Tempo de nostalgia

 


Foi divulgado recentemente um estudo sobre o consumo de música no mundo através de streaming, downloads e vendas de músicas nos formatos digital e físico. As pessoas estão ouvindo mais músicas antigas do que os lançamentos atuais, concluiu o estudo.

É bem verdade que o termo “antigas” do estudo refere-se aos anos entre 2017 e 2019, mas ao que parece há um certo revival de músicas muito mais antigas que voltaram às paradas de sucesso graças a séries e filmes. A série “Stranger Things” apresentou aos jovens artistas como Kate Bush e músicas mais antigas do Metallica. O Guns n´Roses tem duas canções no filme recém-lançado de Thor, personagem das histórias em quadrinhos. Todas as músicas dos artistas citados são da década de 1980.

No Brasil também temos este fenômeno: a reedição da novela Pantanal, exibida pela Rede Globo, transformou a música “Cavalo Preto”, de 1946, em uma campeã de buscas nas plataformas de streaming para áudio e vídeo.  

Nas redes sociais, este grande boteco onde se fala tudo sobre qualquer coisa, surge o questionamento: as músicas antigas eram melhores?

O escritor Italo Calvino publicou uma obra chamada “Por que ler os clássicos?” em que o autor tenta responder a esta pergunta com a experiência de leitor e escritor de longos anos. Entre algumas definições para a leitura de clássicos da literatura, chamo a atenção para esta: “Os clássicos são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram (ou mais simplesmente na linguagem ou nos costumes).”  

Creio que tal definição para a literatura se enquadre bem para outras manifestações artísticas. A palavra “clássico”, do latim classicus, refere-se àquilo que é modelo ou referência. Não importa que se passem anos, décadas ou séculos, o clássico estará ali, atemporal e utilizado como modelo e inspiração para muita gente. Músicas dos Beatles, Tonico e Tinoco, Beethoven continuam sendo executadas até hoje, bem como encenações das peças de Shakespeare e quadros com inspiração em Van Gogh, Monet e tantos outros. Todas essas obras clássicas, retornando à definição de Italo Calvino, apresentam traços culturais que falam muito sobre o que somos e sentimos — por isso a identificação ao ter contato com tais obras pela primeira vez ou até mesmo com uma releitura e reedição.


      Não sou adepto do comentário emocionado e repleto de nostalgia que faz alusão às produções artísticas do meu tempo ou do passado como boas ou únicas a serem validadas — a expressão “no meu tempo é que era bom” é muito comum de ser lida e ouvida. Isso tem mais a ver com o aspecto emocional, uma lembrança afetiva que queremos preservar de momentos e fases especiais de nossas vidas. Nostalgia não é ruim, mas também não podemos deixar de lado o que surge de novo e validar também o tempo dos jovens, sem anular ou rebaixar o que está sendo produzido atualmente.

Neste período de intensa circulação de informação, produção e divulgação, evidentemente há muita coisa duvidosa — lembre-se que para surgir “Don Quixote” foi preciso que centenas de péssimos romances de cavalaria fossem escritos anteriormente; e também há muitas coisas boas que surgem nas mais diversas vertentes artísticas e culturais — e essas é que vão perdurar e talvez se transformem em clássicos. 

Quem sabe? Quem viver, verá. Ouvir essas músicas de trinta, quarenta anos atrás proporcionam duas sensações em nós, os "velhinhos": primeiro, uma gostosa viagem no tempo e suas lembranças; segundo, ver os mais jovens curtindo e compartilhando tais canções demonstram que música de qualidade sempre terá boa acolhida pelas novas e futuras gerações.  

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4 comentários:

  1. Olá Jaime! Eu particularmente adorei este post, pois você relatou sobre o tema que mais aprecio atualmente: a música e a reinvenção dos grandes clássicos que não envelhecem jamais!
    Atualmente e há algum tempinho, nos tempos "medievais" da pandemia ( digo medieval por ter sido dois anos de pura escuridão) rsrs, - meu blog mudou de vertente e parei de falar sobre exercícios e vida saudável para focar na música e nas emoções que elas trazem pra gente!
    E como muito bem você explicou, existem excelentes trabalhos atualmente, mas os antigos estão sendo redescobertos pelos jovens! Eu percebo isso no meu canal no YouTube onde as canções mais ouvidas são de 50, 60 anos atrás ( The Animals -https://youtu.be/uO7DiYjgfRs e The Walkers - https://youtu.be/s8ZsgM-sNDU) que juntos somam 15 milhões de visualizações) ao passo que as edições de músicas atuais possuem baixa procura e engajamento. Creio que seja mesmo uma redescoberta, um renascimento dos clássicos em todas as vertentes!! Ahh e sempre amei Kate Bush desde que li a obra o Morro dos Ventos Uivantes! Ela é sensacional , e ver os jovens apreciando e reconhecendo a obra dela foi incrível!
    Grata por esta postagem amigo!
    Linda semana!

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    1. Que bom ter gostado, Adriana. Fico feliz! Sim, você sempre manda muito bem na seleção musical em seu blog e canal do Youtube e como é bom ouvir uma bela canção, não é mesmo? Um abraço!

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  2. Gosto muito de ouvir músicas "do meu tempo" e principalmente, as que não eram do meu tempo, mas lembram minha mãe, por exemplo. porém, também não curto essa frase de "no meu tempo que era bom" ou "não se faz mais música boa". aliás, adorei a ilustração, ficou fantástica! abraços!

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    1. As músicas são ótimas para ativar lembranças, não é? Principalmente as boas lembranças. Obrigado! Um abraço!

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