Retrospectivas
Todo fim de ano é a mesma coisa:
presença em confraternizações forçadas nas empresas, fuga de amigos-secretos
das lembrancinhas inúteis, shoppings lotados e as piadas do tiozão do zap ao
vivo, em cores e em apetite descomunal durante a ceia.
E, claro, as famosas retrospectivas.
Com tantas coisas acontecendo, o desafio dos pobres editores e curadores dos
programas de fim de ano não é fácil: como equilibrar a prisão do Bolsonaro, a
morte do Ozzy Osbourne e o surto coletivo com os bebês reborn em
um único bloco?
Outro dia me perguntaram o que eu
destacaria na minha retrospectiva. Bom, eu sou professor, então chegar ao fim
de um ano letivo inteiro e com a saúde emocional mais ou menos no lugar é um
grande feito, pois vou te falar: exercer a profissão docente não está nada
fácil em tempos de crianças e jovens ansiosos e viciados em telas sem nenhuma
concentração ou paciência. Até rabisquei uma charge sobre isso:
Mas nem tudo foram provas, alunos encapetados e estresse no ano que
passou. Por incrível que pareça, a literatura trouxe algumas alegrias a este
professor. Uso a expressão “incrível” porque lancei um livro e, como sabem aqueles
que já se aventuraram neste meio, este é um ato que envolve muitos dissabores e
frustrações.
Não é um livro extraordinário que
mereça Jabutis e outros bichos de premiações. No entanto, ele seguiu uma
trajetória bonita neste ano: lançado na Biblioteca Central do Estado da Bahia,
apresentado na Flipelô de Salvador e esteve na Feira do Livro de Porto Alegre.
Nada mal para uma obra despretensiosa de crônicas.
Nestes dias que antecedem a virada de
ano, assisti na TV a um desses programas de retrospectivas. As reações foram de
“Nossa, ele morreu?” a “Onde eu estava que não vi nada disso?”. Um ano se
passou e parece um século com tantos acontecimentos que mal tomamos
conhecimento.
Não me refiro, lógico, a eventos
mundiais e importantes como a morte do já saudoso Papa Francisco, o vergonhoso
silêncio do mundo sobre Gaza e a volta de Donald Trump e seus malucos ao poder
nos Estados Decadentes Unidos. Mas fala sério: será que tolices virais nas
redes como morango do amor, adultos de chupetas e as polêmicas de influencers merecem
entrar numa seleção de memórias que valem a pena relembrarmos?
Não à toa a Oxford University
Press definiu a expressão “rage bait” como o destaque do ano de
2025. Trata-se de conteúdo on-line criado de forma deliberada
para provocar raiva ou indignação. Ou seja, é mais uma forma de engajamento
digital para capturar não apenas a atenção, mas também a emoção dos usuários
das redes — principalmente as emoções negativas.
Ops! Usei um travessão. É um indício
de que este texto foi produzido por IA, dizem uns metidos a experts.
Este é o nível de loucura que encontramos neste meio digital. Quando no início
do ano afirmei que a minha intenção era manter o máximo de distância das redes,
me chamaram de “alienado”. Não fiquei chateado com isso: quero manter alguma
sanidade emocional que me resta após aulas seguidas com o 6º ano do ensino
fundamental II.
Para o ano novo desejo muita
alienação do que rola nas redes antissociais e mais momentos off-line.
Desejo presença real, conversas autênticas, mais criatividade e menos ChatGPT.
E também mais árvores, pois escrevo estas mal digitadas num calor de 38 graus
com sensação térmica de 40 e só consigo lembrar do Ailton Krenak afirmando que
todos vamos derreter feito lesmas na calçada.
Taí: na minha retrospectiva, entram
também a plantação de mudas de pitanga, sapoti, amora e ipê roxo. Livro e
árvores, só faltou mesmo os pezinhos pelo corredor. Quem sabe um ano novo com
novidades?
O meu novo livro “Crônicas do Contador do Tempo” apresenta crônicas e ilustrações para quem é amante da literatura e do universo dos livros. Reflexões sobre literatura nos tempos de IA, as filas de livros que temos para ler, como o nosso modo de leitura mudou bastante na era digital... estes e muitos outros temas você encontra na obra.
Para saber mais, acesse os seguintes canais:
Site da Camino Editorial AQUI.
Meu instagram @jaimegbr
Via e-mail jaimegbr@gmail.com
Meu Substack AQUI.
E boa leitura!



Nenhum comentário
Agradeço sua visita e o seu comentário! É sempre bom receber o retorno dos leitores.
Todas as opiniões são livres, porém não serão aceitos comentários anônimos e tampouco comentários ofensivos, discriminatórios de quaisquer natureza que não prezam pelos princípios da boa convivência e desrespeitam Direitos Humanos - o autor do blog reserva a si o direito de excluir comentários com tais temas e não se responsabiliza por interpretações deturpadas dos textos e ilustrações.
Volte sempre! =)