Lar, o doce lar.

Lar, o doce lar.

A casa estava uma zona só. Latas de cerveja vazias espalhadas pela casa, uma pilha de jornais velhos num canto da sala, revistas amontadas sob a mesinha que estava repleta de bitucas de cigarros, já que o velho cinzeiro não dava mais conta; Um cesto de roupas abarrotado no banheiro de azulejos azuis que não via limpeza há um bom tempo, mesma coisa acontecendo na cozinha, onde as panelas e pratos eram acumlados na pia à espera de uma palha de aço e detergente. Os copos e xícaras estavam sobre a mesa e os farelos de pão estavam por toda a parte.
Lá fora, numa pequena área que chamava de “quintal”, Reinivaldo se espreguiçava numa cadeira de praia. No chão, latas de cerveja; No colo, Metamorfose, de Kafka. “Vida de solteiro”, pensava ele, “é uma tranqüilidade”.
Reinivaldo trabalhava em um banco, no setor das compensações. Conferindo cheques e liberando a grana. Trabalhava das 22 às 4 da matina. Na região central. Uma beleza: Era sair do trabalho e dar de cara com as boites, notívagos e garotas em promoção de fim de expediente. Foi numa dessas que saiu com Rafaela. Um belo nome de guerra, pensou. Foram pro hotelzinho onde a garota trabalhava.

Ao entrar no...escritório, pois se trata de uma profissional, nosso amigo Reinivaldo exclamou:
- Puta merda! Que pocilga!
- Escuta aqui, docinho, pode ser uma pocilga, pode ser o que for, mas vai ser aqui. E aí?
-Porra, tem até barata aqui...olha uma ali!
-Vem cá, você veio aqui pra pra olhar a decoração ou pra meter?
- Se eu soubesse que seria nesse chiqueiro, teria pedido um desconto!
-Olha aqui, cara! Deixa de conversa! Vai querer ou não?
- Peraí! E esse lençol? Há quanto tempo não é lavado? Nem quero saber, na verdade... e tem até um banheiro ali...a descarga funciona?Tem um Pinho Sol pra jogar lá? Aliás, esse quarto precisa de uma bela vassourada! Nem olho debaixo da cama pra não assustar... Não,não, não mesmo: nessas condições tem que rolar um desconto!
-Que porra de desconto? Se não quer aqui, me leva então pra uma suíte desses motel de nome ou pra sua casa!
-Imagine se vou levar vagabunda pra minha casa! Olha só, tô pagando 10!
-O cacete! É 20!
-Pago 10!
-Faço 15 pra encerrar essa noite de merda!
- 10! Só pago 10 e é muito!
- Tá bom, 10 pau. Agora,vamo logo que vai amanhecer.
Ao terminar o serviço, o dia já estava amanhecendo. Enquanto a cidade se levantava para mais um dia de trabalho,tudo o que Reinivaldo queria era uma boa manhã de sono. Talvez tivesse que trocar o lençol. Era quinta-feira. Pensava em chamar uma diarista no sábado. Mas, para quê? Nunca recebia visitas, mesmo...se recebesse, quem sabe...até aqueles incensos chatos. Mas não ligava; Alguma cerveja, um bom livro e, quem sabe, uma boa música era do que precisava para tornar a vida menos dura. Desceu do ônibus, passou na padaria, tomou uma média e foi pra casa.



Nenhum comentário

Agradeço sua visita e o seu comentário! É sempre bom receber o retorno dos leitores.

Todas as opiniões são livres, porém não serão aceitos comentários anônimos e tampouco comentários ofensivos, discriminatórios de quaisquer natureza que não prezam pelos princípios da boa convivência e desrespeitam Direitos Humanos - o autor do blog reserva a si o direito de excluir comentários com tais temas e não se responsabiliza por interpretações deturpadas dos textos e ilustrações.

Volte sempre! =)

Tecnologia do Blogger.