A renúncia de Hosni Mubarak no Egito


Em algum lugar secreto nos Alpes Suíços uma reunião secreta acontece. Os donos do mundo, assumindo suas identidades secretas, marcaram este encontro para discutir a renúncia do ditador Hosni Mubarak, no Egito. Os nomes destes líderes são tão secretos que resolvi batizá-los sob a alcunha ( palavra secreta, procure no dicionário) de “Coiso”, em homenagem ao grande escritor e jornalista Fausto Wolff ( escreveu livros que permanecem secretos do grande público, apanhem suas lupas, Sherlocks!). Graças a uma câmera escondida, consegui gravar os principais trechos da conversa outrora secreta.

COISO 1: Senhores, lamento por chamá-los à pressas e sei que abandonaram seus afazeres, mas esta reunião foi convocada em caráter de emergência tendo em vista os graves acontecimentos no Egito.

COISO 2: Sim, e que hora mais imprópria, a festa do Berlusconi estava ótima! Digam o que quiserem dele, mas aquele italiano sabe como dar uma festa daquelas! Mas, de fato, estamos todos preocupados com o que aconteceu pelos lados do Egito. Não podemos deixar que uma revolução popular se torne um modelo para outros países.

COISO 3: Claro, temos que avaliar onde erramos, se é que erramos...

COISO 4: Isso não vai dar certo...

COISO 1: Bem, vamos lá, vamos primeiro averiguar os pontos positivos: enganamos todo o mundo direitinho por 30 anos, hein? Todos falando de Cuba, Coréia do Norte, aquele maluco da Venezuela e nisso tudo o nosso homem tranquilo lá no Egito, sem ninguém sequer mencioná-lo.

COISO2: Ele foi perfeito, deveríamos prestar-lhe uma homenagem, um prêmio, algo assim.

COISO 3: Não acho que mereça, afinal ele apenas executou nossas ordens e o nosso plano, que funcionou muito bem, aliás. Além disso, ele juntou um dinheirinho também. E, colegas, temos que admitir que fomos brilhantes: demos todo o suporte a uma ditadura sem que o mundo percebesse que aquilo era realmente uma ditadura. Falem a verdade, isso foi brilhante!

COISO 1: E nosso homem na Casa Branca também mostrou que sabe seguir nossas ordens: ele ficou caladinho esse tempo todo e reparem que ele só foi falar em “ditadura” quando não dava para segurar mais o Ramsés no poder.

COISO 4: Ramsés?

COISO 2: O código secreto de nosso homem no Egito... mas, sim, colegas, tivemos muitas vantagens, 30 anos de bons negócios na região apesar de um ou outro probleminha, mas voltemos à realidade...e vamos resolver isso rápido que ainda dá tempo de pegar a saideira lá do italiano!

COISO 1: Sim, temos sérios problemas a resolver. O principal: e agora? Como vai ficar a região? Temos que agir imediatamente para sufocar novos levantes populares entre os árabes contra nossos parceiros.

COISO 3: Eu tenho uma sugestão: que tal controlar o uso da internet? Digo, restringir mesmo.

COISO 4: Isso não vai dar certo...

COISO 2: Que nada, deixa a internet aí, é um brinquedo bacana para a galera se distrair. Pega um desses meninos gênios que tem por aí em qualquer país periférico, cria outra rede social e deixa lá pro pessoal postar fotos, vídeos e um monte de bobagem...

COISO 3: Bobagem? Graças ao twitter e ao Facebook o Egito derrubou nosso homem!

COISO 2: Hahaha! Até você acredita nisso, Coiso3? Sinal que nosso plano está indo muito bem, obrigado. Imagine se a internet vai derrubar um governo...

COISO 3: Mas ajuda, pô! Esse tipo de mídia de massa causa uma aceleração nos fatos, mais gente fica sabendo, se mobiliza, a informação tem poder. Eu acho que a internet é um problemão!

COISO 1: O que derruba governos e ditaduras é povo na rua e mobilizado. Bom, dizem que os egipcios passam fome, seja lá o que isso for, e isso contribuiu para a queda de nosso homem. Enfim, essas redes tiveram lá sua serventia para difundir a informação, mas quanto a isso podemos ficar tranquilos. Informação é poder, mas o que adianta se pouca gente sabe lidar com esse monte de informações que inunda a rede e os meios?

COISO 3: Vocês estão subestimando a internet e as redes sociais...

COISO 2: Quer um exemplo para entender? Olha o Brasil. O povo lá é viciado em rede social e o acesso à informação é crescente. E tá cheio de políticos corruptos. Tentaram tirar um velho amigo nosso do senado de lá dia desses e foi uma baita mobilização pelo twitter, milhares de pessoas on line apoiando o “movimento” e o que deu?

COISO 1: No Egito, o povo foi às ruas; no Brasil, aqueles que tem acesso à rede preferiram ficar no twitter digitando #forasarney. E proibir é até perigoso, pode ser um tiro no pé. Mas voltemos ao que interessa: impedir que isso que aconteceu no Egito espalhe pelos demais países, sobretudo por aqueles lados. Alguma sugestão?

COISO 3: Eu já dei minha ideia, controlar a internet...

