    ResponderExcluir
  6. Concordo com seu ponto de vista e também acho que cada pessoa tem o seu próprio conceito de felicidade. E existe aquele conceito pré-concebido de felicidade: "ter um bom emprego, família, filhos, cachorros e uma casinha na montanha".

    Para mim, felicidade é estar com meus amigos jogando conversa fora no portão de casa.

    Dinheiro traz felicidade sim quando conseguimos consumir nossos objetos de desejo (seja ele qual for) mas eu não diria que é pelo fato de ter dinheiro para isso e sim, de ter conseguido juntá-lo através de algum esforço e descobrir que somos capazes de conseguir aquilo que queremos se nos mexermos para isso. Nem que seja através do roubo afinal, roubar não é tão simples como parece.

    ResponderExcluir
  7. Eu considero também a felicidade algo pessoal e intransferível. No meu caso , acho que os estados de felicidade são sempre um começo de algo novo. Então estou sempre pronto a buscar mais e mais momentos para ver se vão se enraizando no espírito a ponto de se cristalizarem e não mais me abandonarem. Como isso não é sempre possível, vivo nessa busca. E uma renda de 11 mil e não de 6.800, ajudaria bastante. hahahah! Abação, Jaime! paz e bem.

    ResponderExcluir
  8. Caro Jaime, foi com grata surpresa que folheando a revista do professor "Carta Fudamental" de agosto de 2010, número 20, página 30, que vi uma charge sua publicada. Parabéns. Um abraço, Armando.

    ResponderExcluir
  9. O grande lance dessa sua crônica é que nos leva a pensar que não é a felicidade o problema, mas sim o inevitável sofrimento advindo (olha o termo utilizado) de nossas frustrações. É diícil para a humanidade aceitá-la, trazê-la para nós e com ela dialogar.

    ResponderExcluir
  10. Oi, Armando! Muito obrigado! A redação da Revista Carta Fundamental já havia entrado comigo para pedir autorização da publicação da charge, essas coisas. De muito bom grado concordei com a publicação, afinal é para fins educacionais.

    Que boa surpresa, achei que eles iriam publicá-la só na outra edição. Vou conferir, é sempre bom ver o nosso trabalho publicado, né?

    Um abraço! E obrigado! =D

    ResponderExcluir
  11. que BLLLBLLGLGLLGLGLOOOOooOOOoooooOg linduUUuuuuUUuuUU

    MiGUuUuUuxXXxxxOoOoOoOo

    muito rocks a sua chargeEEEeEeEEEe


    *estou feliz, sou emo*

    =D

    ResponderExcluir
  12. Pois é... acredito que não exista receita pra felicidade. Cada um com seus valores e necessidades!

    bjos

    ResponderExcluir
  13. "Felicidade é uma cidade pequenina é uma casinha é uma colina qualquer lugar que se ilumina quando a gente quer amar".

    Felicidade me parece um estado temporário e não permanente, como muito gostam de ver. Sendo assim, ela pode assumir diversas formas, e uma delas é o espelho: por vezes ficamos felizes ao ver como os outros nos enxergam (ou por fazer alguns outros nos enxergarem). Com isso vamos nos esquecendo de olhar pra dentro de nós mesmos (oi?) e do velho ditado da minha vó 'é preciso ser feliz consigo mesmo para ser capaz de ser feliz com os outros e fazer outras pessoas felizes" (ou algo parecido).

    bjohnny!

    ResponderExcluir
  14. Oi, Jaime!
    A tirinha é engraçada, mas pena que é uma triste realidade.
    Há muita gente que acredita que é o dinheiro que vai trazer felicidade, então trabalham feito loucos e no fim não há felicidade.
    Porque, eu acredito que a felicidade está em cada pequena coisa que se pode fazer com amor, em um sorriso, em um olhar.
    Pode parecer um tanto clichê, eu sei. Mas muita gente apesar de ter ouvido falar nesse clichê, não lembra na hora de por em prática
    Bjs,
    Vanessa Sagossi
    comentandoofilme.blogspot.com

    ResponderExcluir
  15. tai..não sei o que dizer a esse respeito...mas sei que quando estou de frente ao mar sentindo o sol e o vento ...ahhh eu flutuo...seria esse um instante feliz?? tendo em vista a impossibilidade da felicidade para todo o sem´pre?? ...é..relamente não sei o que estou dizendo..
    bjosss

    ResponderExcluir

Agradeço sua visita e o seu comentário! É sempre bom receber o retorno dos leitores.

Todas as opiniões são livres, porém não serão aceitos comentários anônimos e tampouco comentários ofensivos, discriminatórios de quaisquer natureza que não prezam pelos princípios da boa convivência e desrespeitam Direitos Humanos - o autor do blog reserva a si o direito de excluir comentários com tais temas e não se responsabiliza por interpretações deturpadas dos textos e ilustrações.

Volte sempre! =)

Tecnologia do Blogger.