Diários grootescos do sertão – parte 1

O melhor da viagem é a viagem, não o “chegar”.
Desta forma, lá vai o Groo providenciar uma trilha sonora adequada para cruzar 300 km de estradas até o sertão baiano para passar as festividades do ano novo junto aos pais, parentes e amigos.
Há tempos que a trilha sonora do sertão foi a música sertaneja. Hoje o sertanejo ouve – e é obrigado a ouvir, graças aos botecos e carros com o porta-malas escancarados na pracinha central- coisas do tipo “arrocha” e “brega”. Na verdade o arrocha é uma letra brega com dança mais “sofisticada” que a lambada.
Como o velho Groo curte rock, lá vai ele pela estrada ouvindo o bom rock caipira dos ianques: Neil Young, Creedence, Lynird Skynard...
BR-324. A estrada que liga Salvador à Feira de Santana, cidade conhecida como “princesa do sertão”. É uma distância curta, apenas 100 km. Não há grandes atrativos na via, a não ser um grande outdoor com uma modelo muito bela fazendo propaganda de...lingerie! O DNER – Departamento Nacional de Estradas de Rodagem deveria proibir esse tipo de propaganda às margens de uma rodovia. Um corsa deslizou na pista ao passar pelo outdoor. Risco de acidentes na estrada.
O bom e velho Groo achou que a modelo tinha piscado , mas manteve-se firme no volante...
BA-242 – Estrada do Feijão. A rodovia estadual tem esse nome porque é a rota para a cidade de Irecê, grande produtora de feijão. Por ali escoava a produção do interior rumo à capital baiana. Escoava, sim, pois apesar da região permanecer com grande produtora, a rodovia assemelha-se à superfície lunar.
Cidade de Ipirá. Primeira parada do Groo para abastecer carro e estômago. Se bem que as opções dessas “lanchonetes” de posto em beira de estrada não são recomendáveis... aquela coxinha da semana passada; Aquele pastel frito no mesmo óleo que fritou os pastéis nos últimos 02 meses...é por aí. O bom e velho Groo vai mesmo é de um suco de laranja ( natural, feito na hora, algo surpreendente na ditadura das tetra paks) e um pedaço de bolo de milho ( ou fubá em pacotes, para ser mais exato). Uma televisão sintonizada na Grobo (que surpresa...), bem na hora do “jornal” Hoje dando cobertura ao maremoto que varreu do mapa ilhotas e destruiu países asiáticos. Ao lado de Groo, um grupo de caminhoneiros (talvez) sorvendo uma bela cerveja ( deveria ser proibido bebidas alcoólicas nas rodovias e em estabelecimentos à beira destas) e comentando as notícias:
- Rapaiz, que miséria essas onda, né?
- Oxe, num é o quê... Já pensou uma desgracera dessa em Salvadô?
- Ah, mais o Brasil tá fora desse perigo! Os cara falaro aí na televisão!
- Se soubesse que vinha uma onda daquele jeito, me agarrava num poste e quiria só vê quem mi tirava dali!
- Rapaiz, a velocidade dessas onda é de 800 km/h! Tu ia junto com o poste!
- Oxe, 800 km por hora??? Tá louco?
- Os cara falaro aí na televisão!
- E num é 80 km/h não???
- É nada! É 800 km/h e com 30 metros de altura!
- Oxe! De onde tu tirou isso, rapaiz?

O bom e velho Groo quis intervir e responder à pergunta do nobre caminhoneiro:
- Da garrafa que ele tá secando!

Claro que vosso amigo Groo tem bom senso e deixou pra lá a conversa dos caras e prosseguiu viagem. Mais ou menos 10 km depois de deixar a grande cidade de Ipirá, surge um posto da polícia rodoviária estadual. Sabedor da fama deste posto, Groo fica esperto. E não dá outra: La vem um guardinha dando sinal para o veículo encostar no acostamento. Vistoria de praxe, bela justificativa... reparem:
- A lanterna do freio tá queimada!
- Boa tarde, seu guarda!
- Boa. Liga a seta da direita...da esquerda...emergência....faróis....baixo...alto....cadê o extintor?
- Um momento.
O velho Groo entrega o extintor ao guarda e repara a expressão, os gestos do policial. Cheio de pose. “Otoridade”. Faz força para engrossar a voz.
- Extintor OK. Documentos!
O comportado Groo entrega os documentos ao guarda, que checa tudo demoradamente e entrega-os com o mesmo ar de enfado:
- Documentos, OK. Pois é, amigo, a lanterna do freio tá queimada!
- Seu guarda, mas não seria melhor verificar direito? Afinal ,o senhor não verificou as luzes da parte de trás, a ré...E não me consta que estivesse queimada essa lanterna...
- Ô, fulano! Chega mais! grita o guardinha para um colega de posto. Teria o velho Groo ofendido ao policial? E chegou o tal colega, um gordinho:
- Fala!
- Pisa aí no freio deste carro, nosso amigo aqui não quer acreditar na palavra do policial aqui.
Se o guardinha esperava que o Groo fosse se envergonhar e deixar a coisa pra lá...foi o primeiro a dirigir-se à parte de trás do carro e gritar:
- Pode pisar!
Para “surpresa” do Groo...eis as duas luzes do freio...perfeitas!
- Aï, seu guarda, tão funcionando, disse Groo, com uma cara de pau sem tamanho!
- É, deve ter sido o reflexo do sol , constatou um tanto desolado o guardinha.
- Posso seguir viagem,agora?
- Pode.
- Boas festas, seu guarda!
- Tá.
Após sair do posto e rodar alguns quilômetros, Groo ficou até com pena do guardinha...devia ter dado uns trocadinhos pra ele... Pelo empenho em seguir a lei nesta época do ano e preocupar-se com a segurança dos motoristas! Mas tá bom: O tal guardinha adquire super poderes ao vestir o seu uniforme. De cidadão comum a “otoridade”. Isso, dinheiro nenhum paga!

Em tempos vindouros: buracos, cerveja, mais cerveja, Estados Unidos e onde o destino enfia seu dedo.

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