COISO 2: Não devemos mudar nossa linha de ação. Vamos continuar apoiando esses governos e dando todo o apoio para o exército da região. Se precisar financiamos um grupo terrorista e eles tomam o poder e seguem nossas diretrizes. Isso funcionou muito bem antes, apesar de pequenos efeitos colaterais no Iraque e Afeganistão. E, claro, continuar com os nossos planos de ajustes econômicos nestes países todos, que são ótimos e mantemos tudo sob controle! Inclusive, nem precisamos controlar a internet, porque graças aos nossos planos de ajuste a educação serve apenas para o mínimo necessário com vistas a formar mão de obra barata e que saiba ler para operar máquinas. E aí damos ao país a falsa sensação de liberdade e autonomia, como sempre fizemos.

COISO 1: É, eu acho que devemos fazer assim mesmo. O que você acha, colega Coiso4?

COISO 4: Isso não vai dar certo...

8 comentários:

  1. Na política nossa campanha pelo fora Sarney precisava ganhar um significado mais abrangente. Não é só o fato de ele ficar no poder até ser mumificado. É também o tanto que os congressitas não estão nem aí como legislativo, uma vez que o sufragaram sabendo de todo o seu passado inglório. E no esporte também uma campanha para desfaraorizar a CBF, com um fora Ricardo Teixeira. Não somos feudos e nem Egito. Só que , como você disse, temos que ir além de ficar digitando Fora Sarney nas redes sociais.
    E, detalhe: antes que os Coisos resolvam agir por nós. rsrs.
    Abração, Jaime! Paz e bem.

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  2. Cacá, nosso caso do Sarney é bem mais simples do que a história do Mubarak Obama: bastaria não votar no Zé. Simples assim.

    Mas ainda nos falta certa maturidade política e noção do que seja cidadania, de fato. Enquanto isso, o "Coiso" continua por aí, babando e movendo seus tentáculos...adoro teorias conspiratórias, mas a "mão invisível do mercado" é rápida no gatilho! =D

    Abs!

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  3. É Jaime, de fato há muitas ferramentas para a luta, mas pouca mão de obra qualificada... rs No nosso país apesar do crescimento do acesso à informação já não sabemos reinvidicar direitos ou vigiar a política pública. Aliás, a palavra política ainda é palavra abominada e evitada em discussões entre os grupos. Mobilização chega a ser apenas palavra de ordem dos bichos-grilo universitários em busca do não aumento da tarifa de ônibus ou uma velha recordação já não vista. Os políticos já utilizam das redes sociais para o contato com eleitores - manifestantes virtuais.

    - - A rica leitura desse blog é uma rara exceção de instrumento de conscientização política hein? ;)

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  4. Olá, professor.

    Pois é, eu me perguntei justamente isso: mas esse cara estava no poder por 30 anos, nesse tempo todo as pessoas criticando outros ditadores e a ignorante aqui nem sabia que o Egito (a chamada jóia da coroa africana) vivia sob uma ditadura? Me senti a mais alienada das criaturas. Talvez seja.
    Mas quando eu vi toda a mobilização, a primeira coisa que me veio à cabeça foi o impeachment do Collor, os caras pintadas e... a globo exibindo Anos Rebeldes pra motivar a galere, claro. Pensei: será que por lá tbm não tem uma globo da vida influenciando as pessoas? Não sei, talvez sejamos mesmo macaquitos como dizem nossos "hermanos".


    bjohnny!

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  5. obrigadampelo comentário lá no Inglês para crianças! Seu blog é muito interessante: Crítica construtiva!

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  6. Jaime, muito bom o post! É uma reflexão e tanta... Gostei da parte que destaca o Brasil, em que ficamos digitando o dia inteiro, no comodismo... O pessoal vota com assiduidade no BBB, mas não tem a coragem de se manifestar...
    Hai ai... queria tanto que as boas coisas, NÃO OS COISOS, funcionassem aqui no Brasil...

    Abraço

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  7. Eu acho o brasileiro um povo muito "cordeirinho"...

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  8. Excelente abordagem, Jaime!
    Como a colega acima Silvana Persan, me peguei na ignorância de não saber que o ‘cara” estava no poder a TRINTA ANOS. Assim me pergunto se a imprensa de um modo geral (não todos, lógico!) só divulga o que é necessário a se fazer o sensacionalismo para controle da opinião pública e o “emburrecimento da massa”.

    Não desmereço totalmente as redes sociais, mas, realmente a maioria das pessoas não sabe usá-las para fins realmente interessantes ao coletivo, isso é uma verdade!
    Vemos muitas coisas inúteis, mas sempre tem alguém interessado em divulgar a realidade (como você, por exemplo) nisso eu vejo vantagem, nas postagens em blogs de opiniões livres sobre algo que pode ir abrindo a mente e crescendo à medida que vai se passando de pessoa para pessoa.

    Lógico, não se derruba uma ditadura somente em redes sociais, nisso concordo plenamente! Mas o brasileiro, em se tratando de política, é preguiçoso! Eu não sei o porquê, já que viemos de uma história de luta contra uma monarquia, uma ditadura, impeachment e agora plena liberdade de se votar em quem quiser. Estamos nos tornando um povo apolítico. O assunto política vem sendo totalmente negligenciado e a “tal liberdade” que achamos ter, passa a ser manipulada pela elite capitalista, política do Brasil.

    No fim de tudo, somos apenas números e estatística...

    Beijinhos e continue “abrindo” mentes! ;o)

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