Perseguição a professores: até quando?

 




Ao dramaturgo alemão Bertold Brecht é atribuída a frase “a cadela do fascismo sempre está no cio”. O fascismo se alimenta do ódio e da intolerância, perseguindo e eliminando a todos aqueles que não rezam por sua cartilha de destruição.  

Em Salvador uma professora de colégio particular pretendia utilizar o livro “Olhos D´Água”, da escritora Conceição Evaristo, para um trabalho em sala de aula do Ensino Médio. Foi denunciada por alguns pais de alunos e afastada de suas atividades. A obra, premiada e aprovada pelo PNLD (Programa Nacional do Livro Didático), reúne contos sobre mulheres negras em uma sociedade marcada pela violência e o racismo. Aparentemente isso incomodou os “cidadãos de bem” e um deles, ao justificar sua denúncia, acusou o livro e a professora de “pornografia”. Questionado sobre como isso seria, o “cidadão de bem” desconversou e não soube responder.

Vários casos recorrentes de professores denunciados por “doutrinação” têm ocorrido na capital da Bahia. Um dos casos mais estarrecedores envolveu uma professora de Filosofia de colégio público sendo denunciada por uma aluna que a acusou de “doutrinação esquerdista e feminista” pelo fato da professora abordar questões sobre gênero, racismo, assédio, machismo e diversidade em sala de aula. A mãe e aluna fizeram um Boletim de Ocorrência e a polícia intimou a professora, que recebeu apoio do colégio e dos demais alunos. 

Tais denúncias não passam de intimidação promovida por grupos de extrema-direita e reacionários que enxergam "comunismo" e "perversão" por todos os lados com finalidades políticas e ideológicas, tal como ocorreu durante o macartismo nos Estados Unidos na década de 1950 que promoveu perseguições a professores, artistas, cientistas e até histórias em quadrinhos. As motivações, procedimentos e mesmo os argumentos utilizados por estes grupos brasileiros em 2021 não diferem em nada do que era feito nos EUA há 70 anos. 

A escola precisa tratar das questões sociais e ambientais, precisa contextualizar tais temáticas em conteúdos das áreas de Humanas, Linguagens e até mesmo Exatas. Isso é o bê-a-bá de uma educação que precisa ir além da decoreba vazia conteudista nas salas de aula  — tal metodologia é absolutamente ultrapassada para se cumprir as competências e habilidades exigidas no século XXI. Pensamento crítico, criatividade, autonomia, capacidade de inovação e colaboração são alguns conceitos a serem desenvolvidos também na escola.

Curiosamente ninguém chamou a polícia ou denunciou a explícita e escancarada tentativa de manipulação ideológica que o desgoverno federal vem tentando promover no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). O exame, outrora parte de uma política de acesso ao ensino superior por estudantes de baixa renda e marginalizados pelo sistema educacional, está sendo destruído e descaracterizado pelo desgoverno de extrema-direita e miliciano que também destrói este país. O Enem em 2019 apresentou falhas de correção; em 2020, em meio a uma pandemia descontrolada e sem vacina, tivemos a maior abstenção da história; a edição de 2021 tem o menor número de inscritos desde a criação do exame.

Os grupos que acusam professores de “doutrinadores” por levantarem questões sociais dentro dos seus planos de aula se calam e aplaudem quando o seu insano líder e fiéis cúmplices tentam impor suas ideologias através de mentiras e assédios violentos. É mais do que hipocrisia: é projeto, é planejamento.

Quem leu "1984" sabe exatamente do que estou falando.

 

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