Em busca dos bodes

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Atenção: se o seu vizinho ou colega de escritório for uma pessoa tímida, calada, reservada, com poucos amigos, sem namorada e que adora jogos de computador além de navegar pela internet, tome cuidado, pois você está próximo de um terrível psicopata! Alerte as autoridades, mas nada de pânico!

Quem assistiu a programação de TV durante a cobertura do terrível acontecimento na escola municipal Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, certamente deparou com inúmeros estereótipos e opiniões desencontradas de diversos especialistas e – principalmente – de “não especialistas” procurando enteder a motivação do atirador Wellington Menezes. Faz parte do show: espetacularização da notícia e a busca pelos chamados “bodes expiatórios”.

E na busca dos bodes, encontram-se as toupeiras. Primeiro a tentativa em relacionar o Islamismo ao ato trágico. Não colou. Então fica claro que a culpa é da internet, essa ferramenta demoníaca que leva as pessoas à perdição e estimula aberrações como pedofilia. Com isso, o palco para o tirarem do fundo do baú o famigerado projeto do senador Eduardo Azeredo está armado, afinal é preciso controlar o que se faz na internet, não é verdade?

Discorda que a culpa seja da internet? Sem problema: os jogos eletrônicos violentos são os culpados. Eles estimulam a violência e agressividade dos jovens jogadores, que sairão por aí atirando nas pessoas em cinemas, shopping centres e escolas.

Essa questão dos games violentos costuma dividir opiniões. Para o professor Waldemar Setzer, da USP, em seu livro “Meios Eletrônicos e Educação", “o jogo eletrônico [...] força ações nas situações que ele cria, também gravando tudo no subconsciente, pois, como vimos, o pensamento do jogador está obliterado. [...] Vemos aí o terrível dos jogos: eles não são condicionam ações, como o faz a TV, mas treinam o jogador a executá-las sem refletir nas consequências do seu ato”.

Já a professora Lynn Alves, da Uinversidade Federal da Bahia, em seu livro “Game Over – jogos eletrônicos e violência”, traz a seguinte consideração: “A aprendizagem que é construída em interação com os games não é mera cópia mecânica das situações vivenciadas [nos games], mas uma ressignificação que os jogadores fazem das imagens e ações presentes nos conteúdos dos jogos eletrônicos mediante seus modelos de aprendizagem construídos ao longo de sua estruturação como sujeito”.

Tecla SAP: não é o jogo eletrônico em si que vai determinar ou estimular o comportamento violento do sujeito. Trata-se de analisar as questões afetivas – eis o afeto aqui citado novamente! – e mesmo socioeconômicas pelas quais a pessoa passou em sua trajetória de vida. Este escriba que tão mal digita essas linhas é um bom exemplo: o fato de ter jogado o sangrento e violento game DOOM por horas na adolescência não o fez pegar em armas e sair atirando por aí.

Se a culpa não é da internet, dos jogos eletrônicos ou dos muçulmanos, o que resta? Bullying, escola, professores, família, governo... o rebanho de potenciais culpados é farto, é só escolher. Procuramos por culpados e não reparamos em algumas de nossas atitudes no dia a dia. E a TV – e parte da imprensa - precisa continuar seu show por alguns dias até explorar o máximo que puder do ocorrido, de forma superficial na maior parte do tempo e atirando para todos os lados, reforçando estereótipos na busca pelos bodes.

23 comentários:

  1. A coisa está tão esquizofrênica, que a primeira culpada dessa tragédia foi a questão da "facilidade em se conseguir armas". Com este pensamento geral e único, redicionista, é que a ImprensAss contribui para a sociedade. Imemores, como sempre, não se lembram do "plebiscito" contra/a favor das armas. Tentaram também dizer que os culpados são os terroristas árabes, que estão influenciando até aqui. ora, quem é que propaga todo este terror? E outra, que não conseguiram evitar, foi associarem tudo isto aos comuns ataques a escolas dos EUA. Foram obrigados! Quanto aos problemas do assassino lá.. são outras questões, que não cabe aqui agora escrever.

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  2. Também achei ridículo quererem encontrar uma razão pro crime... a única razão é a falta de razão de uma pessoa louca que não falava nada com nada!!

