A cara do Brasil
O Brasil é um país pacífico. Nunca nos
envolvemos com guerra, não existe terrorismo, somos uma nação querida por todo
o mundo e recebemos muito bem os imigrantes, praticando uma democracia racial
que encanta visitantes de outros países. Uma terra de riquezas naturais e
belezas preservadas, um país que tem tudo para dar certo.
Estas afirmações certamente constam em
nossas memórias desde os tempos de infância. Crescemos com a idealização de um
país com todas essas características e, no caso da geração que teve aulas de
Educação Moral e Cívica nas escolas, tais postulados eram repetidos em sala de
aula e decorados para a prova. A imagem que mais se sustentou sobre o Brasil é
o país do futuro com uma cultura de paz.
E nunca foi. Ao longo da história
podemos constatar as raízes autoritárias e violentas do Brasil. O jovem
naturalista inglês Charles Darwin, quando realizou sua viagem pelos lados de cá
em 1832, respirou aliviado quando foi embora e registrou: “espero nunca mais
voltar a um país de escravos”. Darwin, embora encantado com toda a diversidade
da natureza no Brasil, não poupou críticas à escravidão e ao tratamento
violento e cruel àquelas pessoas por parte dos senhores e senhoras “que
professam amar ao próximo como a si mesmos, que dizem crer em Deus e oram para
que Sua vontade se faça sobre a Terra”.
Este foi apenas um exemplo em nossa
história regada a muito sangue. A vida neste país continua violenta e cruel
para os negros, mulheres, indígenas e LGBTQIA+. E também para ativistas
ambientais e defensores de Direitos Humanos: o Brasil é um dos países mais perigosos do mundo para quem levanta tais bandeiras. Sempre foi, na verdade,
mas a ascensão política e chegada ao poder de um representante de extrema-direita e perfil autoritário piorou muito a situação. O jornal The
Economist, da Inglaterra, cita que desde a chegada de Bolsonaro na presidência
a sua retórica tem incentivado criminosos ambientais a agirem com maior
liberdade e violência na Amazônia em defesa de seus interesses. Tais interesses
incluem o garimpo em terras indígenas, grilagem e desmatamento de florestas e
áreas ambientais para a expansão desenfreada do agronegócio.
Em 1988 o cantor e compositor Cazuza
lançava o álbum Ideologia e a música Brasil, onde em seus versos o rockstar bradava “Brasil! Mostra a tua
cara!”, um manifesto político que denuncia a desigualdade e a injustiça social,
além do desdém dos políticos e classe dominante pelos reais problemas da
população. A música foi lançada no contexto histórico entre o fim da ditadura
militar (1985) e a nova Constituição Brasileira (1988), prosseguindo
atualíssima após 30 anos. Hoje, quando paramos para pensar na cara do Brasil,
temos uma imagem nada agradável sobre o que somos: um país racista, misógino e
intolerante, que utiliza todas as esferas dos poderes para agir com extrema
violência a fim de sustentar e promover privilégios a grupos específicos. Vozes
que denunciam abusos e violações, reivindicam direitos e justiça social são
imediatamente silenciadas, seus autores invisibilizados e executados.
O líder indígena Ailton Krenak, em entrevista, afirmou que os povos originários estão resistindo há 500 anos todas
as formas de violência praticadas desde os tempos da colonização portuguesa até
os dias atuais. O verbo é resistir e quando silenciamos diante do racismo, das violências
contra mulheres, indígenas, ativistas e LGBTQIA+, somos coniventes com todo
este massacre que configura a “cara real do Brasil”.
É preciso mudar a cara deste país e
transformá-la. Não virar a cara para tais questões e fingir que nada acontece
já é um primeiro passo — e muita gente está neste pé e expandindo os passos.
Juntemo-nos a eles nesta caminhada.
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Parabénns,Jaime! Realmente, infelizmente tudo aquilo que aprendemos ou nos fizeram engolir goela abaixo é apenas fábula. Esse país não tem guerra,mas tem radicalismo e está dividido. Não tem cuidado com nossas florestas e por aí vai. Beleza teu texto! abraços, tudo de bom,chica
ResponderExcluirObrigado, Chica.
ExcluirOlá Jaime, como o seu blog está incrível, sempre atual, com a análise do momento político, econômico e cultural atual que inclusive me fez cair em depressão profunda por este país estar regredindo tão rapidamente e piorando a olhos vistos...
ResponderExcluirO Brasil sempre foi racista , misógeno e intolerante, com ênfase nas mulheres, que aqui não são respeitadas ( Vide como existem tão poucas no cenário político) e precisam lutar bravamente para conseguir o seu espaço e são covardemente assassinadas diariamente... Basta ver como o Presidente da Caixa Econômica tratava as mulheres que estavam sob o seu comando (Como podemos tolerar isso?)
Creio que a boa notícia de tudo isso seja a obra que você produziu amigo, parabéns por tentar mudar um pouquinho esse cenário macabro que estamos vivendo levando cultura e uma análise profunda e verdadeira do que está acontecendo com nosso país.
Um grande abraço!! :)))
Obrigado, Adriana! Verdade, estamos assistindo a uma regressão que deveria ser intolerável sob todos os aspectos, mas parece que estamos anestesiados. Muito grato por suas palavras e vamos seguindo, tentando levar cultura, leitura e um pouco mais por aí. Abraço! :-)
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