Pirataria, APCM e internet

Dia desses eu entrei nas lojas Americanas - não estou fazendo merchandising para a empresa, isto é apenas um texto ( longo, é bom advertir logo) - e comprei algo que não adquiria há muito tempo: um CD.

E não era um CD qualquer, era um “Ramones – the greatest hits” na promoção por R$ 9,90. Adoro essas promoções “de baciada” nas lojas. Encontra-se muita coisa boa escondida sob pilhas de CD’s do Amado Batista, Belo e O Melhor do Pancadão. Já achei um Stevie Ray Vaughan por apenas R$ 4,99. Preços bem acessíveis, não?

Em compensação, fui dar uma olhada em outros CD’s na prateleira. Artistas bem mais populares como a dupla Victor e Léo tem o CD vendido por R$ 25 e até o Zeca Pagodinho tem um CD que custa o mesmo valor. Aí o sujeito vai ali na esquina e descola o CD do Victor e Léo por R$ 3.

CD pirata, claro, mas como resistir à tentação?

Uma certa APCM ( Associação Antipirataria Cinema e Música) fez tanto barulho que conseguiu (segundo eles) acabar com a comunidade “Discografias”, no orkut. A comunidade disponibilizava links de artistas e bandas de todos os gêneros para que os internautas baixassem álbuns completos, tudo na “faixa”. A APCM considera que a extinção da comunidade foi uma grande conquista.

Fui fuçar o site da tal Associação.Esse pessoal não brinca em serviço, tanto que possui desde cartilhas para identificar produtos piratas até um “Treinamento de Capacitação em Antipirataria”, cujo objetivo “é treinar agentes públicos para a identificação de produtos piratas e abordar aspectos referentes à legislação vigente”. Uau! “Agentes públicos”. Dá até medo...

VERTENTE “EDUCATIVA”
Encontrei , no próprio site da associação, uma declaração muito interessante do diretor executivo da APCM que eu gostaria de chamar a atenção para meus pacientes e raros leitores:

“Trabalhamos atualmente em três vertentes, a educativa, a repressiva e a econômica, porém é importante ressaltar que todas elas precisam da participação direta da sociedade, tanto realizando denúncias, por meio do site da APCM, quanto não alimentando o comércio ilegal de produtos piratas”.

Interessante o termo “educativo”. O “educativo”, neste caso, serve apenas para formar os tais “agentes públicos” e a reconhecer produtos piratas. Mas eu adoraria saber duas coisinhas também bastante “educativas”:

a) Qual a postura da Associação ou qualquer outra entidade “caça-pirata” em relação aos absurdos preços dos CD’s e entradas de cinema no Brasil?

b) Por que ninguém fala do tenebroso e imoral JABÁ que rola solto nas emissoras de rádio e TV divulgando artistas de “talento” duvidoso de grandes gravadoras, prejudicando artistas independentes que ficam sem espaço para mostrar seu trabalho?

Creio que as respostas a essas duas perguntinhas seriam bastante didáticas. É fácil arrotar a lei e promover uma caça às bruxas não apenas aos grandes piratas, mas também aos consumidores destes produtos, enquanto distribuidoras de filmes e gravadoras são poupadas, defendidas e saem como os “mocinhos da história”.

ACESSO À CULTURA
Uma família pequena (casal e 1 filho) que queira assistir a um filme no cinema em Salvador no final de semana não gasta menos de 50 reais na bilheteria e bomboniere das salas de cinemas dos shoppings centers ( porque cinema popular, de bairro, só mesmo em DVD pirata ou no “gato” da TV a cabo). Tem como condenar esta família se ela compra o DVD pirata lá na esquina por 4 reais e com mais uns 3 reais compra pipoca e um refrigerante de um litro? Elitizar e restringir o acesso ao cinema é a melhor forma de combater a pirataria? Olhaí, APCM, mais questões para exercitar o seu “lado educacional”.

Atenção: o argumento aqui não é justificar a baixa condição financeira da população para pregar o “vale tudo” em relação ao comércio. Estou falando é de acessibilidade, de incentivos para que as pessoas possam ir ao cinema e pagar um preço justo e razoável, e não a verdadeira escorcha praticada nestas salas. E isso vale para o CD também.

Existe a questão do direito autoral do artista e é justo que ele receba seus caraminguás pela obra. Só que esse mesmo artista tem que botar na cabeça que o tempo de ganhar dinheiro só com venda de CD já era. Ninguém precisa mais rastejar diante de gravadoras e distribuidoras para divulgar seu trabalho. A internet faz isso muito bem. Ao mesmo tempo em que se retira do ar comunidades de discografias surgem milhares de blogs, fóruns, programas para trocar MP3 de todos os gêneros e gostos musicais. E agora, José?
Como se vê, a solução passa bem longe da “formação de agentes públicos” caçando e denunciando pirataria por aí. Há boas idéias e iniciativas surgindo. O próprio Ministério da Cultura vai disponibilizar aparelhos para a reprodução de filmes em pequenas cidades e nas periferias das grandes capitais; e o que falar do Cinema na Laje, no Bar do Zé Batidão, que disponibilizará a projeção de filmes e documentários...na laje de um bar na periferia de São Paulo?

