Isto é Pelé.

Morreu Pelé. 

Assim disseram os telejornais, a imprensa, os repórteres do mundo todo.  

Todos erraram.  O Pelé não morreu. Pelé é eterno. Pelé é a identidade do Brasil. Pelé sempre estará vivo e pulsante, seja no campinho de terra batida onde quer que tenha uma molecada correndo atrás de uma bola, seja na camisa 10 cujo simbolismo foi transformado pelo Rei do Futebol. 

“Hoy! No trabajamos porque vamos a ver a Pelé”, estava escrito o cartaz pregado em uma parede no México, em 1970. Um ano antes, em 1969, Pelé e o Santos pararam durante alguns dias a guerra civil que estava acontecendo em Biafra:  todos queriam ir ao estádio ver Pelé jogar. Na Grécia, o Olympiakos derrotou o Santos de Pelé e tal feito foi parar no hino do clube. Na Colômbia, um  juiz teve a coragem de expulsar Pelé de campo e a torcida, revoltada, expulsou o juiz e exigiu o retorno do rei. 

Histórias deliciosas que parecem lendas. Só mesmo um imortal para tornar-se lendário em vida pelos seus feitos dentro de campo. 

Outros imortais, das letras, tentaram definir o que é Pelé. O  gigantesco Carlos Drummond de Andrade: “O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols, como Pelé. É fazer um gol como Pelé”.  Do grande Nélson Rodrigues: “Digo e repito: gênio. Pelé podia virar-se para Miguel Ângelo, Homero ou Dante e cumprimentá-los, com íntima efusão: - Como vai, colega?”. Do genial uruguaio Eduardo Galeano: "Quando Pelé ia correndo, passava através dos adversários como um punhal. Quando parava, os adversários se perdiam nos labirintos que suas pernas desenhavam”. Do mestre Armando Nogueira: “Se Pelé não tivesse nascido gente, certamente teria nascido  bola”. 

“Pelé” virou adjetivo. O Pelé das artes. O Pelé da música. O Pelé do basquete.  

“Brasil? Pelé!” um esperanto para quem ia ao exterior, a identificação era imediata. Muito, muito antes de fenômenos midiáticos, influencers e redes sociais, a simples menção do nome Pelé já  produzia o efeito que hoje é conhecido como viralizar.  Rainhas, reis,  atores e atrizes de Hollywood, chefes de Estado, autoridades… todos se renderam ao talento e carisma do filho de dona Celeste e seu Dondinho, do craque negro que tornou-se rei. E conquistou sua coroa jogando futebol e sendo o maior e melhor em um país racista com uma sociedade de mentalidade e formação escravocrata. O  gol mais bonito e maior conquista de sua carreira.

“Um grande jogador, mas…”. Reduzir a biografia de Pelé a uma conjunção adversativa é uma injustiça. Edson, o humano, teve expostas e exploradas as suas falhas – como todos nós, humanos em contradições e nuances, inclusive de ordem ética e moral. Desconfiemos daqueles que arrotam virtudes e perfeição em performances histéricas nas redes anti-sociais despejando rancor e ofensas. “Pelé não teve sorte porque nasceu no Brasil, onde o sucesso alheio é como uma ofensa pessoal”, afirmou Tom Jobim anos atrás. 

Pelé tem o poder de parar o tempo. Cinquenta anos depois, assistimos sem cansar o famoso lance do gol que não aconteceu na Copa de 1970 contra o  Uruguai, quando  Pelé dá uma finta de corpo no goleiro uruguaio e dá um toque na bola que passa vagarosamente rente à trave: ainda hoje torcemos para a bola entrar. Quem não solta uma gostosa risada ao ver o desespero do goleiro da Tchecoslováquia correndo de volta à meta e olhando para o alto tentando acompanhar a trajetória da bola chutada por Pelé antes do meio de campo também na Copa do México? Quem não aplaude aquela matada no peito e o chapéu sensacional no zagueiro sueco antes do gol na final da Copa de 1958? Quem não prende a respiração na hora em que Pelé cobra o pênalti em seu milésimo gol com o goleiro saltando no canto certo e resvalando os dedos na bola?

Tudo isso e muito mais é Pelé. 

Ninguém jogou futebol como Pelé. Ninguém jogará futebol como Pelé. A história do futebol divide-se em Antes e Depois de Pelé. Os brasileiros temos uma missão: defender o legado do rei contra revisionismos infundados e polêmicas caça-cliques. Que não demore o dia em que os brasileiros entendam definitivamente a dimensão gigantesca que Pelé representa para o país. 

Pelé estará pela última vez no icônico estádio da Vila Belmiro, que será palco de mais uma despedida. Após a primeira, em 1974, os torcedores adversários caçoavam dos santistas: “viúvas de Pelé!”. Agora, todos os torcedores de futebol são viúvas de Pelé. 

As luzes se apagam, fecham-se as cortinas. Mas o brilho de Pelé vai continuar em nossos corações. Um orgulho que só os brasileiros podem ter.

***

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Um comentário:

  1. Maravilhoso texto Jaime, uma linda homenagem ao grande rei, o artista maior de todos os esportes mundiais!! Pelé ainda vive entre nós e sua história é grandiosa. Nunca haverá alguém como Pelé! Infelizmente os grandes nomes do futebol estão partindo como o ídolo do Vasco, Roberto Dinamite...Foi tão jovem e também deixou um grande legado no futebol!! Mas como Pelé nunca haverá outro!!
    Feliz Ano Novo querido amigo!!

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