"Voluntários" e soldados do exército em Santa Catarina roubam doações: fato isolado ou algo comum?

O vídeo que mostra alguns “voluntários” ( atenção: tomemos o cuidado para não rotular os voluntários que trabalham em Santa Catarina) e alguns soldados do exército simplesmente roubando roupas e mantimentos doados para as pessoas desabrigadas em Santa Catarina já está “rodando” pela internet e vem sendo destaque em algumas emissoras de TV.

Para quem ainda não viu:



É revoltante, é antiético, é desonesto e tudo o mais. Na verdade é apenas mais um pouco do tanto de aproveitadores que tentam se dar bem com uma tragédia ( leia também o post "Aproveitadores da Tragédia em Santa Catarina").

Mas estive por aqui refletindo: seria um fato isolado ou algo que já faz parte da vida de muitas pessoas?

- É proibido retornar aqui, olha a placa!
- Ah, ninguém tá vendo mesmo e o próximo retorno é lá na casa do chapéu!

- Ih, a moça do caixa deu troco a mais.
- Já era, problema dela.

- Ô, o final da fila é lá atrás!
- É só um minutinho, amigo, só vou perguntar uma coisa pra moça...

- ‘Bora ali na feira do rolo!
- Mas lá só tem coisa roubada!
- E daí?

- Pô, meu velho, não jogue a latinha no chão, não...
- Fique na sua, mermão...tu não é minha mãe!

- Deixa eu provar desse iogurte aqui...ahhh! É ruim! Credo!
- É, mas agora abriu e tem que levar.
- Que nada! É só fechar aqui, ó...pronto! Volta lá pro lugar, nem parece que mexeram.

- O farol tá queimado e o licenciamento tá atrasado.
- Olha, seu guarda, estou ciente disso e juro que vou resolver tudo...é que a situação ta difícil e tal...tem como liberar não, seu guarda?
- Bom, vê um agradozinho aí que a gente dá um jeito.

Pois é. No dia a dia vemos uma série de situações em que prevalece a famosa “Lei de Gérson”, onde o que importa é levar vantagem em tudo, seja lá de que jeito for. Mas isso não é novo no Brasil.

Desde as bajulações de Pero Vaz de Caminha a el-rei de Portugal na carta de "descobrimento" do Brasil, passando pela vinda (leia-se fuga) de D. João VI, com romances como “Memórias de um Sargento de Milícias” ( recomendadíssimo) retratando o cotidiano carioca e por contos de Machado de Assis e Lima Barreto (geniais), verificamos que o “arranjei-me” já está entranhado na formação do país.

É o “jeitinho brasileiro”, que Roberto Da Matta define: “nos países igualitários, não há muita discussão: ou se pode fazer ou não se pode. No Brasil, porém, entre o ‘pode’ e o ‘não pode’, encontramos um ‘jeito’. Na forma clássica do ‘jeitinho’, solicita-se precisamente isso: um jeitinho que possa conciliar todos os interesses, criando uma relação aceitável entre o solicitante, o funcionário-autoridade e a lei universal”.

Quem aqui já não utilizou um “jeitinho” diante de algumas situações onde não raro a burocracia impera?

O problema é quando esse já famoso jeitinho torna-se um hábito recorrente, passando a reger todas as situações. Como o jeitinho, o “aproveitar” já é comum em muitas pessoas e normalmente elas cometem desvios como esses em Santa Catarina. Talvez até tenham consciência de que estejam fazendo algo errado, mas a tentação em "aproveitar porque ninguém está vendo mesmo" é maior.

E daí para desvios maiores é uma tênue barreira. É do “jeitinho” ao “aproveitar”, do “aproveitar” ao “desvio”, do “desvio” à “fraude”, e por aí segue. Basicamente estas pessoas estão ao mesmo nível de políticos, empresários e especuladores que desviam milhares de reais dos cofres públicos.

A diferença, aí, é apenas na questão de valores (bens) e posição social.

Visite também: GROOELAND 2.0!

