O descaso ambiental

Pelo menos 13 mil hectares (de um total de 152 mil ha) do Parque Nacional da Chapada Diamantina, na Bahia, já foram devastados pelo fogo, que castiga a região desde o início de outubro.

Duas aeronaves vão reforçar o trabalho de combate aos focos de incêndio na Chapada Diamantina, sobretudo na cidade de
Rio de Contas, onde existem pelo menos 30 locais atingidos pelo fogo.

Cerca de 350 brigadistas trabalham neste domingo (9) para tentar controlar os focos de incêndio que atingem a região da Chapada Diamantina, na Bahia.

O que parece ser uma notícia só, na verdade é o recorte de três: a primeira é de 2005, a segunda é de 2007 e a terceira é a mais recente, de 2008.

Mas o que chama a atenção é que, segundo o corpo de bombeiros, os focos de incêndio são comuns na Chapada Diamantina nesta época do ano por causa do calor.

Eu posso ser bastante ingênuo, mas não posso deixar de observar: se praticamente nos anos anteriores, na mesma época, ocorreram os mesmos incêndios e já sendo sabido que isso é comum, o que é feito, afinal, para prevenir que grandes áreas da Chapada sejam dizimadas pelo fogo todos os anos?

Para o chefe do Parque Nacional da Chapada Diamantina, Christian Berlinck, 95% do fogo que ocorre no local é criminoso. De fato, na página do IBAMA que traz as características do Parque da Chapada Diamantina, um dos problemas citados pela equipe do órgão governamental é justamente o incêndio. E a causa natural mais comum para o fogo na mata é a queda de raios. E não está chovendo.

Ora, se todos os anos, no mesmo período e no exato local acontecem os incêndios criminosos de sempre, o que está faltando?

César Gonçalves, analista ambiental do Parque, dá a resposta que talvez você já tenha imaginado:

A verdade é que a gente faz de conta que administra um parque nacional. Ou alguém em seu juízo normal pensa que uma área com 152 mil hectares, com mais de 100 famílias morando dentro, cercada por cinco cidades que, de alguma forma, dela se utilizam para atender a suas necessidades, pode ser administrada por cinco analistas ambientais e está tudo bem?

O descaso para as questões ambientais no Brasil é vergonhoso. Este humilde blog já tratou sobre o meio ambiente e de como o país faz muito pouco pela preservação destes biomas ( para saber mais, confira o post "e o nosso frágil planetinha"). Faz muito pouco e investe muito pouco em políticas referentes ao tema. Pouco mais de 0,5% do orçamento é destinado ao Ministério do Meio Ambiente para TODAS as atribuições, inclusive fiscalizar e aplicar a legislação prevista para quem comete crimes ambientais.


Com escassez de recursos, os órgãos ambientais tem que se virar como podem. O desmatamento na Amazônia prossegue em níveis espantosos. Entre Agosto de 2007 e Julho de 2008 foram 8,1 mil quilômetros quadrados de área desmatada na região. Além da falta de fiscalização e apoio disponível, há outros interesses em jogo.

Como falamos em Amazônia, tomemos a região como exemplo. A pecuária e as plantações de soja são apontadas como as maiores causas do desmatamento da floresta, bem mais que a extração de madeira da mata. A agropecuária, aliás, é um dos setores mais beneficiados na região. Só em créditos, o governo já liberou quase R$ 2 bilhões para os pecuaristas, por exemplo; em relação à soja as questões são bem mais sérias e o governo faz vistas grossas. Grandes multinacionais do agronegócio como Bunge Corporation e Cargill são acusadas de todos os tipos de violações não apenas ambientais,mas também aos direitos humanos, inclusive com trabalho escravo. Há uma relação de promiscuidade entre essas empresas e o governo, afinal o governo concede todo o tipo de licença ambiental e "deixa pra lá"uma série de irregularidades e as empresas dão uma forcinha na infra-estrutura, construindo estradas, por exemplo. Em nome do progresso justificam-se todos os fins. Desde a derrubada de grandes hectares de floresta a expulsão de comunidades índigenas.

Não foi à toa, então, que o presidente Lula tenha dito que ambientalistas e índios constituem-se em entraves para o desenvolvimento.

E NÓS COM TUDO ISSO?

Se o governo não faz ou faz muito pouco pelo meio ambiente, provavelmente nós também não fazemos muito. E muitas vezes agredimos o meio ambiente sem nem perceber isso. Quer um exemplo? Seu celular. Este mesmo que você comprou há uns 4 meses e já quer trocar no natal por um "mais moderno". Qual o detino deste seu celular "velho"?

E aquelas sacolinhas plásticas que você pega aos montes no supermercado ou na quitandinha da esquina? Aliás, você já parou pra pensar que tem muito plástico por aí? Estas sacolinhas de plástico demoram pelo menos 300 anos para se decompor e desaparecer. Agora imagine o que são 1 bilhão de sacolinhas por mês distribuídas nos supermercados?

