Três notícias desagradáveis

(Charge velha, mas vale para ilustrar este texto. Clique na imagem para visualizar melhor)

Quando eu afirmei neste cada vez menos acessado blog que estava tentando investir no projeto estupidez eu falei sério. Porque a estupidez me livra da obrigação de ler jornais, acessar sites de notícias na internet e escrever algumas mal digitadas por aqui como uma espécie de “desabafo”. E até por coisas deste tipo que este “Grooeland” talvez tenha lá alguma vida útil, ainda.

Pois bem, três notícias nesta última semana me chamaram a atenção e certamente atraíram o seu interesse – assim espero. São notícias que demonstram bem como as coisas funcionam no Brasil.

A primeira notícia que chama a atenção é o reajuste do salário de nossos nobres parlamentares e ilustríssimo (a) presidente (a). A bolada no contra-cheque ( 61,8% de aumento) só mesmo a partir do dia 1º de Fevereiro. Ufa, ao menos nosso natal tá garantido, hein?

A segunda notícia está relacionada à primeiram de certa forma: em Salvador nossos incríveis vereadores aumentaram a verba de gabinete em 20%. Assim a prefeitura da cidade terá um gasto extra em 2011 de mais R$ 4 milhões para atender as necessidades de tão valorosa classe política que orgulha a todos os cidadãos. Tudo bem que os funcionários terceirizados das escolas não recebam há três meses, mas quem liga para esses pequenos detalhes?

E a terceira notícia provavelmente recebeu pouca atenção por parte do grande público, pois o assunto não desperta lá muito interesse: “Professor ganha 40% menos que a média de um trabalhador brasileiro com a mesma escolaridade”. Ora, mas ser professor é uma “missão”, um “sacerdócio” e mesmo um “ato de amor”. Logo, esse negócio de dinheiro não passa de mero capricho desta sociedade voltada para o consumo, certo, professor?

A pergunta que o Tiririca fez durante a campanha eleitoral – “Você sabe o que faz um deputado?” - é bastante interessante, não acham? E acho que agora o palhaço já tem uma boa ideia do que faz um deputado. Na verdade as atribuições de um deputado federal são diversas e importantes, desde aprovar o orçamento para saúde, educação, infra-estrutura e tantos outros setores a fiscalizar os atos do presidente da República. Um deputado estadual também desempenha(ria) funções relevantes, pois lida com os procedimentos legais que refletem – bem ou mal - no dia a dia dos cidadãos. Escolas e hospitais públicos, apenas para citar dois exemplos clássicos.

Mesmo com responsabilidades tão importantes, não consigo aceitar que um deputado federal ganhe a bagatela de R$ 26 mil mensais ( e as verbas de gabinete) enquanto um professor tenha que pular de escola em escola para tentar juntar uns caraminguás no final do mês.

Da mesma forma não consigo aceitar que reajustes salariais para professores sejam vetados ou votados com toda a má vontade do mundo por conta de “restrições orçamentárias”. Enquanto nossos nobres deputados votam o reajuste de seus salários ( incríveis 61% de aumento) rapidamente e praticamente por unanimidade, os professores precisam paralisar as atividades, negociar com o governo e, principalmente, enfrentar o descaso de nossos nobres parlamentares - estaduais e federais. E assim conseguir a categoria consegue, quem sabe, 4% de aumento dividido em duas vezes.

O senador Cristovam Buarque – que por vezes me soa um tanto oportunista no trato da educação, mas é tolerável pelo fato de manter o tema na pauta dos jornalões e no próprio Congresso – defende que o reajuste de 61,8% concedido aos deputados também seja concedido aos professores. Aí está um “efeito cascata” que eu gostaria de ver: reajustes de verdade para professores, médicos, policiais. Como isso não vai acontecer, escolha a desculpa:

- Nossos professores e policiais merecem todo o nosso respeito pela função que desempenham, mas estamos passando por restrições orçamentárias e...

- Infelizmente tivemos que cortar alguns recursos do orçamento de algumas pastas, mas vamos trabalhar para equilibrar os gastos...

Enquanto isso, a principal notícia – que eu ouvi em uma emissora de rádio - da Assembléia Legislativa da Bahia por estes dias foi que o retrato de um deputado já estava na galeria dos ex-presidentes da casa. Como em breve o reajuste para deputados também chegará por estes lados, é mais um motivo para que os eleitores baianos se orgulhem de nossa bela politicanalhice.