Enquanto as gravadoras, os governos e os artistas apenas assumem posições agressivas e não oferecem soluções, há quem dê um jeitinho. Eu dei meu jeitinho: baixei algumas músicas dos Beatles, gravei em um CD e usei-o na escola, para dar aulas aos alunos com música. Segundo a APCM, eu sou um criminoso por ter feito isso.

18 comentários:

  1. Eu sou uma compradora e ouso ate a dizer que sou uma incentivadora da pirataria.Motivos??
    1-O dinheiro dos impostos nao chega ao povo,muito menos ao que compra e vende produtos piratas!
    2-Ao comprar os CDs e DVDs piratas,to diminuindo o ganho dos artistas e consequentemente,diminuindo o consumo de drogas ilicitas como a cocaína.Ou seja:alem de proteger a saude dos referidos artistas,tb ajudo a combater o trafico de drogas
    3-Sou muito descuidada com meus CDs,logo,é melhor comprar um por 3 reais,do que por 30,ja que sei que logo estara danificado.

    Poderia enumerar muitas outras razoes,mas,agora vou ouvir meu CD pirata dos racionais MCs!

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  2. Cara, falou tudo o que eu penso...
    Vem cá: vi que tu é professor... Ensina o quê?

    Ah, te indiquei prum selo...

    Abração!

    www.marcelo-antunes.blogspot.com

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  3. Charge e texto didáticos e bem informativos além de muito bem escrito. Eu visitarei o site dessa associação e perguntar como eles explicam as "três vertentes, a educativa, a repressiva e a econômica" para saber quando uma atitude educativa se torna eficaz com repressão. Ah! Nem preciso me dar ao trabalho, bas pegar um livro da História da Educação, ou mesmo um discurso político-militar, sobre a espada da Economia. Entendi já, é auto-explicativo. Sem repressão, não há educação para saldar o dízimo econômico. O problema parece ser a dificuldade de achar piratas e vendededores de pirataria pelas ruas do Brasil, bem como é quase impossível saber de onde vem e para onde vão as demonizadas drogas. Não bastaria uma melhor averiguada no próprio sistema que as gravadoras criaram, sabendo disso ou não? Comprei Johnny Rivers, Oasis e AcDc originais por bons preços tb, não de Lojas Americanas, mas tb acessíveis.

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  4. Groo, o texto está ótimo. Olha, a questão da pirataria foi sempre um problema. hj na aula de rádio estávamos estudando a questão da Voz do Brasil na época de Getúlio. maneiríssimo, e foi quando surgiu o assunto das vinhetas. As rádios tinham que colocar vinhetas capela (sem música, só uma pessoa falando mesmo) no meio da música para não deixar ninguém gravá-la no K7.

    Hoje com o advento da internet e o MP3 é impossível não haver esse pirataria. Não que seja por mal, eu compro o CD, mas se eu puder baixar a música, baixo mesmo, sem dó nem piedade. Mas é a idéia da minha geração, naõ tem jeito. Mas pessoas inteligentes estão percebendo isso e estão disponibilizando por pouco dinheiro suas músicas. O radiohead fez uma campanha do tipo "quanto vc daria pra levar nosso CD" teve gente que pagou US$9 mas teve gente que pagou US$50. Doidera? Total, mas funcionou.

    O caso de muitos não terem acesso à cultura é sem dúvida um problema sério. Não estou falando de pão e circo, isso não é dar cultura... É entretenimento puro e simples. Sendo que não vou discutir os conceitos de cultura aqui, vamos deixar para outro post seu. rs Bem, na minha cidade, tem tudo, universidades, shoppings grandes, cinemas e teatros de montãos, mas ainda assim é caríssimo. Como sou estudante... pago meia. rs Aí, dizem que os preços são caros porque tem gente que paga meia e ninguém paga a outra metade dele. Isso é fruto de uma política pública que não deu certo. Lembro de uma peça de teatro, o cara dizer assim, pessoal que pagou meia, vcs só podem ficar até a metade viu? rsrs Ri bastante... Eu tinha pago meia. rs To no cinema quase toda semana... rs


    Bem, Groo, que bom que gostou da matéria com o MAddog. Eu ainda tava no segundo período da faculdade quando fiz. rsr As minhas estrevistas hoje são melhores do ponto de vista técnico. rs Eu era assessor de comunicação (no segundo período, vê se pode rsrs) do projeto Telecentro de Niterói. Era para popularizar o Linux e coisa e tal, incluindo digitalmente as pessoas mais carente que não tem acesso à informática. Inclusão digital é uma vertente da inclusão social, era bem bacana, mas como disse acabou devido a troca de gestão da prefeitura. E Paulo Freire foi totalmente destroçado aqui no Rio então. O pessoal não entendeu nada mesmo. E olha que eu conheço muito pouco dele.