    E como vc eu também poderia ter um Wesley feeling se as coisas fossem tão simples assim... ADORO jogar GTA e tocar o terror em tudo e todos nesse jogo,rs!!

    Boa semana!!!
    Um beijão!

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  3. Jaime, eu realmente ando sem tempo... E isso começou a me preocupar porque até remédio pra pressão alta o meu médico quer me empurrar. hahha Sério mesmo. Adorei o começo do comentário do Thiago "A coisa está tão esquizofrênica..."...

    Bem... Eu adoro falar de games e desmistificar como as pessoas os vêem. O game por si só não pode ser encarado como o principal motivo para alguém cometer crimes. Somos um quebra-cabeças que constrói uma imagem a partir de experiências em várias áreas, seja com seus amigos, jogando games, com a família, filmes, livros e etc... No entanto, culpar um jogo ao invés de uma doença é leviano e ao meu ver... burrice.

    Jogo videogames desde os cinco anos. Adoro sangue, violência, armas de fogo, matar monstros... Mas nunca, em hipótese alguma, pensei em tirar a vida de alguém ou sequer machucar pessoas. Eu choro quando vejo um animal sendo agredido. Escrevo poesia enquanto atropelo velhas em GTA.

    O que acontece é a descontextualização dos fatos. Se vc está num game, vc está vivendo a lógica dele, seja boa ou ruim. Acontece a mesma coisa com os filmes, mas as pessoas tendem a não compreenderem isso por ser mais sutil e não haver uma interação tão forte quanto no game. O fato de atropelar alguém no jogo é porque vc está dentro de um contexto que envolve narrativa própria. Videogame é uma obra aberta... Entre os eventos relacionados a histórias, podemos fazer o que o jogo nos permite, ou seja, podemos atropelar pessoas, matar... O jogo não te obrigado. Pelo contrário condena. Tanto é que o jogo, no caso GTA, envia a polícia para prender o salafrário. E aí? O jogo é ruim? Não, vc é ruim. Vc que quer fazer algo que não pode fazer na verdade porque não existe uma segunda chance como no game.

    Enfim, os jogos não são ruins e podem incentivar malucos como esse tanto quanto um livro, um filme, uma música...

    Valeu, Jaime!!! E desculpa pela demora ao comentar!!!

    Abração!

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  4. O que acontece é a necessidade de botarmos a cupa em alguém... Como o cara morreu, vamos culpar quem?

    Outra: Como jornalista, acho que dissecar o caso dessa maneira é idiota. É o que chamamos no jornalismo e suites... São matérias que são feitas dando continuação a uma notícia.

    Esse sensacionalismo não é o que ensino aos meus alunos e nem o que aprendi na faculdade. Mas é o que a TV e seu espetáculo precisam mostrar pra ganhar dinheiro com o negócio. O Show não pode parar, não é mesmo?

    Valeu!

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  5. Olá, professor!

    O que esses programas sensacionalistas não comentam quando colocam esse tipo de debate em pauta, é que eles mesmos estão diariamente banalizando a violência e a crueldade na TV (ok. não vou falar que isso contribui para a insensibilidade mais uma vez).
    Encontrar o vilão da história é sempre mais fácil, assim se mantém a superficialidade que a audiência exige, basta um culpado para que o problema caia no esquecimento (até que ocorra um novo evento, claro).
    Mas ainda restam os ateus. Na manhã da tragédia, antes de ter sido levantada a possibilidade de o atirador ser mulçumano, a afirmação era de que ele era ateu e até agora as pessoas continuam afirmando que para fazer algo assim, só se a pessoa não acreditar em deus (sem querer entrar no debate sobre o que as pessoas que acreditam em deuses fizeram e continuam fazendo por aí).
    Jogo Gran Turismo, já joguei Driver, GTA e nunca pisei no acelerador mais fundo q deveria, participei de rachas ou roubei carros. E pior ainda: joguei show do milhão e continuo pobre. O vídeo game era meu brinquedo preferido na infância e um dos jogos que mais me lembro se chamava Streets of rage (ou algo parecido). Não me lembro de ter sido uma criança violenta.

    bjohnny!