Vivemos em uma sociedade que preza o consumo excessivo e exibicionista, sobretudo. Você só é alguém "descolado e esperto" se tem o carro novo, o celular novo, tudo novo. Segundo relatório da organização WWF-Brasil, se os atuais padrões de consumo continuarem, em 2030 precisaremos de dois planetas para manter tais padrões. Portanto, reduzir esse consumismo desenfreado é uma das primeiras tarefas.

Mas, para variar, algumas empresas já tentam faturar em cima da "onda verde" ou "ecologicamente correta" com a venda de produtos "naturais, recicláveis e que não agridem o meio-ambiente". Há boas opções mas em boa parte não passam de produtos para exibicionismo típico de madame que adora mostrar "estar preocupada com o planeta".

Não precisa cair nessas armadilhas da "onda verde", virar um "ecochato" ou um 'bicho-grilo" para contribuir com o meio ambiente. Só precisa adotar alguns hábitos simples como usar pilhas recarregáveis pro seu MP3, por exemplo; você gosta de cantar "Stairway to Heaven" ou todos os clássicos da MPB debaixo do chuveiro? Escolha uma música de menor duração. Não precisa tomar "banho de gato", mas também não vá ficar mais do que 10 minutos com o chuveirão despejando em média 270 litros de água no ralo. Vai escovar os dentes? Ótimo. Mas enquanto escova, feche a torneira. Um minuto de torneira aberta consome 2,5 litros de água.

Estas medidas podem parecer pouca coisa, mas ajudam. Temos que cobrar dos governantes políticas ambientais bem mais efetivas do que as atuais ( adoraria ir e voltar do trabalho de bicicleta em uma ciclovia, por exemplo), mas é preciso que façamos nossa parte também.

Como muitos voluntários fizeram e fazem na Chapada Diamantina.

LINKS DIVERSOS - Abaixo relaciono alguns links interessantes com "dicas", sugestões, artigos e sites que trazem diversas informações a respeito do meio ambiente e de como podemos fazer um pouco, que seja, para melhorar as coisas em nosso sofrido e detonado planetinha.

http://www.wwf.org.br/participe/acao/dicas/index.cfm - dicas: como você pode ajudar o meio ambiente.
http://www.akatu.org.br/consumo_consciente/dicas - dicas e sugestões de consumo consciente;
http://www.terra.com.br/noticias/especial/pilha.html - notícia: “pilhas e baterias usadas devem retornar a fabricantes”;

http://www.maisnoticias.inf.br/ecomais_noticias/index.php?cn_id=23 – pequenas atitudes que ajudam o planeta;

http://oglobo.globo.com/blogs/nossoplaneta/post.asp?cod_post=98886 – artigo: consumo + sustentável = planeta – detonado;

http://www.reporterbrasil.com.br/exibe.php?id=853 - artigo: “o meio ambiente pede socorro”;

http://planetasustentavel.abril.uol.com.br/home/ - site com muitas informações sobre o meio ambiente e sustentabilidade;

http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/gaiatos/ - mitos e vícios modernos em relação ao meio ambiente;

http://www.tvcultura.com.br/reportereco/artigo.asp?artigoid=19 - artigo: “consumo exagerado (Washington Novaes);

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ambiente/ult10007u464978.shtml - algumas sugestões para o meio ambiente em sua casa;

http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/ambiente/conteudo_280969.shtml - outro excelente artigo de Washington Novaes;

http://www.tvcultura.com.br/reportereco/artigo.asp?artigoid=27 – novamente um artigo de Washington Novaes desta vez sobre o desmatamento da Amazônia.

Tem pra todo o gosto. Divirta-se e procure aplicar algo.

4 comentários:

  1. Acho que é uma péssima mania ficar sempre pondo a culpa no governo por tudo. Será que ninguém lembra que é a ação humana que destrói os ecossistemas?
    Ficam esperando só uma solução do governo, enquanto os outros milhões de brasileiros cruzam o braço vendo o circo pegar fogo.
    Argh!

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  2. Olá, Nobreza!
    Obrigada pelo seu comentário em meu blog. Fantástica a colocação.
    Gostei muito de conhecê-lo aqui.
    Beijinhos

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  3. Mais uma vez a Escola tem papel fundamental, muitas Intituições de Ensino não dão a mínima para a questão da preservação do Meio Ambiente e reciclagem de materiais, temos que realmente fazer a nossa parte, e Eu me incluo nisso pois muitas vezes não cumpro ações simples que com certeza iriam contribuir muito para desafogar a grande carga de lixo e desperdício que assolam as grandes cidades, no meu caso, São Paulo, que sofre horrores com esse tipo de comportamento essencialmente consumista e exibicionista. Groo, eu assino embaixo mais uma vez seu texto bem redigido, porém no meu íntimo eu não acredito muito que o Planeta aguente mais do que uns 30 anos, esses trinta anos na minha opinião são até bem otimistas, há toda uma conjuntura política que não dará margem para a questão ambiental, comecei otimista e terminei pessimista, creio ser a imagem fiel da incerteza que paira sobre a humanidade..........grande abraço

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  4. A questão ambiental está diretamente ligada à educação, deveria constar como matéria no currículo escolar.
    Quanto às providências governamentais, elas serão sempre tomadas no próximo ano....

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