    Ah! Eu compro esses CDs na Americana. rsrsrs

    Valeu!

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  5. Falou tudo!
    A APCM vai contra os "próprios" princípios...
    E pensar que eles fecharam a Discografias enquanto é só escrever "download" no Google que você bixa o q quiser...
    Quero ver se eles também "fecham" o Google.

    Adorei o seu blog, gostei mesmo. Parabéns. =)

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  6. Concordo totalmente!
    tudo bem que pirataria é crime e por aí vai, e eu até aceito paga por umcd desde que o artista receba esse dinheiro, afinal é o trabalho dele. Mss o preço de um cd eh mais por imposto e taxas de fabricas.

    eu prefiro mil vezezs baixar umas músicas e ir a shows do que gastar com cds...
    A associação essa que venha me prende se não gosta!

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  7. Renan escreveu à beça mas escreveu bonito. Radiohead e outras bandas bem se adptaram ao inevitável construído pela tribo deles. E ainda lembrou do eterno assassinato de Paulo Freire!

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  8. O Renan sempre escreve bonito à beça, nobre Quintella. O Radiohead protagonizou um momento interessante no ano passado: foi o primeiro colocado na venda de discos...de vinil! Até o Guns n' Roses do tio Arghxl Rosa lançou umas cópias do Chinese Democracy em vinil e se deu bem ( 3.o colocado em vendas, o 2.o colocado foi um desses artistas de hip hop). Vai ver foi por isso que tio Arghxl demorou 14 anos pra lançar o tal álbum...esperou o vinil voltar.

    Essa do Radiohead foi bastante interessante mesmo. Taí uma alternativa, melhor do que tentar coibir acesso e elitizar o trabalho do artista( cultura? Eita que a discussão é longa, deixa pra lá...hehehehe! Embora aqui na BA existam também boas iniciativas principalmente valorizando esse pessoal que escreve, representa e faz arte pelo interiorzão - e tem muita gente boa, mas sacumé, jabá rules).

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  9. Eu também colaboro com a pirataria.
    Parabéns pelo blog!
    Criativo e inteligente.
    Se puder,visite o meu.
    Te Cuida!!!!
    Boa Quarta pra ti!!!

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  10. Uma coisa é certa...a pirataria no Brasil é crime !!!
    Eu concordo que o preço dos CD´s e DVD´s é muito abusivo e que a indústria deveria repensar em conjunto com o governo, ações para poder baixar impostos e comissões pagas para artistas, empresários, produtores e etc.

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  11. as gravadoras terão que encontrar oiutras formas para garantirem o lucro excessivo.

    alguns artistas internacionais fizeram uma organização para lutas a favor dos downloads.

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  12. É isso.
    Você expressou exatamente o que todo mundo pensou quando soube da extinção da saudosa comunidade do orkut.
    Eu, modéstia parte, era usuária ferrenha. Assim como sou dos DVDs piratas que compro às dúzias no centro da cidade.
    Baixo CD pela internet, e sem remorso nenhum. Tenho mesmo idéias anarquistas e acho a descoberta do século a disponibilização de arquivos gratuitos (ou de baixo custo)ilimitados.
    Quero que a APCM, vá pra puta que pariu. Assim como os artistas quê têm o desplante de chorar para nós, cidadãos, porque suas músicas estão sendo baixadas, de graça, pela internet.
    Trabalhe, meu bem. Vá fazer show, propaganda, baile de debutantes, o escambal. O tempo de ganhar dinheiro com CD acabou. Não conte mais com isso. Não estmaos mais na década de 60 e os Beatles acabaram há um tempinho já.
    É isso.

    P.S.:Ah, e obrigada pelos elogios. =)

    Abraço.

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  13. Groo, grande baiano!!!

    Só tô com pena nesta história toda dos "sertanejos", como vão poder comprar os boizinhos deles para aumentar os que já tem, se aumentá a pirataria? Cê não tem pena deles não? Os sertanejos tipo bregão, não canta cultura. Eles cantam prá ficarem ricos e entupi os programas de palcos na TV de besteirol!!!

    Meu amigo cada vêz que te leio aumenta mais minha responsabilidade de melhor escrever.

    Suas visitas e seus comentários em minhas escritas, muito me estimula a fazer melhor a coisa.

    Abs.

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  14. E assim toda a justiça miope como sempre, e assim vamos consumindo toda a porcariada pirata, seria bom se o consumo for moderado e os CDs, bem como o resto da arte com preços acessíveis...
    Saudações Poéticas
    Everaldo Ygor

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  15. Eu não vou contar para ninguém... Não se preocupe!
    Muito bom texto.
    Meu soulseek, aliás 'tá na ativa, pegando um pouco da Hilderg Von Bingen...
    Vai contar, é?...Humpf!
    BJS!

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  16. Muito interessante o seu texto, parabéns!

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