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  6. Nobre Quintella, muito bem lembrada essa questão do desarmamento - ou armamento. Veja que agora alguns parlamentares querem aproveitar a onda de "comoção" e "revolta" para tentar ganhar dividendos políticos com isso.

    Essa coisa de "demonização" dos árabes e das culturas orientais inclusive por Hollywood e uma indústria cultura que procura ditar comportamentos já foi tema de nossas conversas, não é? Adorno e aquela turminha chata e "bem humorada" de Frankfurt.

    Quanto ao assassino Wellington de certa forma abri certa discussão no post anterior, sobre afeto. Tem muito a ver.

    Abraço!

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  7. Myself, é sempre assim, não é? Onde são procurados os bodes, encontram-se muitas toupeiras.

    Neste jogo aí que eu citei, o DOOM...eu passava HORAS trucidando tudo quanto era soldado, bicho, explodindo barris e adorava usar a serra elétrica.

    Daqui a pouco me chamam de psicopata hahaha!

    Bj! E ótima semana pra você também!

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  8. marlenesantana2@hotmail.com12 de abril de 2011 às 22:34

    Não sou nenhuma especialista no assunto, porém discordo dsa teses que lí. Acredito que a culpa~não esteja na Internet, nem nos jogos eletrônicos etc.Mas concordo que seja uma forma de aprimoramento de suas habilidades.
    Acredito sim, no fundamento do Livro da Bíblia Sagrada. Tudo que está acontecendo está escrito na bíblia, então não adianta ficarmos procurando culpados, se Deus disse que aconteceria todas essas coisas no final dos tempos. ENFIM, JESUS ESTÁ VOLTANDO! ACREDITEM SE QUISER.

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  9. Não sou nenhuma especialista no assunto, porém discordo dsa teses que lí. Acredito que a culpa~não esteja na Internet, nem nos jogos eletrônicos etc.Mas concordo que seja uma forma de aprimoramento de suas habilidades.
    Acredito sim, no fundamento do Livro da Bíblia Sagrada. Tudo que está acontecendo está escrito na bíblia, então não adianta ficarmos procurando culpados, se Deus disse que aconteceria todas essas coisas no final dos tempos. ENFIM, JESUS ESTÁ VOLTANDO! ACREDITEM SE QUISER.

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  10. Renan, eu fiz questão de enviar o link para você porque sei que videogame é MUITO do seu conhecimento e tema de trabalho e, claro, lazer também.

    Eu creio que muitas pessoas se preocupam mais com a chamada "transposição" do virtual para o real quando se fala em videogames, principalmente os violentos. Este livro da professora Lynn Alves é muito bom para se compreender essas questões sobre violência e games - e um aspecto do qual ela chama a atenção é a chamada "violência simbólica", ou seja, aquela violência que não é visível (como socos, pontapés, agressões físicas, etc) e sim aquela "invisível" e que causa um efeito devastador nas crianças e jovens que sofrem esse tipo de agressão.

    Bullying, chame do que for. Zoação, enfim, as raízes de um comportamento violento estão além de um simples jogo, seja ele sangrento ou violento em maior ou menor grau. Seria muito fácil atribuir aos jogos tamanha insensatez em atos como deste atirador. Lembra de "Tiros em Columbine", do Moore? E de como esse "disseca" bem esses mitos como videogames, Marilyn Manson estimuladores de atos com tamanha repercussão? Um cineasta tentou fazer algo parecido com aquele caso do ônibus 174 no Rio de Janeiro, com aquele rapaz Sandro - mas o diretor, ao meu ver, deveria ter buscado desde Gilberto Freire e até Lima Barreto com as crônicas cariocas para mostrar, de fato, como nossa sociedade vem deixando de lado aspectos outrora definidores do "jeito brasileiro de ser" para algo estranho à nossa formação.

    Ou então condenemos Goethe por sua obra "Os sofrimentos de Werther...

    Quanto ao jornalismo isso também ja foi tema de nossos debates...hahaha Mas que bom estar a ensinar o que realmente tem a ver com o jornalismo - mas sem esquecer ( os pés bem no chão) de que "o show tem que continuar", infelizmente tem que ser assim...

    Abração e obrigado por tirar um tempinho para enriquecer esta página! =)

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  11. Olá, moça de Cabo Frio!

