É sempre um belo espetáculo observar a lua em sua plenitude
durante uma noite com poucas nuvens. Retorno à infância, um menino curioso
repleto de perguntas sobre a lua, as estrelas, o espaço.
As perguntas, claro, mudaram um pouco ao longo dos anos:
quando garoto, eu queria saber se alguém vivia na lua, se era feita de queijo e
se São Jorge morava mesmo lá; adolescente, as dúvidas com base em teorias da conspiração sobre a suposta farsa do homem ter chegado à lua povoavam minha
mente; atualmente, gostaria de saber se algum dia voltaremos ao satélite - e se
construiremos bases lunares.
Ainda sobre o espaço, o módulo espacial New Horizons, após
uma viagem de 9 anos e meio percorrendo o equivalente a 5 bilhões de
quilômetros, passou pelos lados de Plutão e enviou fotos e dados sobre o
planeta-anão - que os astrônomos
descobriram ser maior (não muita coisa) do que se imaginava. Não é incrível que
imagens tão distantes cheguem até nós, terráqueos sedentos por novidades, com
tamanha nitidez? E a New Horizons continuará viajando pelo espaço misterioso.
Atentemos para esta palavrinha: misterioso. O mistério
sempre fascinou a humanidade, curiosa do jeito que é e sempre em busca de
respostas para tudo. A curiosidade movimenta o mundo e as perguntas são
fundamentais para que possamos partir para a pesquisa e, consequentemente, a
descoberta.
Lembrem-se das perguntas de crianças. “Por que o céu é azul?”, “Por que a água é molhada?” e a clássica “Como eu nasci?”, além de outras 300 perguntas diárias –
sim, as crianças são capazes de fazer 300 perguntas por dia! Há quem reclame
que tantas perguntas são cansativas, mas expressam apenas a curiosidade em
aprender coisas que a elas (e a muitos adultos) ainda são misteriosas.
Durante muitos séculos a curiosidade foi vista com maus
olhos. Theodore Zeldin, em seu livro “Uma história íntima da humanidade”,
lembra que “a mitologia está cheia de castigos divinos impostos aos que
desejaram saber além da conta”. Claro que há curiosidades onde pouco ou nada se
aproveitam e certamente contribuíram para o estigma negativo:
- E estamos aqui com a ex-Fazenda Big Shower Brazil Fulana
Sicraninha. Sicraninha, você e o jogador Fabiano Monarca estão namorando?
- Somos apenas bons amigos, hihihi.
- Mas vocês foram flagrados aos beijos no show do Juan Castanha.
- Ah, ele é um querido!
- O Fabiano Monarca?
- Não, o Juan Castanha.
- Vocês estão namorando?
- Ai, quanta pergunta...! Chega, né? hihihi.
- Temos que satisfazer a curiosidade do público!
É o tipo de curiosidade que não difere das atitudes
bisbilhoteiras e intrometidas que vemos por aí em diversos ambientes e cada vez
mais crescentes: “Em tempos recentes é na América que a demanda por contatos
pessoais com artistas populares se mostrou mais forte, que a curiosidade sobre
suas vidas íntimas se mostrou mais ávida”, afirmou Aldous Huxley, que escreveu
isso na década de 30 do século passado e certamente ficaria impressionado com o
admirável mundo novo da indústria da fofoca e seus paparazzi.
“Nada mais difícil do que ser curioso sobre um objeto ou uma
pessoa sem a obstrução de ideias preconcebidas”, novamente citando Zeldin. Faz
todo o sentido: o autor afirma que ideologias se tornam dogmas e com isso a
natural curiosidade do ser humano pode ser tolhida. Mas é na liberdade curiosa (aquela que causa “coceirinhas nas ideias”, como se referiu Rubem Alves) e nas perguntas
podemos encontrar o desejo e a liberdade para sair da zona de conforto e buscar
as respostas e o conhecimento.
Foi assim que chegamos à Lua, hoje sabemos um pouco mais
sobre Plutão e chegaremos a Marte no futuro. Ou podemos descobrir coisas
mais simples e intrigantes do nosso dia a dia como o porquê da espuma dos sabonetes e detergentes coloridos ser sempre branca. Vai dizer que não ficou curioso?
Referências
Uma história íntima da humanidade – Theodore Zeldin
Música na noite e outros ensaios – Aldous Huxley
Uma história íntima da humanidade – Theodore Zeldin
Música na noite e outros ensaios – Aldous Huxley