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Blogagem coletiva: eu fui, eu tava - 1992.
Nos tempos áureos dos blogs, por volta de 2007 e 2008, eu participei de algumas blogagens coletivas e foi uma grande experiência porque ampliei o meu horizonte de amizades e conhecimentos com blogueiros do Brasil e de outros países.
No ótimo blog Momentum Saga, da escritora e professora Lady Sybylla, vi uma postagem coletiva iniciada pelo blog Mulher Vitrola com a proposta relacionada a gerações diferentes – que tem sido tema frequente nas redes sociais e grande mídia. Assim, voltarei ao longínquo ano de 1992.
Pra variar, um ano turbulento para a política e economia do Brasil. O país ainda tentava se recuperar do traumatizante confisco das cadernetas de poupança em 1990 com o “Plano Collor”, lançado pela então ministra da Economia Zélia Cardoso de Melo no governo de Fernando Collor. O plano tinha como objetivo reduzir os índices de inflação, que passavam dos incríveis 80% ao mês. Várias pessoas perderam todas as suas economias, foram à falência e até mesmo cometeram suicídio diante das dívidas e da falta de perspectivas. A ministra deixou o governo em 1991 e Fernando Collor renunciou a presidência naquele ano de 1992 em meio a um processo de impeachment por denúncias de corrupção e os “caras pintadas” nas ruas exigindo a saída do “caçador de marajás”, como ficou conhecido o então obscuro político de Alagoas que foi eleito presidente aliando uma imagem de jovem esportista, promessas de combate a privilégios políticos e discurso anticorrupção. Deu tudo errado.
Todos estes eventos refletiram na minha formação: em 1990 eu estudava em escola particular e com muita dificuldade o meu pai conseguiu pagar as mensalidades para que eu concluísse o antigo 1º grau (atualmente ensino fundamental); em 1992, com 16 anos, eu estava em uma escola da rede pública cursando o colegial (ensino médio) aprendendo a lidar com o bullying e mais preocupado em vender uns discos e fitas para conseguir comprar o ingresso pro show do Guns n´Roses em São Paulo, no estacionamento do Anhembi.
Meus pais não queriam permitir que eu fosse ao show da “banda mais perigosa do mundo” porque os boatos sobre o vocalista e sua trupe de músicos não eram dos mais tranquilizadores — e nem existia WhatsApp na época. Axl Rose, o temperamental vocalista da banda, não também não ajudava: em coletiva de imprensa no Brasil, arremessou uma cadeira em direção a um grupo de jornalistas, paparazzi e outros curiosos. Deu o maior “bafafá”, como se diz: a polícia queria enquadrar o rock star, a imprensa caprichou em pintar o perfil demoníaco e resgatar o passado criminoso do senhor Rose, e as mães apavoradas em ver seus filhinhos e filhinhas sob influência desta banda, pois os outros integrantes também tiveram suas problemáticas biografias amplamente divulgadas.
Enquanto as mães se desesperavam, os filhos adoravam. Fase da rebeldia, da atitude, da contestação. Tais elementos sempre fizeram parte do rock n´roll, ao menos quando o estilo musical ainda era significativo e atraía os jovens. Para um adolescente gordinho que era zoado na escola, ter como ídolo um cara que tomava aquela e outras atitudes contra quem enchia a paciência era o máximo. Eu não virei um encrenqueiro a ponto de arremessar cadeiras contra as pessoas e nem quebrar garrafas na cabeça de vizinhos, mas tive atitude suficiente para usar minha habilidade no desenho e fixar cartazes de “procurado” com a caricatura escrachada e texto ácido sobre um sujeito que vivia me atormentando na escola. Até no banheiro das meninas preguei a cópia xerox — entrei e saí sem ninguém por perto, claro.
Deu certo, até demais: largaram do meu pé e o sujeito foi a bola da vez ao longo de todo o ano. Não foi algo bonito de se ver, mas foi muito divertido para quem sofria com a zoeira dos caras e o desprezo das minas. Recebi minha primeira suspensão na escola, adotei a cor preta em meu vestuário, passei a andar com a turma do rock, deixei de ser o “Cristo” da classe e aprendi a “tocar” guitarra — leia-se “fazer barulho”. Nada mal para quem estudou em colégio cristão e cumpriu as etapas de 1ª comunhão e crisma na igreja católica.
E todas essas atitudes, estilo e gosto musical proporcionavam as grandes e às vezes ásperas discussões com os pais, tios e outras pessoas mais velhas. Nada mais natural que o “conflito de gerações” que existiu e sempre existirá. Minha mãe, que se escandalizava com o Guns n´ Roses, gostava da Jovem Guarda que escandalizava a minha avó e por aí segue. Hoje, com a sopa de letrinhas para definir gerações (geração X, Y, Z, Millenium, etc.), tais conflitos não constituem novidade. São apenas amplificados pelas redes sociais e suas postagens com milhares de likes, compartilhamentos e memes.
Quase 30 anos depois continuo ouvindo rock (sem exageros), desenhando meus rabiscos (sem precisar invadir o banheiro feminino, evidente) e meu vestuário continua em tons escuros, mas com algumas peças coloridas. E, obviamente, aos olhos desta geração jovem, sou cringe e quase um tiozão — mas sem piadas de pavê e nem saudosismos idealistas de quem diz “no meu tempo é que era bom”. Tempo bom, costumo dizer, é o presente, apesar de todas as dificuldades em um país atolado em problemas na pior crise sanitária dos últimos 100 anos.
Sairemos desta, também. E teremos histórias para contar.
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Meu vestuário também continua com tons escuros! 😅
ResponderExcluirLegal demais o seu texto!