E, pra encerrar a semana...ele, RONALDO, O FENÔMENO...de marketing ( e que segundo fontes ligadas ao jornalismo esportivo, poderia ter ido pro Santos. O problema é que o time da Vila já tem a Baleia como mascote).

7 comentários:

  1. Geralmente a imprensa prefere superdimensionar notícias negativas e deixa os bons exemplos escondidos:

    Menina encontra R$ 20 mil em casaco doado a vítimas de enchentes em Santa Catarina

    Uma menina de cinco anos encontrou R$ 20 mil escondidos em um casaco recebido por sua família como doação, após perder tudo na região do Alto Baú, em Ilhota, no Vale do Itajaí, durante as enchentes que castigaram Santa Catarina. As informações são do portal 'Diário Catarinense'.

    O avô da menina, Daniel Manoel da Silva, 58 anos, foi atrás do doador, que é morador de Concórdia, município no Meio-Oeste catarinense, para devolver o dinheiro. "Se o dinheiro fosse entregue nas minhas mãos, teria aceitado com certeza, pois agora precisamos. Mas é uma questão de criação, fui educado assim e estou com a consciência limpa" afirmou Daniel ao 'Diário Catarinense'. Segundo o portal, ele recebeu R$ 1 mil pela honestidade.

    link: http://noticias.bol.uol.com.br/brasil/2008/12/17/ult5772u2231.jhtm

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  2. E o cara ainda fala na TV com a maior cara de pau que não tinha pego nada!!! AFF!!

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  3. Bom dia!

    Acho que seu blog é digno de receber um selo pela qualidade das postagens.

    Vá até o meu blog e pegue seu presente!

    Kiso
    =*

    http://garotapendurada.blogspot.com/

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  4. Groo.

    O que me impressiona é o tempo que demorou pra vazar o que aconteceu em SC (no vídeo).
    E, claro, não apenas lá.
    Isso, meu amigo, é o cotidiano. Aliás, como você pontua nos pequenos diálogos que postou.
    Uma pena, porque há tanta gente, (tanta gente) fazendo o que pode e, realmente, se esforçando para fazer, deste, um mundo mais digno.
    E, com mais civilidade e gentileza.
    Este, Groo, é um problema estrutural. Pensado e repensado, sim, por Roberto da Matta e pelos admiráveis e saudosos Florestan Fernandes e Darcy Ribeiro.
    Ainda acho que boa parte disso se resolveria na educação fundamental e em casa, com papai e mamãe.
    Escola e educação de berço.
    A questão é: como fazer isto acontecer hoje, neste mundo de valores invertidos e entupidos de sub-celebridrades desidratadas.

    Beijo meu.

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  5. Prontinho, agora estou com mais tempo e pude assistir ao vídeo e ler ao seu post com mais calma.

    Me desculpe a acidez, mas eu acho que as águas deveriam ter matado essa raça de aproveitadores. O povo que colonizou essas terras tupiniquins deixou o costume indecente de que "O que é que tem demais, todo mundo faz" ou "Ninguém está vendo".

    Para você ver que miserável mesmo, são as pessoas que tem uma boa casa apra morar e está bem de saúde, pois um desabrigado encontrou R$ 20.000,00 em um casaco doado e ainda assim devolveu o dinheiro, mesmo na situação em que ele se encontra.

    O que me conforta é que existe uma lei de retorno: tudo o que se planta é colhido depois, pode demorar, mas a pessoa recebe aquilo que ela merece, de acordo com suas escolhas.

    Eles vão receber o 'troco' do roubo, pode ter certeza disso!

    Kiso

    =*

    http://garotapendurada.blogspot.com

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  6. Mais uma demonstração de que quem mais deveria nos ajudar é o primeiro a nos roubar. Nem digo "decepcionar" porque não me decepxiono mais com o ser humano.

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  7. O fechamento das notas me afastou um pouco da leitura do Blog, mas estou de volta, os textos estão show de bola como sempre..........Ronaldo Fofômeno é de amargar hein, só quem torce para o "Curíntia" pra aguentar esse mala sem alça........hehehehe.........grande abraço Groo....

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