    Ah, mas pode falar sobre a insensibilidade, sim. Eu insisto na questão do afeto, acho extremamente importante e não será a última vez que a citarei por aqui! rs

    É, outra boa lembrança, as frases do tipo "O sujeito não tem Deus no coração" pipocaram em todos os cantos. Claro, também não entro neste campo - afinal, trata-se de fé - mas é algo interessante de ser notado.

    Desse jeito eu estou ficando curioso pelo GTA...hahaha! Nunca joguei, sério. Em matéria de videogames, já fui um maníaco pelo bom e velho ATARI, depois vieram Street Fighter, Mortal Kombat e na sequência DOOM, QUAKE e HERETIC (clone "medieval" - em termos de cenário - do DOOM) e praticamente parei em FIFA e depois PES. Ando desatualizado hahaha

    Ah, e o "Jogo do Milhão", claro, e já ganhei 1 milhão. Pena que, neste caso, não aconteceu a transposição do virtual para o real! =D

    Bjks!

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  12. Lene, obrigado por sua visita e pelo comentário!

    Pois é, é um assunto - jogos eletrônicos e violência - que ainda divide opiniões. Eu apresentei duas teses bem diferentes de pessoas que se dedicaram a estudar o assunto com dedicação.

    E no geral o assunto violência abre o leque para várias abordagens, inclusive bíblica, citada por você.

    Abs! E obrigado! =)

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  13. Achei ridículas todas as tentativas de explicação dadas por jornalistas e "jornalistas"! O cara era doente, tinha problemas sérios na família e não era um psicopata. E se a escola estivesse trancada e armada até os dentes ele tinha dado outro jeito de cometer essa atrocidade.

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  14. Meu .. eses fatos não ten explicações .. simplismente não ten ...agora a tirinha tava muito engraçada rsrsrs
    Guia Comercial de Hortolandia

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  15. Obrigada pelas suas palavras lá no Inglês para crianças, estava mesmo precisando.

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  16. Alcione, calhou de ser um maluco armado que saiu atirando para todos os lados na escola. Podia ter sido num shopping ou mercado. Mas foi na escola porque às vezes é um espaço...cruel. Já escrevi outras vezes por aqui que já passou da hora de repensarmos esse espaço ( a escola).

    Abs! :)

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  17. hahaha! Ao menos a tirinha - ou charge, que é mais a minha área - tinha que ter algo pra aliviar, né, Hortolãndia? rs

    Abs!

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  18. Teacherzinha Michele, seu trabalho é fantástico! Eu é que agradeço a visita! =)

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  19. Oi Jaime, primeiro quero agradecer a visita e as belas palavras deixadas lá no blog.
    Acho que vc define muito bem o que tem acontecido a respeito do episódio na escola de Realengo... A mídia vai explorar o assunto até a última gota e isso é muito triste.
    Bom, querer explicar racionalmente uma atitude irracional é impossível, mas muito ainda vai ser falar sobre o assunto...
    Bom, adorei seu blog...
    Até breve...

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  20. Sou um assassino em potencial!!

    Como estive ausente da internet para matar umas pessoas, não tive muito tempo para analisar os especialistas que perderam anos de suas vidas para falar besteira no final, mas os poucos relatos que vi eram bem clichê.

    Também acho que a falta de afeto seja a base não só de um caso violento como esse, mas como o de outros problemas que muitas pessoas enfrentam. Posso citar as drogas. Acredito que se um sujeito tem uma boa estrutura familiar, ele está menos suscetível a se envolver com gente que vá oferecer alguma droga a ele, muito menos vai procurar um pouco de atenção que seus pais não lhe deram numa pedra de crack.

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  21. Perfeita colocação Jaime!

    Eu também cresci jogando jogos violentos,vendo filmes violentos,animes,jogo RPG e nada disso perverteu a minha mente.

    Tem que ver qual a real condição psíquica de quem pratica esses atos.

    Ah,sou a Ana Carolina,mas estou logada em outra conta!

    Beijocas!

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  22. E novamente o assunto vem à tona, em 2016, com uma declaração do ministro da Justiça! E a busca por bodes expiatórios é mesma.

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