Eu no egocentrismo chamado twitter: www.twitter.com/jaimeguimaraess

10 comentários:

  1. Olha, é por isso que eu deixei de ser professora há um quarto de século. Na verdade, não foi só por isso. Foi porque além do salário desvalorizado, a profissão se desvalorizou e hoje o professor é desrespeitado. Esse desrepeito está em todos os níveis, do governo, que não dá condições nem salário; da comunidade, que acha que professor é um empregado dela; e dos próprios alunos em sala de aula, que frequentemente agridem os professores de forma verbal ou mesmo física.
    Acho que hoje no Brasil só é professor quem for um idealista sonhador sem os pés no chão ou quem é muuuuuiiiiiiiiiittttttooooo masoquista.

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  2. Entendo perfeitamente o seu formidável texto e adoraria assinar embaixo: afinal, sou professora aposentada do estado de São Paulo...rs... Seria cômico, Jaime, se não fosse trágico! Dediquei toda a minha vida ao ensino e, agora, aos sessenta e seis anos, vivo contando merrecas no final do mês, para pagar a farmácia...rs...
    Bem, gostei demais do seu espaço: sigo-o. Voltarei sempre!
    Forte abraço

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  3. Assim embaixo, meu anjo.
    E adorei o tom de seriadade do post.

    Um beijo. :)

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  4. Olá, professor!

    O mais ridículo de ter esses caras como legisladores é q certas pautas relativamente importantes não são votadas por falta de quórum, outras não passam por ser de autoria de deputados da oposição (ou da situação, caso a oposição tivesse maioria), mas para ganhar 80%, se não me engano, a mais q os parlamentares da terra da Dona Elizabeth não existe oposição (salvo os “numerosos” senadores do PSOL).

    Seu post me lembrou uma propaganda q o governo federal veiculou não faz muito tempo. Na peça, pessoas de alguns dos principais países "desenvolvidos" respondiam à pergunta "qual o profissional mais importante do seu país?" (ou coisa parecida) e todos respondiam que era o professor.
    O que o governo esqueceu de colocar na propaganda é que o respeito não passa apenas pela população desses países, mas também parte dos governantes (ou de parte deles).

    Não vejo o Cristovam Buarque como oportunista, já que ele deixa claro q seu papel é levantar a discussão (ganhando um bom salário, claro).

    bjohnny!

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  5. Que NOJO de tudo isso!!!

    Será que um dia vai mudar?
    Será que as pessoas um dia vão deixar de apenas falar que é uma vergonha e vão começar a agir?
    Tomara que sim!

    É por isso que eu não voto mais... não quero me sentir culpada!

    Beijos!!!

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  6. Pois é, se todos nós nos reunissemos para não votar em ninguém, o que aconteceria? Seria interessante, não?
    Mas ainda tem gente que avacalha, que acredita em papai noel e blá, blá, blá.
    Eu tou aqui, pertinho do GDF, esbabaca com a desigualdade social tamanha que existe nesse pedacinho de quadrado chamado DF... a charge ilustra PERFEITAMENTE.

    Feliz Natal, Feliz 2011. Muita farra nas festas! Muita alegria e a alma leve.

    =)

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  7. Olá, meu grande Jaime!
    Eu atualmente estou tendo enjoos todas as vezes que leio notícias assim. E o pior é que leio notícias todos os dias, ouço pelo rádio , vejo na televisão e na internet. Então, estou todo vomitado. Ontem, a despeito de não saber quanto ganha cada um dos milhões que estavam nas ruas, o clima era só de alegria (todo mundo só querendo comprar, comprar, comprar). Tudo bem, é legítimo. Só acho que poderia ser um pouco mais do que isso (até mesmo para poderam comprar mais). Um abraço e feliz natal, Jaime. Paz e bem.

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  8. É por tudo isso que admiro aqueles que escolheram ser professores. Porque apesar de tantas dificuldades e da falta de retorno financeiro, são pessoas que fazem a diferença no nosso país. Ser professor no Brasil hoje é acreditar no seu próprio poder de transformação, é acreditar que é possível formar cidadãos conscientes de seu papel, para que um dia o nosso povo não aceite mais barbaridades como essas de nossos políticos.
    Grande abraço, e muito sucesso sempre!

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  9. Um "emoticon" pode definir os meus sentimentos pelos políticos e seus eleitores:

    ¬¬


    Mas isso acontece porque o povo não reage, não protesta. Raramente vejo um protesto na TV que não tenha atos de vandalismo no final. E como os políticos sabem que o povo vai apenas reclamar, que a mídia vai xiar mas não vão fazer p.n., eles não estão nem aí pra opinião público e aumentam mesmo o salário deles e os serviços primários que se lixem afinal, eles podem pagar uma escola pública e uma clínica privada com o dinheiro dos impostos do povão trouxa. :D

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